MARIA HELENA
FIGUEIREDO
EM DEMOCRACIA NÃO HÁ LUGAR PARA SALAZARES
Os primeiros dias deste novo ano não estão a fazer justiça aos
votos de Bom Ano que todos nós formulamos ao bater das 12 badaladas. Pelo
contrário, apesar de ter passado apenas meia dúzia de dias, foram já muitos e
preocupantes os sinais de que este não será um ano tranquilo.
Os ataques à democracia, directos e
encapotados, não deixam dúvidas quanto ao que por aí vem, ao surgimento de
governos e movimentos protofascistas em vários países e às tentativas, também
por cá, que a extrema direita e neo-nazis estão a lançar.
É uma guerra surda mas muito
orquestrada, a que estão a iniciar. E nesta guerra não há lugar a neutralidades
e nem a tibiezas, não pode haver hesitações no que é a defesa firme dos
princípios democráticos. Por isso as acções de Marcelo Rebelo de Sousa, do
Governo, dos partidos, dos jornalistas e das televisões e, finalmente, de cada
um de nós contam e não vale a pena encontrar desculpas.
Começamos no dia 1 com a posse do
presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Um presidente eleito, pelo recurso ao
discurso de ódio e a notícias falsas nas redes sociais, apoiado pelas igrejas
evangélicas mais obscurantistas, um homem racista, xenófobo, homofóbico, que
defende a tortura e que ameaçou – e está a cumprir a ameaça – acabar com os
adversários de esquerda. O seu discurso e os primeiros actos que praticou
vieram confirmar as piores expectativas.
Marcelo Rebelo de Sousa esteve
presente na posse. Não devia ter estado e muito menos devia ter chamado aos 20
minutos de reunião entre ambos um “encontro de irmãos”. Foi uma afirmação
inaceitável e que só nos envergonha enquanto país, sobretudo porque dá sinais
muito negativos, ao fazer crer que ser racista ou defender a ditadura não é
grave, que mesmo os fascistas são bons rapazes.
Essa é a ideia que por cá alguma Comunicação
Social se tem esforçado por passar: defender a ditadura ou a eliminação de
direitos dos cidadãos é o mesmo que defender a democracia.
E não é!
Há 15 dias foi a excessiva cobertura
noticiosa a um pífio movimento de “coletes amarelos” aproveitada para
entrevistar tudo o que é dirigente de extrema direita, e foi agora a 3 de
Janeiro, a TVI a dar voz à defesa do fascismo, apresentando 2 entrevistas no
mesmo dia com um líder da extrema direita
Mário Machado um neo-nazi, criminoso
em liberdade condicional, condenado várias vezes por crimes de grande
violência, que há pouco mais de um ano foi detido mal chegou à Suécia,
deportado e proibido de circular naquele país.
Da lista de crimes por que foi
condenado somam-se a discriminação racial, coacção, tentativa de extorsão e o
envolvimento no assassinato de um jovem, Alcindo Monteiro, por não ser branco.
Apesar disso, pela mão de Goucha num
programa de entretenimento cuja audiência é principalmente gente idosa, foi
apresentado como se tratasse de um comum e bem comportado cidadão que ali
estava apenas por ter posições polémicas. O mote foi dado pela pergunta
“Precisamos de um novo Salazar?” e claro deu oportunidade a Machado de explanar
as suas ideias fascistas e defender a necessidade de um ditador.
Como se não fosse suficiente, a TVI
24 no programa SOS 24, tornou a entrevistar e a dar mais tempo de antena ao
mesmo Mário Machado.
Não se diga que tudo isto foi mero
acaso, que foi uma forma de aumentar audiências na guerra entre canais ou de
que se tratou do exercício da liberdade de expressão.
Tratou-se, isso sim de uma acção
insidiosa para promover e dar voz à extrema direita, sem contraditório, levando
os expectadores ao engano sobre quem ali lhes era apresentado e ao que vinha,
criando-lhes a convicção de que tudo aquilo era normal.
É esta sucessiva “normalização” das
ideias da extrema direita que é perigosamente manipuladora e não pode ser
tolerada, sob pena de o próximo episódio que nos transmitem na TV ser a morte
da democracia.
Até para a semana!
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