BRASIL: UM MINUTO DE SILÊNCIO PELA
DEMOCRACIA
Ontem o Brasil votou e votou contra si próprio.
O
Brasil, a pátria da diversidade, escolheu para presidente um homem incapaz de
aceitar a diferença.
Ganhou
um populista de extrema direita, um homem que assentou o discurso no ódio e na
intolerância.
O
Brasil vai ter um presidente que anunciou a perseguição ao PT e a prisão do seu
opositor, que elogiou a ditadura militar que oprimiu o povo brasileiro e que
defende a tortura.
Um
presidente que não respeita as mulheres, que é racista, homofóbico e que, para
além da defesa do armamento dos cidadãos, defende a esterilização dos pobres
como forma de controlar a pobreza e a criminalidade.
Bolsonaro
ganhou com uma campanha feita nas redes sociais, com a difusão de notícias
falsas sobre o PT e o seu principal opositor, com um discurso primário, incapaz
de abordar seriamente as questões económicas e de política internacional,
revelando uma enorme impreparação para liderar um grande país.
O
discurso de vitória de Bolsonaro deixa antever o que por aí vem.
Emoldurado
por apoiantes homens – apenas duas mulheres: a própria e a intérprete – começou
com uma oração de agradecimento a deus, de mãos dadas com um pastor evangélico,
em claro tributo à IURD, que o elegeu.
E
se no seu discurso em que as palavras democracia e liberdade foram repetidas,
quando perguntado por um jornalista sobre o que queria dizer para pacificar o
país depois de uma campanha tão extremada, nada adiantou.
De
resto, é bom não esquecer que durante a campanha foram muitos os ataques e
agressões por parte de apoiantes de Bolsonaro, muitos identificados como
neonazis, a activistas apoiantes de Haddad. E é bom não esquecer que foram
mesmo mortos um mestre de capoeira Môa do Katenê e há 3 dias, durante uma acção
de campanha pró Haddad um jovem de 23 anos Charlione Albuquerque. Que fez
Bolsonaro para travar os seus apoiantes e estas agressões? Nada.
A
democracia brasileira é de baixa intensidade e as instituições têm pouca força,
o que levanta muitas dúvidas sobre a forma como irão actuar e como actuará o
presidente quando os grupos apoiantes de Bolsonaro atacarem cidadãos de
esquerda.
Igualmente
nascem muitas dúvidas quanto ao real cometimento de Bolsonaro em respeitar a
Constituição. Poderá fazê-lo inicialmente, mas durará pouco a contenção e
quando houver notícias, greves ou manifestações que lhe sejam adversas não
tenhamos dúvidas que imporá censura e actuação policial sobre os manifestantes
e opositores.
Por
tudo isto nesta eleição estava muita coisa em jogo. Estavam em jogo os direitos
civis; estavam em jogo os direitos sociais; estavam em jogo os direitos dos
trabalhadores. Mas sobretudo, estava em jogo a democracia.
A
democracia perdeu, apesar de Bolsonaro chegar ao poder com 55% dos votos dos
eleitores.
Mas
como disse Haddad no seu discurso de derrota, mais de 45 milhões eleitores não
se revêm em Bolsonaro e talvez nunca como agora o Brasil tenha precisado tanto
do exercício da cidadania.
A
resistência começou hoje e coragem não há-de faltar. Solidariedade também não.
Até
para a semana!
MARIA HELENA FIGUEIREDO
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