MARIA HELENA FIGUEIREDO
Alqueva – um sonho à beira de
se transformar em pesadelo
Quando o Alqueva foi sonhado, com o sonho da água vinha o de um
vasto território que poderia agora desenvolver uma agricultura sustentável,
diversificada. Uma agricultura que trouxesse riqueza e trabalho ao povo
alentejano.
Várias décadas
sobre o sonho e mais de 2 mil e quinhentos milhões de euros de investimento
público, o sonho de o Alentejo ter novos campos de regadio pode ter-se
cumprido, mas quanto à criação da riqueza, ela existe de facto, mas vai
direitinha para os bolsos de grandes empresas multinacionais e de alguns
especuladores.
Não são os
trabalhadores alentejanos que estão a ganhar com a “nova agricultura” porque a
actividade agrícola assente nas monoculturas de olival e amendoal intensivos e
superintensivos, altamente mecanizada, pouca mão de obra local emprega. E os
trabalhadores, quando necessários, vêm de outras paragens, às vezes mão-de-obra
quase escrava.
O Alqueva
transformou em regadio mais de 120.000 hectares de terra, mas o olival
intensivo e superintensivo já ocupa 59% desta área e o amendoal superintensivo,
cerca de 10%. Ou seja 70% está já em monocultura, com sérios danos ambientais e
que, para além de tudo o mais, afecta a maior riqueza que temos, a terra.
E por isso não se
compreende como é que tal intervenção num território, que lhe alterou
significativamente a paisagem e causa tantos impactos negativos, não esteja
submetida a nenhuma avaliação, regulamentação ou licenciamento pelas
autoridades competentes.
Há olivais e
amendoais superintensivos instalados junto a habitações, a escolas, a recintos
desportivos . As pulverizações com fitofármacos são intensas e muitas vezes
aéreas, que afectam as populações.
Como é possível
admitir que uma qualquer multinacional, chegue ao Alentejo e instale 1000 ou
mais hectares de olival ou amendoal superintensivo sem uma avaliação de impacto
ambiental, quando utiliza recursos hídricos 7 ou 8 vezes mais água que as
culturas tradicionais, tão importantes e que impõem enormes investimentos
públicos nas infraestruturas e sua manutenção.
Quem avalia a destruição
das galerias ripícolas, com a construção de redes de drenagem artificia? A
apanha nocturna de azeitona tem dizimado milhões de aves migratórias. Espera-se
o quê para pôr fim a esta prática?
Como é possível
que ninguém avalie a contaminação dos recursos hídricos que ocorre pelo uso
intensivo de fitofármacos, nem os impactos na saúde das populações?
Qual o impacto
destes milhares de hectares em contínuo da mesma espécie na biodiversidade e
qual o resultado da destruição dos matos e eliminação de habitats?
É um facto que
devido à preparação do solo com despedregas, terraplanagens e instalação de
sistemas de rega e de drenagem artificiais estas culturas superintensivas são
verdadeiras ameaças aos solos com uma acelerada erosão, com a perda de perda de
matéria orgânica e nutrientes, e sobretudo com a sua salinização e sodificação.
Ou seja, um dia a terra ficará salgada e nenhuma planta lá nascerá, como
aconteceu já noutros países.
O Bloco de
Esquerda apresentou já um projecto de regulamentação das monoculturas , um
projecto que impõe um travão à plantação de novas extensões de monoculturas,
até que o Governo estude e regulamente esta actividade e impõe a
obrigatoriedade de avaliação de impacto ambiental para as plantações em grandes
áreas.
É um projecto que
aponta o estabelecimento de áreas máximas de ocupação por concelho, para que
não haja concelhos, como acontece actualmente, em que 2/3 da sua área de
regadio está já coberta por estas culturas e as submeta a licenciamento. Um
projecto que impõe boas práticas, estabelece limites máximos de consumos de
água e fitofármacos, que salvaguarda a biodiversidade e proíbe a apanha
nocturna.
Um projecto para
proteger as pessoas e a saúde pública desta desenfreada corrida ao lucro
rápido, proibindo que haja plantações junto a populações, e estabelecendo zonas
ecológicas de protecção entre as habitações e as áreas cultivadas,
disciplinando a aplicação de fitofármacos.
Esperemos que o
Parlamento saiba responder às preocupações dos cidadãos e não se vergue aos
interesses de uns quantos, porque o único argumento a favor destas monoculturas
é de facto o aumento da produção e do lucro.
Até para a
semana!
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