CLÁUDIA SOUSA
PEREIRA
VIVA LAS VEGAS?
Já fui a Las Vegas. É só lá volto se me oferecerem a viagem e a
estadia em hotel de muitas estrelas, que “a cavalo dado não se olha o dente”.
Percebemos nos últimos tempos que, até na cultura pop contemporânea, também a
tradição já não é o que era, e ainda bem: o que se passa em Vegas, já não fica
em Vegas. A piada é óbvia. Tão óbvia como devia ser a presunção de inocência em
todas, repito todas, as suspeições de crimes não confessados, ou sem terem sido
apanhados os criminosos em flagrante, e estejam ainda por julgar
institucionalmente. Sejam os suspeitos gente comum, políticos, militares,
religiosos ou estrelas de popularidades várias.
O
caso de Ronaldo em Las Vegas deixa-me sobretudo incomodada com os recuos em
dois passos por cada passo que é dado nas conquistas civilizacionais.
Conquistas que implicam formas de pensar, e agir em conformidade, no que diz
respeito a posturas culturais, entendidas como as que fazem parte dos costumes.
Quando a coragem dos fundadores do movimento #metoo abria caminho para acabar
com um perpétuo exercício do abuso sexual como forma de exercício de poderes
vários, condenando ao silêncio quem só perderia se denunciasse, já estamos a
equacionar situações em que o oportunismo pode parecer legitimar-se. E onde se
começa a desconfiar de que denunciar, justa ou injustamente (isso ver-se-á no
final também do caso em concreto), pode parecer uma fonte de rendimento. Não há
aqui pôr-se do lado do homem ou da mulher, do rico ou do pobre, da estrela ou
do desconhecido.
Já
agora, sendo defensora da igualdade de género, não me considero feminista, até
porque não gosto do machismo. Talvez consiga ser humanista, fazendo os meus
juízos sem preconceitos contra homens, mulheres, animais ou plantas. E para não
esquecer os elementos da outra classificação que falta ao estilo de Lineu, já
agora também, não me incomoda nada o rock and roll. Espero que, no final deste
caso que mexeu com um símbolo português, tudo se resolva mesmo. Na certeza,
porém, que, chegados a este ponto, entristecerei mais ainda, qualquer que seja
o resultado. Como se diz por terras daqui: já está o baile armado.
Até
para a semana.
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