MARIA HELENA FIGUEIREDO
Um quase número de circo
Assistimos a semana passada a uma encenação política eficaz, quase
um número de circo.
Imagine-se um
trapézio, sem rede, e os trapezistas a ensaiar o voo mortal. Os trapezistas ora
se encontram ora se desencontram, preparando o momento em que um deles se laça
em voo e outro o agarra. Às vezes corre mal e é a morte do artista.
Esta semana foi
mais ou menos isso que aconteceu com o projecto de lei para a recuperação
integral do tempo de serviço dos professores.
De um lado,
António Costa no seu trapézio, do outro o CDS e PSD, prontos a lançar-se em
voo, esperando recolher a ovação e os votos dos professores. Esqueceram-se foi
de ver se haveria rede ou se o parceiro não tinha as mãos escorregadias.
O processo de
recuperação integral do tempo de serviço dos professores não é novo e Bloco de
Esquerda e PCP sempre tiveram posições coerentes em sua defesa.
Já em Dezembro de
2017 a Assembleia da República tinha aprovado com os votos do Bloco de
Esquerda, PCP, Verdes e o PS uma recomendação para que o Governo negociasse com
os sindicatos a contagem de todo o tempo de serviço para progressão na carreira
e valorização remuneratória. Os Orçamentos de Estado para 2018 e 2019,
aprovados pelo Partido Socialista, Bloco de Esquerda, PCP e PEV consagraram
igualmente esse princípio.
Foi isso que
aconteceu aos trabalhadores das carreiras gerais que viram o tempo de serviço
que tinha sido congelado pelo Governo do CDS e do PSD contar para progressões
futuras.
Os trabalhadores das carreiras especiais não tiveram igual tratamento. E relativamente aos professores dos 9 anos, 4 meses e 2 dias em que o tempo de serviço esteve congelado, o Governo recusou-se a considerar na negociação cerca de 6 anos de trabalho e reconheceu apenas 2 anos, 9 meses e 18 dias, o que, sublinhe-se, para além de injusto, não respeita as Leis do Orçamento.
Os trabalhadores das carreiras especiais não tiveram igual tratamento. E relativamente aos professores dos 9 anos, 4 meses e 2 dias em que o tempo de serviço esteve congelado, o Governo recusou-se a considerar na negociação cerca de 6 anos de trabalho e reconheceu apenas 2 anos, 9 meses e 18 dias, o que, sublinhe-se, para além de injusto, não respeita as Leis do Orçamento.
Ora, a Assembleia
da República chamou a si o diploma do Governo e na semana passada, PSD e CDS,
resolveram fazer o pino e de grandes defensores da austeridade passaram a
defensores da recuperação de rendimentos.
E assim em
Comissão, não ainda em Plenário, foi aprovada, por todos os partidos, excepto o
Partido Socialista, a recuperação integral do tempo de serviço dos professores,
ainda que de forma faseada e sem impacto imediato no orçamento.
Os impactos futuros esses deverão ser
negociados, numa solução idêntica à que o Partido Socialista dos Açores já
aprovou para os professores da região.
Só que o Governo
que tinha começado a dramatização com o Ministro Centeno a apontar impactos orçamentais
exagerados recuperação do tempo de serviço, com um afã como não lhe vimos
quando o Novo Banco pediu mais 450 milhões de euros, acabou com António Costa a
ameaçar demissão do Governo se Assembleia da República aprovar a recuperação
integral do tempo de serviço.
Uma demissão que
a 4 ou 5 meses de eleições legislativas não terá impacto efectivo na governação
e que por isso mesmo não se justificaria e a generalidade das pessoas não
percebe.
Mas em
contrapartida, mesmo sendo só uma ameaça, tem um efeito eleitoral assinalável,
para um PS que quer ter uma maioria absoluta.
A 3 semanas das
eleições europeias e quando as sondagens a serem-lhe cada vez mais
desfavoráveis, Costa cria uma crise governativa e responsabiliza o PSD e o CDS,
recentrando e capitalizando a seu favor o descontentamento de parte do
eleitorado destes partidos quanto à posição tomada. De quebra aponta também
“irresponsabilidade” no aumento da despesa pública.
Apanhados em
contramão, Cristas já veio dizer que quer nova votação em Comissão e Rui Rio
que quer estabelecer condições que tornam impossível a recuperação efectiva do
tempo congelado aos professores.
E se é certo que
qualquer que seja a posição que venham agora a tomar, CDS e PSD mostraram já
que apoiaram as reivindicações dos professores apenas para retirar dividendos
políticos, fazem-nos lembrar que os trapezistas imprevidentes acabam por ter
quedas fatais.
Até para a
semana!
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