À espera da
Primavera
Março
parece-me, agora mais do que nunca, mês de renascer: Primavera no hemisfério
norte, Juventude em Portugal, e Mulher no mundo inteiro. Descansem os
ouvintes/leitores que não vou fazer uma composição sobre a Primavera. Que foi o
que fez um tio-avô meu, quando na sua actividade de jornalista entre outras, no
Estado Novo, cansado de ver muitos dos seus artigos traçados a azul, resolveu
um dia fazer uma redacção com esse tema ao pueril estilo da escola primária.
Não conheci o tio António Ramos de Almeida mas sempre ouvi falar bem dele.
Morreu novo e lutou com a palavra. Tenho de o visitar no Museu do Neo-Realismo,
talvez esta Primavera…
Não consegui ficar
indiferente ao movimento #climatestrike, que em Portugal se chamou
#FazPeloClima. Acompanhei-os, aos muitos e muito jovens, aqui ao pé de mim.
Respondi a quem perguntava o que era aquilo, assisti à reacção de quem é poder
aqui, no local. Sobre esta reacção nem me apetece falar. Fazê-lo era como
partilhar numa rede social o que achamos que não merece se não ser esquecido de
tão ridículo que é. Mas adiante.
Fiquei curiosa com o
impacto deste movimento, que não me parece que arrefeça tão cedo a nível
mundial, pelo menos pelas grandes capitais europeias, que impacto terá na
actividade politico-partidária. Será que votarão mais? E darão os seus votos a
Partidos ou protestarão com os brancos e nulos? E a que Partidos? Juntar-se-ão
ao Partido que parecia reflectir essas preocupações mas se perdeu em propostas
ridículas ou que, pelos vistos, não conseguiram deixar de ser ridicularizadas?
Criarão um Partido que se descole da divisão Esquerda-Direita,
Liberais-Conservadores, Democratas-Republicanos? Ou integrar-se-ão, infiltrados
mas de cara destapada, em alguns Partidos? E se o fizerem, aceitarão cair nas
incoerências em que a Política com maiúscula não pode cair sem se tornar
politiquice, trocando posições por questões de interesse pessoal e cortando aos
poucos o cordão umbilical (e indelével como a vida nos ensina) com a Terra Mãe?
Gostava de assistir
ao desenrolar desta revolução que parece estar a acontecer. Não sabemos se será
muito lenta, se será como uma guerrilha ou se haverá grandes batalhas que
ditarão o rumo das tropas. Como os jovens, também nós, os que já estamos
oficialmente na curva descendente, temos sempre alguma pressa de ver as coisas
acontecerem rapidamente. Às vezes as desilusões que tivemos retiram-nos alguma
esperança, mas é de um enorme egoísmo retirar essa esperança aos jovens, se bem
que seremos igualmente úteis se ficarmos por perto, sem paternalismos, em caso
de vacilação ou de perigo previsível.
Não sei se terei esse
tempo, mas enquanto cá estiver e sempre que quiserem o que lhes posso dar, e eu
puder, esta geração será para mim a geração que não está perdida. E
continuarei, mesmo no mais agreste Inverno, ali ao pé, à espera da Primavera.
Até para a semana.
CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
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