JOSÉ POLICARPO
Um portugalito
Após o interregno motivado pela campanha eleitoral das eleições
para o parlamento europeu, cá estou eu de regresso às minhas crónicas de
opinião na rádio diana. É um exercício que muito prazer me dá, desculpem o
desabafo, mas às vezes temo em ser repetitivo e maçador.
A abstenção
verificada nas eleições de domingo, salvo o erro, foi a mais alta verificada
nosso país em todos os atos eleitorais, do pós-25 de abril. O presidente da
república já temia que assim fosse, por isso, teve a necessidade de fazer o
alerta. Mesmo assim, a maioria dos portugueses deram tanta importância a isso
como um lambão dá aos produtos ligth. Nenhuma, portanto.
Na verdade, penso
que, até, conceptualmente, aceite pela maioria dos cultores e doutores da
ciência politica, o ato mais importante nas democracias representativas é o
sufrágio. Com efeito, num país democrático em que a larguíssima maioria do seu
povo se abstém de ir votar, poderá, até, se fazer muitas leituras, mas há uma
que não poderá deixar de ser realizada: não interiorizou os poderes/deveres que
lhe são dados pelo regime democrático.
Ao contrário
daquilo que alegadamente as pessoas percecionam, sobretudo a grande maioria dos
portugueses, embora a democracia confira muitos direitos, não confere menos
deveres. A liberdade como direito fundamental em democracia não significa que
cada um possa fazer o que lhe vem à cabeça, pois, como é evidente, isso geraria
o caos na vida em comunidade.
Ora, a abstenção
não poderá ser lida só como um voto de protesto e de descontentamento para com
a situação atual. Porque, a não ida às urnas poderá ser motivada por muitas
razões: a doença, o trabalho, um imprevisto de última hora, a preguiça, o
esquecimento, enfim poderia aqui desfiar um ror de causas. Por isso, os
descontentes só o podem fazer através do voto em branco. Se assim não o fizerem
arriscam-se a que não sejam levados totalmente a sério.
Por último, dizer
que a democracia é um exercício diário de cidadania, não se resume na ida às
urnas de quatro em quatro anos, ou, de cinco em cinco anos, por que se estão
convencidos, os que estão, a história, a isso, nos ensina que não. Os
populistas, sempre encontraram terreno fértil para se instalarem quando os cidadãos
se alheiam de exercer os seus direito/deveres. Votar, antes de ser um direito,
é um dever de cidadania. Quem não entender isto, viverá, erradamente, em
democracia.
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