CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
Não, não é normal
Não sei se alguém já alguma vez vos pediu que metessem uma cunha
para que fulano, que conhecem vagamente mas é sobrinho da prima do vizinho
impecável, fosse desempenhar uma determinada função; e que o fulano tivesse
conseguido por isso o cargo e tenha sido altamente incompetente e incapaz. Deve
ser uma vergonha… para quem meteu a cunha. Mas há quem ache normal estas cunhas
e anormal quem não lhes ceda e não ache que, ser aquela pessoa a quem se mete
cunhas, é crescer alguns centímetros.
Pois é, as
relações entre membros da mesma família no mesmo Governo não é normal, mas
também não devia ser tema da conversa que para aí vai só porque sim. Elas, de
facto, são também sinal de fechamento de certos grupos em determinadas funções,
para além de serem resultado de crescer com interesses e conversas à mesa em
comum. E dos cargos políticos em equipa terem de estar assentes em relações de
uma confiança que só imagino que deva existir equiparável quando nos metemos
nas mãos de um cirurgião.
Essas relações
que existem em todos, repito, todos os Partidos, estendem-se a autarquias, mas
também, por exemplo, a universidades (a famosa endogamia que compete com as
chamadas “formações de aviário” e que acabam por desvalorizar as próprias
instituições, independentemente do mérito de quem nelas corresponda a esse
perfil), quando se tornam tão visíveis como agora, só terão, atrevo-me a
alvitrar, solução compósita e de frentes várias e simultâneas: que os estranhos
à família estejam particularmente atentos para que a relação familiar não seja
prejudicial ao resultado do desempenho definido para a função; que se constituam
mecanismos dentro das organizações em que o mérito seja previamente
escrutinado, no caso de cargos por eleição, antes de os familiares se
constituírem como única solução ou opção; e que ao mínimo deslize de alguém que
esteja nessas condições se exonere a pessoa e que quem a substitua não possa
estar nessa mesma condição. Obviamente que isto é ilegislável, mas assim como
nada há a proibir a situação presente, estes termos seriam uma boa referência.
E a Comunicação Social poderia, então, aprofundar muito mais os casos que deram
para o torto, do que andar só a soprar a espuma dos dias para nos dar matéria
para umas piadas, algumas bem divertidas, diga-se. São casos não normais,
merecem mais atenção do que só serem faits-divers, que é o que vai acontecer
quando, e se, se abrir mesmo este assunto assim transformado em Caixa de
Pandora.
Quando me
convidaram para um dos alguns cargos políticos que já exerci e o comuniquei
passadas umas semanas a uma pessoa próxima da parte da minha família que sempre
teve membros politicamente ativos desde há quase 100 anos, essa pessoa
perguntou-me quem tinha dito a quem me convidou de que família eu era. A
expressão da pessoa, por amizade estou em crer, quando lhe respondi que essa
pessoa ainda não sabia, foi quase de desilusão. É o que temos, e não, não me
parece que deva ser normal.
Até para a
semana.
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