CLÁUDIA SOUSA
PEREIRA
A IMPORTÂNCIA DA PERGUNTA
Entre o nacional alarido com a crise no PSD e a internacional
preocupação com o modo de concretização do Brexit, assim decorreu a passada
semana noticiosa. Quer uma, quer outra circunstância foram consequência de
processos de auscultação democrática. Num caso, quase familiarmente íntimo de
escolher entre candidatos a chefes de família; no outro, a opção de um reino
composto por várias famílias se manter ou não ligado a um conjunto de outros
países, reinos e repúblicas.
Em
ambos os casos as opções de escolha não foram muitas, antes quase só em
alternativa. Se no caso do Brexit essas duas únicas opções de resposta à
pergunta eram inevitáveis, no caso do Partido português as perguntas ao “Quem
quer, quem quer liderar o PSD?” poderiam ter sido, de facto, de escolha
múltipla, ainda que com resposta única, bem entendido. Nem no Brexit, nem no
último congresso do PSD foram feitas perguntas retóricas. Ou não deviam ter
sido…
As
perguntas retóricas são aquelas que não têm como objectivo obter uma resposta
mas sim, das duas, uma: ou estimular a reflexão sobre o assunto sobre o qual se
pergunta; ou ser sarcástico. Este tipo de perguntas é muito interessante em
discussões conceptuais, em conversas de salão ou em reuniões de “partir pedra”,
esse coloquialismo que designa os processos em que se colocam hipóteses, se
traçam cenários, uma espécie de rascunho para uma versão definitiva e pública o
mais atinada possível. A pessoa que faz uma pergunta retórica já sabe ou
imagina a resposta. Mas isto também só se a pergunta, ainda que retórica, for
bem feita, pois arrisca-se, quem pergunta, num momento de “rodriguinhos”, a
levar como resposta uma outra pergunta, até mais embaraçosa.
Mas
voltemos às perguntas em Democracia, sejam elas em forma de eleições ou
referendos. O sistema político democrático exige esforço por quem se propõe
geri-lo de forma a que ponha, de facto, os cidadãos a quem serve a participarem
assumindo a centralidade do mesmo. Inclusive, exige um esforço, talvez o mais
hercúleo, de explicar o uso da Democracia pelos seus próprios beneficiários. E
este é um trabalho constante e interminável, que quando desleixado apenas serve
para que uns se sirvam da Democracia em vez de a servir. Escolher é estar
preparado para responder a uma pergunta. Perguntar é estar preparado para
receber as diferentes possibilidades de resposta escolhidas. Como dizia o
título de um antigo programa de rádio entre um psicanalista e um pedagogo, e
que virou livro: “se não sabe porque é que pergunta?” Uma pergunta mal feita,
ou feita na altura errada, significa falta de capacidade de quem a faz. Ou
então, lá está, revela que a vontade de fazer a pergunta ao abrigo da definição
de Democracia é só mais um instrumento tacticista de manipulação de quem
responde. Como exemplos temos precisamente os dois casos noticiados que vos
trago: não fazer parte da resposta a uma pergunta numas eleições, só para
tentar voltar a fazer a pergunta mais tarde, em altura mais oportuna para o
próprio, se não foi o que aconteceu no PSD, parece ter sido; ou por outro lado,
fazer uma pergunta não se medindo as consequências da resposta, como quando
convocou o referendo do Brexit David Cameron no Reino Unido, e, ao contrário,
Mariano Rajoy não o validou na Catalunha. Na Catalunha já se calaram as vozes
dos que, para se servirem do momento mais oportuno, o seu momento mais
oportuno, criaram um ambiente de guerrilha. No Reino Unido, o imbróglio é
grande e repetir o referendo parece contribuir pouco para o prestígio da
Democracia, como se tivessem estado a brincar com ela até que a melhor resposta
fosse dada. Aos britânicos, mais do que ter feito a prematura pergunta de
resposta “sim ou não” importava ter apresentado todo um caderno dos encargos
que as mudanças com a saída da UE impunham. É que perguntar pode mesmo ofender.
Até
para a semana.
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