CLÁUDIA SOUSA
PEREIRA
APANHADOS PELO CLIMA
Tenho quase tanta certeza da eternidade (o que quer que ela seja)
da vida do planeta Terra, como da indubitável limitação da vida biológica de um
ser humano. Ou seja, quer uma, a do Planeta e da Humanidade há-de ficar cá por
muito tempo, quer a outra, de um ser humano, tem os seus dias contados. Também
estou em crer que, melhor ou pior, sempre que cedemos ao instinto, às vezes
ilusório, de sobrevivência, nos habituamos às mudanças que nos acontecem. Ora,
será por isso natural que o nosso Planeta Azul, com todas as agressões e mossas
a que tem sido sujeito, vindas do resto do Cosmos ou da acção do Homem na sua
evolução civilizacional em busca de maior felicidade e facilidade; o nosso
Planeta Terra se vá também adaptando.
A
quantidade de fenómenos climatéricos extremos, como o que Portugal viveu bem
preparado neste fim-de-semana, não deixarão de ser consequência da agressão dos
produtos humanos sobre o equilíbrio da Natureza. Eles são uma espécie de
retribuição no acolhimento que a Terra passou a fazer aos seus habitantes. Mas
a Ciência também nos ensina que já houve no muito antigamente, naquele que era
ainda mais antigamente do que quando era mesmo bom, fenómenos e condições que
tornavam a vida humana ainda impossível. O objectivo será, portanto e no
mínimo, não regressarmos a esse Passado no Futuro, e a Terra voltar a ser um
lugar inóspito para os que são de cá.
Isto
leva-me também a reparar, a outro nível, na sobranceria de certos autóctones,
de um qualquer território que esteja sempre a afirmar a sua especial elevação,
até sob um certo manto tecido de orgulho, e em que tantas vezes o argumento da
identidade é só o último reduto da demagogia. São aqueles que se enchem com o
lugar a que pertencem por nele terem sido paridos – quer seja por
provincianismo, ou por xenofobia mesmo – e para com quem não consigo deixar de
sentir uma certa comiseração. Vislumbra-se-me um muito provável Futuro infeliz
de quem não se prepara para mudanças. Imagino-os num apocalíptico e triste
cenário de deserto: seco, vazio, enfeitado de ossadas, com gente agregada em
tribos que, cada vez menos numerosas, se digladiam pelo último naco de carne ou
pedaço de oásis. Não é uma visão bonita… nem inédita. É uma espécie de filme de
dimensões bíblicas.
Se
calhar, ir pensando nisto ajude não apenas a prepararmo-nos para um cenário
planetário e cósmico, como também a mudarmos a nossa postura territorial a
vários níveis. Talvez até nos torne mais felizes e facilite, para além da
sobrevivência enquanto espécie, a vida de todos os dias. Assim, não passaríamos
por “apanhados do clima”, mesmo com todas as partidas pregadas pelo mesmo, mas
por gente que cria um bom clima a partir de mudanças inesperadas, de novas
vizinhanças, de novos costumes. Vamos pensando nisto, abrindo fronteiras e
horizontes imateriais e simbólicos, e tratando com respeito as redondezas,
sejam elas as do vizinho ou a do nosso Mundo chamado Terra.
Até
para a semana.
Sem comentários:
Enviar um comentário