MARIA HELENA
FIGUEIREDO
CAMARA DE ÉVORA: TUDO EM FAMILIA!
Houve
em tempos uma serie cómica na televisão que se chamava Soap! Tudo em Família.
Também
por cá a coisa nos parece muito em família, apesar de não ser cómica.
Mas
começo pelo princípio.
Quem
se propõe desempenhar cargos público sabe que essa opção implica o cumprimento
de regras, que não pode actuar como se estivesse numa empresa privada e que o
exercício desses cargos envolve muitas vezes limitações que afectam a família.
Um titular de um cargo publico não pode, por exemplo, intervir em contratos com
a mulher ou o marido, com os pais ou com os filhos.
E
não é por acaso que a lei introduz estas limitações. No exercício de cargos
públicos – e especialmente nos altos cargos políticos em que se incluem os
Presidentes de Camara e os Vereadores – é preciso garantir que a motivação é o
interesse público, que todos os cidadãos e cidadãs estão em igualdade de
circunstâncias e, portanto, afastar potenciais situações de favorecimento.
Isto
para não falar de impedimentos de natureza ética.
Acontece
que esta semana soubemos que a Câmara Municipal de Évora contratou, para
prestar serviços como assistente social, por 2 anos e meio, a filha do seu
Vice-Presidente.
Ao
contrário do que seria desejável e normal, o contrato não resultou de nenhum
concurso público, caso em que sempre se poderia dizer que todos os jovens com a
mesma formação académica tinham tido oportunidade de concorrer e que a filha do
Vice-Presidente foi escolhida por ser a mais qualificada.
Mas
não, nada disso.
A
Câmara de Évora recorreu ao que se designa por procedimento de consulta prévia.
Ou seja, escolhe-se antecipadamente quem pode ser candidato, por lei 3 pessoas
ou empresas, e apenas esses podem apresentar uma proposta de contrato.
Ora
neste caso, a Câmara escolheu convidar a filha do seu Vice-Presidente.
Isto
leva-nos logo a perguntar porque é que, havendo tantos e tantas jovens
assistentes sociais à procura de emprego, a Câmara convidou a filha do
Vice-Presidente?
Aliás,
se o convite tivesse partido exclusivamente dos serviços não deixaria de ser
interessante pensarmos como é que os serviços da Câmara sabem quem são os
filhos dos membros do executivo municipal, que cursos têm e se estão ou não à
procura de emprego.
E
ainda que o contrato tenha sido decidido e celebrado por outro vereador é
inquestionável a influência directa do Vice-Presidente da Câmara sobre os
serviços e o executivo. Isso deveria bastar para afastar esta contratação.
Deveria,
aliás, ser o Senhor Vice-Presidente o primeiro a querer evitar que recaísse
qualquer suspeição sobre si próprio, o executivo municipal e, atrevo-me a
dizer, sobre a filha. Mas pelos vistos não, embarca-se antes no “primeiro os
nossos”.
O
pior é que este não é caso único. Neste executivo municipal da CDU têm-se
somado os casos de contratos pouco transparentes, de favorecimento descarado
umas vezes de correligionários, outras de familiares ou amigos.
Tudo
se passa sem que haja uma justificação, tratando-se a coisa pública e o
Município como se fosse uma coutada.
São
as actuações como esta que minam a confiança dos cidadãos na política e nos
políticos e que os afastam da participação.
Não
é por isso de espantar que o estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos
divulgado a semana passada sobre a Qualidade da Governação Local coloque Évora
entre as piores autarquias do país.
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