VILA VIÇOSA E A “GRIPE
ESPANHOLA”
Precisamente há cento e um anos atrás, Vila Viçosa foi
assolada por um trágico acontecimento, provavelmente desconhecido para a
maioria dos atuais Calipolenses.
Em meados de Maio de 1918, é identificado em Vila
Viçosa o primeiro caso no nosso país da Gripe Espanhola, designação vulgarmente
atribuída à Gripe Pneumónica.
O vírus foi trazido para o concelho de Vila Viçosa,
precisamente de Espanha, por trabalhadores rurais que faziam na altura
campanhas agrícolas em Badajoz e Olivença. A pandemia ficou por isso também
conhecida como a “Senhora Espanhola”.
Este fenómeno veio de certa forma reavivar o velho
ditado que afirmava que de Espanha, “nem bom vento, nem bom casamento”, numa
velha alusão ao vento suão e aos casamentos reais.
O primeiro caso registado da doença em Portugal foi
precisamente aqui. O regresso a casa desses trabalhadores sazonais calipolenses
foi determinante para a expansão da doença. A freguesia de Ciladas/São Romão
foi a mais afetada pelo vírus, que devastou dezenas de vidas.
Um notável médico calipolense, João Augusto do Couto
Jardim, foi um lutador incansável contra a doença, prestando apoio médico às
vítimas de forma incondicional e gratuita. Para acudir aos doentes de São
Romão, fez vezes sem conta o caminho para a freguesia (que dista onze
quilómetros da sede do concelho) a pé, de burro ou em carro de mula.
A partir de Vila Viçosa, verificou-se uma disseminação
rápida da doença. As precárias condições de vida que afetavam a maioria da
população, a generalizada ausência de condições de higiene, a insuficiência dos
serviços de saúde, a falta de médicos e a falta de medicamentos foram os
fatores que contribuíram para a propagação da Gripe Espanhola por todo o país.
Curiosamente, os casos mais graves e mortais foram sobretudo na população
jovem. Os principais sintomas eram as manchas castanhas no corpo e a pele em
tons azulados, juntamente com as febres altas e as dificuldades respiratórias.
Existem no entanto várias dúvidas sobre a verdadeira
proveniência geográfica do vírus. Com provável origem na Ásia, os primeiros
casos na Europa são identificados nas tropas francesas em 1918, no decurso da I
Guerra Mundial, eventualmente contaminados por auxiliares chineses contratados
para apoio aos Aliados. Uma outra teoria defende que o vírus terá começado nos
Estados Unidos e fora trazido pelas tropas americanas para a Europa, no decurso
do conflito.
No total, registaram-se 40 milhões de mortes em todo o
mundo, das quais entre 50 mil a 70 mil em Portugal.
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