quarta-feira, 12 de setembro de 2018

JÁ PASSARAM 5 ANOS DESDE ESTA PUBLICAÇÃO NO AL TEJO …SABE BEM RECORDAR!

sexta-feira, 16 de agosto de 2013
CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS - FASE III
O nosso Cine Clube de hoje processa-se de modo diferente.
Não vamos ter a sugestão de qualquer filme, mas sim falar do Homem a que desde o inicio do blogue temos prestado homenagem com a criação do “Cine Clube Domingos Maria Peças”,
O escrito que se segue já tem mais de 20 anos, e desde há muito estava em nosso poder, enviado como habitualmente pela Eveline, viúva do Rufino Casablanca.
Apenas aguardávamos o envio de algumas fotos que havíamos solicitado à Susana Rodrigues, neta do Sr. Domingos Maria Peças e nossa particular amiga.
De posse das mesmas e ilustrando o texto que se segue vamos então saber mais sobre este homem, responsável por tantas noites de cultura no Alandroal.
Chico Manel
É curioso como certas pessoas nos ficam na lembrança embora nunca tenhamos tido com elas uma relação próxima.
A minha paixão por cinema é coisa antiga, que nem eu próprio sei explicar. Devo até dizer que hoje, muitas vezes, me sinto incomodado ao confessar esta paixão. Que coisa mais esquisita!
Porque motivo, no Alentejo profundo, lá pelo fim dos anos cinquenta, longe dos locais aonde a exibição de filmes era um acontecimento vulgar, um puto, um banalíssimo puto, é tomado de um enorme fascínio por aquilo a que se convencionou chamar 7.ª Arte?
Quando esse fascínio me agarrou, a exibição de filmes no Alandroal era muito irregular. Para ter notícias da minha paixão, a solução era ir comprando as revistas que por essa época se publicavam em Portugal sobre cinema. Confesso que ainda hoje guardo a minha colecção de “O Animatógrafo”, “O Cinéfilo” e a “Plateia”. Essa colecção, embora desfalcada de muitos números, que com o passar dos anos se foram perdendo, ainda hoje me serve para consulta quando rascunho estes escritos sobre essa paixão antiga.
Quando eu ia nos meus catorze ou quinze anos, apareceu por cá o Sr. Domingos Maria Peças e acabou com a irregularidade na exibição de cinema. A partir dessa altura o Alandroal passou a ter cinema com regularidade. De inverno, na cave da Sociedade Artística. No verão, nos casarões.

E é sobre esse homem, o Sr. Domingos Maria Peças, que eu hoje vou escrever.
O Sr. Domingos Maria Peças foi a pessoa que, nessa fase da minha vida, me levou para além da Casa da Mala. Levou-me à América, levou-me a França, a Itália, ao México, enfim, levou-me a todos os lugares onde se passavam os filmes que exibia.
Não que alguma vez me tivesse dado qualquer boleia ou que eu tivesse entrado nos seus automóveis.
(((A propósito dos seus automóveis, lembro-me que este homem sempre utilizou carros sport. Recordo um Alfa-Romeo e um MG de linhas distintas. Era muito estranho este gosto por carros de desporto, na medida em que tinha que alojar no seu interior todo aquele equipamento. Ora como todos sabemos os carros de desporto, têm, por conceito, muito pouco espaço interior e bagageiras pequenas. Pois bem, mesmo assim, ele lá conseguia encaixar tudo aquilo de que necessitava para nos fazer sonhar durante duas horas. E que não era pouco: Uma máquina de projectar de dimensões razoáveis, o equipamento de som que incluía aquele espectacular altifalante e ainda a caixa que transportava as bobines da fita que, a brincar a brincar, teriam aí meio metro de diâmetro cada uma. Lembro-me de pensar que as viaturas não eram nada práticas para transportar todas aquelas “alfaias”. Seria por sentido estético? Sentido estético que ele inegavelmente possuía, não tenho dúvidas. Basta recordar os critérios de escolha dos filmes.)))
Divagações. Divagações que serão facilmente desculpáveis por alguém que um dia ler estas linhas.
Mas havia mais. É que o Sr. Domingos Maria Peças era fértil em surpresas: Umas vezes anunciava um filme e trazia outro para exibir. A qualidade não estava em causa, pois, na generalidade, as fitas eram sempre de primeira linha. O que deixava era muita gente com água na boca em relação ao filme anteriormente anunciado. Que viria a ser exibido umas semanas mais tarde, regra geral.
Como tinha no Alandroal muitos amigos e era muito confiante, por  vezes não cuidava atempadamente de informar o Sr. José Luís, o contínuo da Sociedade, para tirar as respectivas licenças camarárias e avisar a GNR de que ia haver cinema. Todas estas formalidades, nesse tempo, eram indispensáveis para que a sessão se pudesse concretizar. Lembro-me que numa ocasião, foi o Sr. Janita Roma, de quem era bastante amigo, e que sendo funcionário da câmara, tratou das licenças já fora de horas. E a GNR, também apanhada desprevenida, de imediato se prestou a colaborar e nós lá assistimos ao “Monte dos Vendavais”, um dramalhão de faca e alguidar.
Mas um dia as coisas não correram bem. Não houve hipótese de passar a fita. Por qualquer motivo, não me lembro qual. E o homem do cinema acabou por jantar descansadamente na chaminé da Sociedade. E como não era pessoa para jantar sozinha, chamou alguns outros que por ali andavam. Eu era um desses. Já curioso, muito curioso por estas coisas do cinema, fiz-lhe perguntas até ele se aborrecer e deixar de responder. 

Foi quando me inteirei da forma como os filmes eram requisitados às firmas distribuidoras. Nem sempre os filmes que ele requisitava lhe eram cedidos. Havia sempre um inquérito a que tinha que responder para conseguir levantar certas películas. E quando as entregava, na volta, tinha que informar quais os locais em que as tinha exibido. Eram os sinais desses tempos, que passavam ao lado da maioria das pessoas. Mas ele – e aqui elevo a sua coragem – também tinha alguns truques e, por vezes, furava o esquema. Os que no Alandroal, hoje, têm à volta de quarenta anos, certamente se lembram das sessões semi-clandestinas exibidas já fora de horas. Das quais o recentemente falecido Dr. Xavier era um grande entusiasta.
Aqui fica esta homenagem e o meu muito obrigado, Sr. Domingos Maria Peças!

Rufino Casablanca –Terena - Monte do Meio

1 comentário:

artemiso peças disse...

SEM PALAVRAS.
O MEU MUITO OBRIGADO AO BLOG
AL-TEJO NA PESSOA DO AMIGO FRANCISCO TATA E AOS ALANDROENSES,POR CONTINUAREM A MANTER AMIZADE PELO MEU QUERIDO PAI AO LONGO DESTAS DEZENAS E DEZENAS DE ANOS
ONDE ELE ESTIVER ESTARA OGULHOSO DA AMIZADE DOS AMIGOS DO ALANDROAL.
Como prova de agradecimento ao ALANDROAL tentei através da CMM no mandato anteror
exibir uma sessão de CINEMA gratuita a toda a população
Afim de Homenagear os grandes amigos do Alandroal assim como Blog Al Tejo.
Mas infelizmente não tive qualquer resposta.
No entanto vou tentar novamente contactar a CMM afim de dar a conhecer esta minha pretensão .
Bem hajam
Artemiso Peças