CLÁUDIA SOUSA
PEREIRA
A VITÓRIA DA MEDIOCRIDADE OU A CRISE DA
DEMOCRACIA
Antes de mais, os meus votos de bom 2019 aos ouvintes da DianaFm.
Este
ano outros votos vão dar a oportunidade aos cidadãos de poderem expressar, para
além de o fazerem através do queixume, do insulto ou da indignação nas redes
sociais, a sua vontade de escolher quem os vai governar. Em Maio para o
Parlamento Europeu, aquele que para muitos parece estar lá longe mas que tem,
ou devia ter, enorme importância e impacto nas políticas nacionais e na
convergência de ambientes sociais e económicos de bem-estar entre os
Estados-membros. Em Outubro, nas nossas legislativas, será para escolher quem,
no executivo ou na oposição, condicionará a aplicação de medidas que reflectem
forçosamente opções ideológicas que importa conhecer e reconhecer, não apenas
nos discursos mas também nas práticas. E pelo meio há também na Madeira
eleições para o Governo regional que actua com particularidades que,
consequência da condição da autonomia, quando dá jeito a madeirenses ou
continentais são chamadas à berlinda, de forma inconstante e intermitente.
Mas
este ano começou também com uma evidência da profunda crise em que a
Democracia, a que nos permite escolher pelo voto e no mundo em que ela vigora
graças a lutas importantes e avanços civilizacionais que tomamos como seguros e
eternos, parece estar a cair: falo da mediática tomada de posse de Bolsonaro,
resultado da vitória dada pelo Povo brasileiro, democraticamente, à
mediocridade. Esta mediocridade é não só evidente no discurso pobre de
Bolsonaro, quer como candidato, quer já empossado, como é evidente em todo o
seu percurso público de 27 anos enquanto político. Não faltam por aí artigos e
testemunhos que atestam estas mediocridades. E não se trata apenas das
referências ao poder divino, que já Lula e Dilma nos seus discursos também não
conseguiram evitar, e que como está bom de ver não tem importância nenhuma na
actuação política. É que tanta invocação do nome de Deus deixa bem à vista,
conhecendo quem o faz, que apenas interessa como anzol para que os crédulos
mais desinformados e desatentos assim se mantenham. Diz-se que aquela foi uma
cerimónia solene. Pois de solene pouco lhe vi. Desde o comportamento digno de
uma turma de corrécios daquelas que reclamam redução do número de alunos por
turma e professor de apoio, até à frase extra do discurso de Bolsonaro sobre as
cores da bandeira nacional do Brasil e da promessa-ameaça de sangue.
E
depois foi também o discurso de Ano Novo do Presidente Marcelo. Este foi um
sério aviso ao perigo de que a crise da Democracia se transforme em mau estado
permanente da mesma. Um discurso pedagógico que só pecou por não ter continuado
no que fez à saída da sua reunião com Bolsonaro. Se tendo a achar necessário
que um Chefe de Estado se comporte como tal e não vire as costas a um Estado
que tem a representá-lo alguém que personaliza precisamente o que Marcelo diz
temer, era escusado ter-se referido a um “encontro de irmãos”. Os ouvintes dos
dois discursos hão-de ter sido, na sua maioria, os mesmos, mas se o primeiro
discurso foi para o Povo, o segundo foi popularucho. E há uma diferença nisso.
A
Democracia está acima de tudo nas mãos dos Cidadãos: os que votam e os que se juntam
para constituir ou transformar os Partidos e as restantes instituições
públicas. Em época de eleições, e uma vez que é dos Partidos que normalmente
saem os governantes, é bom que cada Partido que esteja verdadeiramente
interessado em governar e em salvar a Democracia contra os ataques de vários
lados, não se rendam à equação que valoriza sabe-se lá mais, para sermos
ironicamente ingénuos, do que a competência, a seriedade e a defesa coerente
dos valores e princípios em que assentam. É que eu que sou uma leal
simpatizante de um Partido fico banzada com posturas e acções (ou inacções!)
antipatizantes de certos militantes a quem, depois, se consola com relevos de
vária espécie. Se isto assim continuar nos Partidos, o que acontece discreta ou
“desbragadamente” em todos, acabam por se tornar ou em eucaliptos que secam
tudo o que lhes podia ser benéfico à sua volta, ou em “tudo farinha do mesmo
saco”. E se não se tomar atenção a isto mesmo, com o empurrãozinho que tanta
Comunicação Social vai dando, não tarda nada mesmo já “chegámos… não à Madeira
mas… ao Brasil”.
Até
para a semana.
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