quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

TRILOGIA DA PEREGRINAÇÃO – Por Rufino Casablanca

O Sultanado de Bengin – Fantasia para além da “Peregrinação”
(ou como o Fernão, o Cristóvão e o Diogo se acharam metidos numas fezes deste tamanho)

Aquele convite para embarcar vinha a calhar que nem ginjas.
O Fernão, o Cristóvão e o Diogo de imediato se engajaram na tripulação daquele sólido bergantim, elegante e veloz, que ia zarpar para as Ilhas Molucas em viagem de exploração e comércio.
O mestre do navio era um piloto já com fama feita naquelas andanças lá pelo Mar Índico, nos idos de Quinhentos. Era homem que aprendera o ofício de marear com os Gamas e os Dias.
Eles e o mestre, António Faria de seu nome, eram os únicos cristãos a bordo, pois os restantes tripulantes eram todos experimentados marinheiros árabes e etíopes. Gente de navegações no Mar Vermelho e no Golfo Pérsico e crenças religiosas altamente enraizadas.  
Acontece que depois de vários dias de navegação foram apanhados por uma tempestade medonha, de nada valendo a solidez do barco, e por isso naufragando, indo depois arribar, famintos e sequiosos, mais mortos que vivos, nas costas ocidentais das terras hoje conhecidas por Ilha de Java, no Arquipélago Indonésio.
Fazia aquela ilha parte, nessa época, do Sultanado de Benguin.
Por ser capitão, o António Faria teve um tratamento diferente (havia um certo respeito pelas hierarquias, lá isso havia).
Os restantes, cristãos ou muçulmanos, foram feitos prisioneiros, primeiro, e depois escravos. (Esquecemo-nos de dizer que eram acompanhados por um escravo negro que o capitão António Faria tinha comprado ali pelas Etiópias.)
Esse negro, antigo escravo de um califa árabe, era eunuco. E logo fez gala dessa sua condição, acrescentando que todos os outros o eram também.     
Ora o Sultão, pessoa já com certa idade, um pouco bonacheirão até, sabendo que estava com os pés para a cova e sobretudo não sendo radical na sua fé, limitou-se a meter os novos escravos, porque sendo eunucos, como guardas do seu harém.
Está visto que o Sultão era um homem muito crédulo já que nem houve apalpadelas para confirmar se aqueles pobres diabos eram de facto eunucos. Não eram, pois como sabemos, ali o único eunuco era o negro já antes escravo.
Estava o harém, como é da praxe, muito bem guarnecido de mulheres bonitas e que, aliás, não tinham nenhuma satisfação sexual devido à elevada idade do Sultão.
Assim, nestas conformidades, passaram a ter à balda, já que aqueles três mariolas, se desforraram de vários meses de abstinência sexual.
O pior desta situação nem foi o abuso da confiança do Sultão, porque até parece que nem todas as odaliscas do harém se andavam portando bem, antes, durante e depois da chegada dos nossos compatriotas.
O pior, e aí é que esteve o busílis da questão, é que no espaço de poucos meses toda a gente naquela ilha sofria de sífilis.
Não se chegou a apurar de certeza certa quem tinha espalhado aquela praga no Sultanado, mas assim que se descobriu que os portugueses não eram eunucos, logo foram dados como culpados e por isso vendidos a um comerciante chinês que beneficiou de um bom desconto devido à peste que transportavam.
E foi assim que aqueles três se viram a ferros no porão de um junco chinês que os transportou para terras do arquipélago japonês e o que mais adiante se verá. Todavia de uma certeza estamos convictos: não foram os portugueses que espalharam a sífilis na Ilha de Java.

Desta narrativa foi extraído um argumento, que os indianos, nos estúdios de Bollywood, transformaram num daqueles musicais intermináveis em que os referidos estúdios são useiros e vezeiros.
Lamentamos não ter elementos das fichas artísticas e técnicas, mas iremos providenciar no sentido de deixar registado alguns elementos sobre este assunto.
Apenas gostaríamos de chamar a atenção para a enorme quantidade de filmes que os estúdios indianos de cinema estão a produzir, produção essa que já ultrapassa a americana.
Rufino Casablanca – Monte do Meio – Maio de 1990
Que engano ou enigma será este?! O que se passa com este cinema indiano?! Não há diferença, não há originalidade, não há nada de novo nestes filmes indianos. São sempre filmes de baixo orçamento e no entanto existe um certo encanto nessas fitas. Parece ser aquele encantamento que sempre nos surpreende quando assistimos aos velhos filmes do tempo do cinema mudo…… RC.


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