EDUARDO LUCIANO
Afinal não passaram
As eleições gerais espanholas, cujo resultado se saldou por uma
derrota das forças da direita mais ou menos neo franquista, deram nos últimos
dias o mote para a discussão sobre o real significado do crescimento dos
fascismos de diversas matizes.
Afinal estão a
crescer ou apenas a ter mais visibilidade? Os apoiantes do VOX descobriram
agora as virtudes do sanguinário Francisco Franco ou apenas ganharam coragem
para deixar de se fingir democratas debaixo da capa do PP?
Talvez olhando
para as declarações de um dirigente do CDS, que afirmou que o VOX não era de
extrema-direita e tinha mesmo lugar na sua família política, se elegesse
deputados para o Parlamento Europeu, se consiga perceber melhor o fenómeno de
visibilidade de ideias fascistas com a mal disfarçada simpatia da comunicação
social dominante.
Claro que não
podemos ignorar as diversas razões e circunstâncias que levam gente insuspeita
de repente a votar em partidos e dirigentes políticos neo fascistas, mas em
Portugal e Espanha os novos fenómenos de visibilidade desta gente tem a ver com
o facto de se sentirem hoje mais confortáveis a defender ideias que julgávamos
mortas e enterradas.
O dirigente de um
partido fascista que se tenta legalizar recorrendo às assinaturas de crianças e
falecidos não tinha essa as mesmas ideias quando foi candidato pelo PSD à
Câmara de Loures? Terá adormecido social-democrata e acordado salazarista?
Se Nuno Melo
abandonar o bem comportado CDS para fundar uma coisa parecida com o VOX ou se
se juntar ao Ventura significa que de repente se encantou pelas virtudes da
extrema-direita ou já lá estava e apenas despiu o casaquinho democrático?
Foi noticiado que
Portugal era uma dos quatro países europeus onde a extrema-direita não tinha
assento parlamentar. Será? Se o Ventura, em vez de vereador na Câmara de Loures
fosse deputado na Assembleia da República poderíamos continuar a afirmar que a
extrema-direita não tinha representantes no parlamento?
O problema não é
este sair do armário de alguns, mas a divulgação permanente de ideais e
práticas fascistas em programas televisivos, que depois são replicados nas
redes sociais que vai engrossando o exército dos que acham que há deputados a
mais, democracia a mais e eleitos locais a mais, dos que acham que a justiça
deve funcionar à velocidade da luz e que os julgamentos deveriam ser realizados
em programas televisivos com a condenação garantida e a pena de morte aplicada
na manhã seguinte.
Em Espanha no
domingo não passaram, mas percebo como isto está a ficar estranho quando
franquistas perdem a vergonha e se assumem orgulhosamente como tal e eu
apanho-me a sentir algum alívio com a vitória do PSOE.
O que já não me
causa estranheza é que enquanto a CGTP assume a defesa do aumento dos salários
e da revisão das leis laborais, o secretário-geral da UGT resolveu colocar o
acento tónico do seu discurso no 1.º de Maio no ataque à CGTP e no apelo ao
patronato para que defenda o “sindicalismo responsável” (leia-se sindicatos filiados
na UGT). Eu diria que o apelo é escusado tendo em conta a origem da criação da
UGT.
Até para a semana
Sem comentários:
Enviar um comentário