RUI MENDES
Migrações internas
A principal razão dos movimentos pendulares prende-se com a
necessidade de estudar ou manter uma actividade profissional num outro local,
fazendo esse deslocamento diário. De alguma forma existe assim um movimento
migratório.
No Alentejo
existem fluxos que se aproximam destes movimentos pendulares. Tem a
particularidade de não serem movimentos diários mas sim semanais.
Todas as semanas
regressam a casa, para passar o fim-de-semana, umas centenas de jovens que
vivem, trabalham e estudam em Lisboa, para aqui passar o mais que justificado
fim-de-semana.
Fazem-no em
muitos casos, senão em todos, porque aqui não têm oportunidades de trabalho ou,
quando existem, são empregos mal remunerados, pelo que vão ao encontro das
empresas que valorizam as competências que adquiriram.
Infelizmente
conheço bem estes movimentos, como conheço umas dezenas de jovens que tiveram
de abandonar este território, porque o mercado de trabalho aqui é fraco,
resultante de uma economia pouco dinâmica.
Esta geração de
jovens, que deveria ser o futuro desta região, está assim a contribuir para
valorizar outros territórios.
Claro que este
problema não é exclusivo do Alentejo.
Ainda
recentemente num evento em que participei, um empresário da região de Leiria
confessava-me o seguinte:
“A A1 divide o
litoral do interior, e são duas realidades absolutamente distintas.”
Terá sido uma
leitura clara e evidente do que é o nosso país.
Um país com
grandes assimetrias entre os territórios do litoral, mais atrativos, mais
populosos, com a população mais rejuvenescida, com economias mais desenvolvidas
e mais competitivas, e os territórios do interior, com menor atratividade, com
baixas densidades populacionais, com uma população envelhecida e com economias
pouco expressivas.
São bem
conhecidos os vários diagnósticos e relatórios produzidos e as propostas de
medidas neles constantes, como são conhecidos os programas criados para
aplicação de medidas para a valorização do território e a dinamização do
interior.
Contudo, se o
discurso é positivo já as medidas não tem tido grande resultado. E o que
verdadeiramente interessa são os resultados.
Aproximamo-nos do
ano em que teremos os Censos populacionais.
E mais uma vez
vamos conhecer o que já sabemos. Que o Alentejo perde cerca de 3000 pessoas por
ano, e que alguns dos Concelhos perdem por década mais de 10% da sua população.
Precisamente
porque os territórios de baixa densidade não conseguem reter os seus jovens,
porque têm economias fracas, e os que vão ficando pertencem à população idosa.
A verdade é que
as políticas públicas têm sido incapazes de estancar ou desejavelmente inverter
as perdas populacionais, como têm sido incapazes de proteger estes territórios
de forma a permitir uma maior coesão territorial e um maior dinamismo
económico.
A verdade é que
estes territórios, fora do contexto dos discursos políticos, são territórios
esquecidos, talvez porque a sua importância política é baixíssima. Nestes
territórios existem cada vez menos pessoas, logo o número de representantes é
cada vez menor.
Por tudo isto,
vamos continuar a assistir ao fluxo semanal dos nossos jovens a caminho de
Lisboa, serão os novos migrantes, porque este território não os consegue
aproveitar, porque as políticas públicas não conseguem desagravar os muitos
desequilíbrios que o país possui.
Até para a semana
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