terça-feira, 30 de abril de 2019

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA ONTEM NA DIANA/FM


                                                                                  MARIA HELENA FIGUEIREDO
Alqueva – um sonho à beira de se transformar em pesadelo
Quando o Alqueva foi sonhado, com o sonho da água vinha o de um vasto território que poderia agora desenvolver uma agricultura sustentável, diversificada. Uma agricultura que trouxesse riqueza e trabalho ao povo alentejano.
Várias décadas sobre o sonho e mais de 2 mil e quinhentos milhões de euros de investimento público, o sonho de o Alentejo ter novos campos de regadio pode ter-se cumprido, mas quanto à criação da riqueza, ela existe de facto, mas vai direitinha para os bolsos de grandes empresas multinacionais e de alguns especuladores.
Não são os trabalhadores alentejanos que estão a ganhar com a “nova agricultura” porque a actividade agrícola assente nas monoculturas de olival e amendoal intensivos e superintensivos, altamente mecanizada, pouca mão de obra local emprega. E os trabalhadores, quando necessários, vêm de outras paragens, às vezes mão-de-obra quase escrava.
O Alqueva transformou em regadio mais de 120.000 hectares de terra, mas o olival intensivo e superintensivo já ocupa 59% desta área e o amendoal superintensivo, cerca de 10%. Ou seja 70% está já em monocultura, com sérios danos ambientais e que, para além de tudo o mais, afecta a maior riqueza que temos, a terra.
E por isso não se compreende como é que tal intervenção num território, que lhe alterou significativamente a paisagem e causa tantos impactos negativos, não esteja submetida a nenhuma avaliação, regulamentação ou licenciamento pelas autoridades competentes.
Há olivais e amendoais superintensivos instalados junto a habitações, a escolas, a recintos desportivos . As pulverizações com fitofármacos são intensas e muitas vezes aéreas, que afectam as populações.
Como é possível admitir que uma qualquer multinacional, chegue ao Alentejo e instale 1000 ou mais hectares de olival ou amendoal superintensivo sem uma avaliação de impacto ambiental, quando utiliza recursos hídricos 7 ou 8 vezes mais água que as culturas tradicionais, tão importantes e que impõem enormes investimentos públicos nas infraestruturas e sua manutenção.
Quem avalia a destruição das galerias ripícolas, com a construção de redes de drenagem artificia? A apanha nocturna de azeitona tem dizimado milhões de aves migratórias. Espera-se o quê para pôr fim a esta prática?
Como é possível que ninguém avalie a contaminação dos recursos hídricos que ocorre pelo uso intensivo de fitofármacos, nem os impactos na saúde das populações?
Qual o impacto destes milhares de hectares em contínuo da mesma espécie na biodiversidade e qual o resultado da destruição dos matos e eliminação de habitats?
É um facto que devido à preparação do solo com despedregas, terraplanagens e instalação de sistemas de rega e de drenagem artificiais estas culturas superintensivas são verdadeiras ameaças aos solos com uma acelerada erosão, com a perda de perda de matéria orgânica e nutrientes, e sobretudo com a sua salinização e sodificação. Ou seja, um dia a terra ficará salgada e nenhuma planta lá nascerá, como aconteceu já noutros países.
O Bloco de Esquerda apresentou já um projecto de regulamentação das monoculturas , um projecto que impõe um travão à plantação de novas extensões de monoculturas, até que o Governo estude e regulamente esta actividade e impõe a obrigatoriedade de avaliação de impacto ambiental para as plantações em grandes áreas.
É um projecto que aponta o estabelecimento de áreas máximas de ocupação por concelho, para que não haja concelhos, como acontece actualmente, em que 2/3 da sua área de regadio está já coberta por estas culturas e as submeta a licenciamento. Um projecto que impõe boas práticas, estabelece limites máximos de consumos de água e fitofármacos, que salvaguarda a biodiversidade e proíbe a apanha nocturna.
Um projecto para proteger as pessoas e a saúde pública desta desenfreada corrida ao lucro rápido, proibindo que haja plantações junto a populações, e estabelecendo zonas ecológicas de protecção entre as habitações e as áreas cultivadas, disciplinando a aplicação de fitofármacos.
Esperemos que o Parlamento saiba responder às preocupações dos cidadãos e não se vergue aos interesses de uns quantos, porque o único argumento a favor destas monoculturas é de facto o aumento da produção e do lucro.
Até para a semana!



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