quarta-feira, 29 de maio de 2019

DUQUES E CENAS (PARTE I) - Rubrica do Prof J.L.N.

                         (Ainda não) é a hora
Nem sempre estamos preparados para escrever sobre determinados temas. Nem sempre temos uma visão clara das várias possibilidades de interpretação dos acontecimentos que nos caem em cima todos os dias. Nem sempre queremos ver o lado da razão. A voragem do tempo (onde é que eu já li isto?) deixa-nos cegos, porque a velocidade com que somos obrigados a reagir nem sempre nos deixa pensar nas palavras certas para nos sentirmos, nós próprios, esclarecidos sobre aquilo de que temos dúvidas. Mas não é por isso que muitos dos nossos concidadãos se coíbem de espalhar aos quatro ventos a sua opinião. E têm-na sobre todos os temas, desde o futebol ao fado, da religião às culturas forrageiras, do fenómeno Osiriano à forma como se devem comer uvas sem bagas ou mesmo pastéis de Belém com dois pufes de canela.
Eu, cá por mim, sempre gostei de dar a minha opinião e, por vezes, devo assumi-lo, falo até sobre coisas que não são a minha praia. Contudo, fico sempre a saber mais quando me engano, quando exagero nos comentários, quando não consigo convencer muitos de que tenho alguma dose de razão ao dizer o que esses não gostam de ouvir, sobretudo se ocupam cargos públicos, dos quais dependem o nosso bem-estar e o nosso futuro. E quando afirmo que Montemor está a viver uma das piores fases das últimas décadas em termos de imagem e de organização de alguns serviços públicos, acabo sempre por receber alguns esclarecimentos, nem sempre isentos partidariamente, e nem sempre dirigidos aos factos que aponto ou descrevo. Porque há que defender a todo o custo os erros que dão trabalho a corrigir. E porque, no palco da política, os actores procuram sempre, como é óbvio, que o público não se aperceba dos movimentos nos bastidores.
Foi muito falado na altura, há menos de um mês, o célebre almoço oferecido pela autarquia aos seus trabalhadores, no dia 24 de Abril, como celebração do dia seguinte, que marcava os 45 anos daquela revolução que me permite escrever estas coisas. Levantaram-se vozes críticas, e, na minha opinião, certeiras, quando se verificou o transtorno que tal almoço veio provocar na dinâmica de determinados serviços relacionados com algumas escolas do concelho. Ainda que uma verdade indesmentível, não houve por parte dos responsáveis, pelo menos que eu tenha sabido, uma justificação cabal e lógica para tal procedimento. Almoço merecido, sem dúvida. Mas no momento errado. Por isso, deverá haver a necessária abertura e a humildade correspondente para a sua correcção em momentos futuros. Nada mais simples.

Continua a ser um verdadeiro calcanhar de Aquiles a obra que envolve o Jardim, a Rua 5 de Outubro, a Rua das Escadinhas, o Largo da República e a Rua de Avis. Os políticos passam por lá com frequência, em passeio ou em funções, e apercebem-se, tanto quanto os moradores e comerciantes daquelas zonas, da situação caótica em que todos se viram mergulhados, com ruas esburacadas, inundadas com as águas da chuva, ficando os transeuntes e os que ali vivem e trabalham num verdadeiro estado de nervos. Podemos reclamar, naturalmente que sim, marcar bem o nosso desagrado, publicar petardos nas redes sociais, mas temos de ser rigorosos, lógicos e intelectualmente honestos. Por muito que todos tenham razão, a autarquia e os responsáveis que lá vivem não têm, na minha opinião, de ser responsabilizados pela chuva, pela lama, pelo pó, pelos buracos ou pela aparente demora das obras. Para que toda aquela zona tenha um novo aspecto, provavelmente mais prático e esteticamente mais agradável, todo este movimento inestético, abusivo e prejudicial às nossas rotinas e ao sustento de alguns de nós é necessário e indispensável.
João Luís Nabo
In O Montemorense, Maio 2019
(2ª parte amanhã)

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