quinta-feira, 28 de março de 2019

VASCULHAR O PASSADO - Rubrica mensal de August Mesquita

                       Museu de Arqueologia de Montemor-o-Novo
O Museu Nacional de Arqueologia é o principal Museu Nacional de âmbito arqueológico em Portugal. Localizado em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, o museu foi fundado em 1893 por iniciativa de José Leite de Vasconcelos, conceituado arqueólogo, nascido em Tarouca em 7 de Julho de 1858 e falecido em Lisboa a 17 de Maio de 1941, e que nos legou um vasto trabalho arqueológico, algum realizado no nosso concelho.
Em 15 de Março de 1986, foi a vez de Montemor-o-Novo inaugurar o seu “Museu de Arqueologia”. Organizado pelo Arqueólogo Mário Varela Gomes, está instalado em quatro salas do Convento de S. Domingos. O nosso Museu de Arqueologia está considerado por ilustres arqueólogos, um dos melhores do País, e também da Europa.
O dia 15 de Março de 1986, aniversário do importante Foral que Dom Sancho I concedeu em 1203, a esta Vila Notável, foi de grande festa pela inauguração do valioso Museu de Arqueologia que honra Montemor-o-Novo, tanto no País como além-fronteiras.
O acontecimento justificava um Programa que marcou esse dia com os seguintes actos:
            Às 10,00 horas – Içar das Bandeiras Nacional e do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo na fachada do antigo Convento de São Domingos, onde está o nosso Museu. Houve também lançamento de foguetes, nesse momento, pela mesma razão.
            Às 11,00 horas foi celebrada na Igreja do Calvário, uma Missa pelas intenções dos Sócios vivos e defuntos do referido Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo. À homilia, o celebrante Padre Alberto Dias Barbosa, Secretário da Direcção e fundador do mesmo Grupo, recordou à assistência as motivações que estiveram na origem do GAM: promover a aproximação e mútua colaboração dos Montemorenses em prol do progresso integral da população deste Concelho, especialmente no aspecto cultural, e ao mesmo tempo trabalhar pela defesa, divulgação e desenvolvimento da Terra com todos os seus valores e interesses. E apelou à colaboração de todos e principalmente dos reformados, pelo menos nos seus tempos livres, para que se dediquem a esta e outras iniciativas semelhantes, valorizando as suas vidas e engrandecendo Montemor-o-Novo, à imitação de vários sócios vivos e falecidos, que ao Grupo têm dado a sua melhor dedicação. É essa uma acertada e valiosa atitude humana e cristã.
            Pelas 15,00 horas iniciou-se a Assembleia Geral Ordinária dos Sócios do citado Grupo na Biblioteca do Convento de São Domingos.
… Proposta pela Direcção e aprovada por unanimidade a eleição dos novos Sócios Honorários do Grupo, pelo muito que este lhes deve: Excelentíssimos Senhores Professor Doutor Artur Nobre de Gusmão, Arquitecto Jorge Sottomayor de Almeida, Doutor Mário Nunes Vacas e Doutora Dona Ana Ribeiro da Mota Vacas.
Também por proposta da Direcção foram escolhidos as Excelentíssimas Senhoras (es) Doutora Dona Margarida Ribeiro, distinta Etnóloga, para Directora do Boletim do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo e Arquitecto Mário Varela Gomes, a quem principalmente se deve a organização e a instalação do novo Museu, para Director por tempo indefinido, do referido Museu de Arqueologia de Montemor-o-Novo.
Pelas 16,00 horas chegaram destacadas personalidades na vida cultural portuguesa e grande número de pessoas de Montemor e de outras terras, enchendo-se completamente a vasta Sala da Biblioteca, que se diz ser a maior Sala do Distrito de Évora (40 x 14 metros).
Presidiu à Sessão Solene que se seguiu, o Capitão José Claudino Tregeira, Presidente da Direcção do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo, ladeado pelas seguintes entidades: Vice-Presidente do Instituto Português do Património Cultural, representante do Governador Civil do Distrito, Director do Departamento de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, Vice-Reitor da Universidade Nova de Lisboa, Director dos Serviços de Arqueologia do Sul, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo (José Vicente Grulha), e o Director do Museu de Arqueologia de Montemor-o-Novo (Arquitecto Mário Varela Gomes).
O Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo de Évora ocupou um cadeirão em lugar especial, à direita da Mesa da Presidência.
Entre a Assembleia viam-se o Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa, Directores de Museus e destacadas personalidades na vida cultural portuguesa, além de muitos Sócios e Amigos vindos de Lisboa, de Évora e de outras terras, além de Montemorenses dedicados, aqui residentes.
Falaram, além do Presidente do Grupo que historiou a formação da Instituição e agradeceu a quantos levantaram o novo Museu: Professor Doutor Artur Nobre de Gusmão, em nome pessoal e da Gulbenkian; José Vicente Grulha, Vereador da Cultura da Câmara Municipal; o Senhor Arcebispo, a Doutora Ana da Mota Vacas e o Professor Doutor Justino Mendes de Almeida. Todos foram unânimes em enaltecer o novo Museu, felicitar os seus organizadores e Montemor-o-Novo, por esta rica iniciativa, e agradecer a todos esta preciosa realização cultural e turística.
Por proposta do Arquitecto Varela Gomes foi deliberado atribuir à Sala Grande do Museu de Arqueologia, o nome de “Sala João de Lemos”, entidade que cedeu grande número de peças que constam do espólio do Museu de Arqueologia, pelo que será enviada uma carta a seus herdeiros com tal intenção.
Após a Sessão Solene e a inauguração do novo museu, decorreu uma visita guiada ao mesmo, na qual o Senhor Arquitecto Mário Varela Gomes foi explicando aos visitantes nas sucessivas Salas do Museu, o espólio e fotografias das diversas vitrinas. Todos exaltaram o valor dos objectos expostos, e os critérios didácticos seguidos na sua montagem. O museu exibe um importante espólio arqueológico, com peças do Paleolítico até à Idade Média.
Por fim, várias Meninas serviram, em tabuleiros, um esmerado e abundante beberete, oferecido a todos os presentes e preparado com distinção por um grupo de dedicadas Senhoras desta Vila Notável.
O novo Museu está diariamente aberto ao Público visitante, como qualquer outro Museu, constituindo doravante um dos principais centros de interesse de Montemor-o-Novo.
Para a instalação do Museu de Arqueologia de Montemor-o-Novo, muito contribuiu a Senhora Doutora Ana Ribeiro da Mota Vacas, que com a sua forte determinação, removeu todos os obstáculos que se apresentavam, empenhando-se totalmente na realização desta excelente obra, que muito dignifica Montemor-o-Novo, e que a Senhora Doutora Ana Ribeiro da Mota Vacas, não nascendo cá, muito ama.
Os visitantes que se desloquem até ao Convento de São Domingos, podem visitar, além do já referido Museu de Arqueologia, sem dúvida alguma, a “Menina dos Olhos do Convento”, as seguintes valências:
            * “Colecção de Olaria Quinhentista”, composta por 1.020 peças de olaria de quase todas as Olarias do Continente, coleccionadas e estudadas criteriosamente pela etnóloga Dona Margarida Ribeiro, que as ofereceu ao Grupo;
            * Nas “Salas de Etnografia” podem ser observadas cerca de 6.000 peças, distribuídas por 10 salões que rodeiam os claustros, onde se situa a galeria de arte. A maior parte das peças expostas descrevem os costumes e as tradições dos nossos antepassados, e foram oferecidas por famílias de Montemor;
            * “Colecção de Arte Sacra”, constituída por um espólio de esculturas, paramentos e alfaias religiosas riquíssimo;
            * “Salas de Tauromaquia” que mostram peças únicas, a atestar a “afición” e o gosto pela Festa Brava da população de Montemor-o-Novo. Numa das salas está patente o espólio do Grupo de Forcados de Montemor;
            * “Sala do Traje”, onde os visitantes podem observar mais de uma dezena de vestidos de outras épocas, que caracterizavam a silhueta feminina. Os vestidos compridos de cores fortes revelam uma visão do passado com uma essência especial que caracterizou um Portugal já distante, mas não menos interessante; 
            * “Sala do Brinquedo” com mais de trezentas peças. Esta sala, tem a virtude de enquadrar na filosofia pedagógica do Núcleo Museológico do Convento de São Domingos, um apelo ao imaginário da criança, ao seu equilíbrio emocional, e um apelo ao estudo da História: mentalidades, formas de diversão, e formas de trajar no passado;
            *  “Colecção de Coches, Charretes e Carroças, a maior parte pertencente ao Estado, e de que o GAM é fiel depositário,  e ainda, a valiosa
            * “Biblioteca” com cerca de 14 000 livros que estão à disposição dos montemorenses e dos turistas que nos visitam.
Através de visitas guiadas, faça uma viagem no tempo, e venha conhecer de terça-feira a domingo, estes fabulosos espaços recheados de história, que honram Montemor-o-Novo.
Augusto Mesquita
In “Folha de Montemor” – Março 2019











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