sexta-feira, 29 de março de 2019

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA RÁDIO DIANA/FM


                                                                                               RUI MENDES
                                  Migrações internas
A principal razão dos movimentos pendulares prende-se com a necessidade de estudar ou manter uma actividade profissional num outro local, fazendo esse deslocamento diário. De alguma forma existe assim um movimento migratório.
No Alentejo existem fluxos que se aproximam destes movimentos pendulares. Tem a particularidade de não serem movimentos diários mas sim semanais.
Todas as semanas regressam a casa, para passar o fim-de-semana, umas centenas de jovens que vivem, trabalham e estudam em Lisboa, para aqui passar o mais que justificado fim-de-semana.
Fazem-no em muitos casos, senão em todos, porque aqui não têm oportunidades de trabalho ou, quando existem, são empregos mal remunerados, pelo que vão ao encontro das empresas que valorizam as competências que adquiriram.
Infelizmente conheço bem estes movimentos, como conheço umas dezenas de jovens que tiveram de abandonar este território, porque o mercado de trabalho aqui é fraco, resultante de uma economia pouco dinâmica.
Esta geração de jovens, que deveria ser o futuro desta região, está assim a contribuir para valorizar outros territórios.
Claro que este problema não é exclusivo do Alentejo.
Ainda recentemente num evento em que participei, um empresário da região de Leiria confessava-me o seguinte:
“A A1 divide o litoral do interior, e são duas realidades absolutamente distintas.”
Terá sido uma leitura clara e evidente do que é o nosso país.
Um país com grandes assimetrias entre os territórios do litoral, mais atrativos, mais populosos, com a população mais rejuvenescida, com economias mais desenvolvidas e mais competitivas, e os territórios do interior, com menor atratividade, com baixas densidades populacionais, com uma população envelhecida e com economias pouco expressivas.
São bem conhecidos os vários diagnósticos e relatórios produzidos e as propostas de medidas neles constantes, como são conhecidos os programas criados para aplicação de medidas para a valorização do território e a dinamização do interior.
Contudo, se o discurso é positivo já as medidas não tem tido grande resultado. E o que verdadeiramente interessa são os resultados.
Aproximamo-nos do ano em que teremos os Censos populacionais.
E mais uma vez vamos conhecer o que já sabemos. Que o Alentejo perde cerca de 3000 pessoas por ano, e que alguns dos Concelhos perdem por década mais de 10% da sua população.
Precisamente porque os territórios de baixa densidade não conseguem reter os seus jovens, porque têm economias fracas, e os que vão ficando pertencem à população idosa.
A verdade é que as políticas públicas têm sido incapazes de estancar ou desejavelmente inverter as perdas populacionais, como têm sido incapazes de proteger estes territórios de forma a permitir uma maior coesão territorial e um maior dinamismo económico.
A verdade é que estes territórios, fora do contexto dos discursos políticos, são territórios esquecidos, talvez porque a sua importância política é baixíssima. Nestes territórios existem cada vez menos pessoas, logo o número de representantes é cada vez menor.
Por tudo isto, vamos continuar a assistir ao fluxo semanal dos nossos jovens a caminho de Lisboa, serão os novos migrantes, porque este território não os consegue aproveitar, porque as políticas públicas não conseguem desagravar os muitos desequilíbrios que o país possui.
Até para a semana



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