Segundo
a lenda, São Cristovão ou Ofero Relicto, seu nome de baptismo, nascido em Canaã
(actual Estado de Israel), é um santo canonizado pela igreja católica.
Por
motivos que se desconhecem foi o topónimo de “São Cristovão” atribuído à
freguesia que hoje homenageamos.
A
antiguidade do seu povoamento é remota, como prova o Conjunto Megalítico do
Tojal, localizado na estrada que liga
São Cristovão ao Escoural .
Do
tempo dos romanos existe uma ponte que ainda hoje é utilizada por uma grande
parte da população local e por inúmeros pescadores que procuram a água da
Ribeira de São Cristovão que alberga o chamado “Calcanhar do Mundo” um grande
penedo no estreito e impressionante vale da ribeira, e de vários açudes existentes na zona, para
exercerem a sua actividade de lazer – a pesca de margem.
As
primeiras noticias que encontrei sobre a
freguesia de São Cristovão estão inseridas na Memória Paroquial
elaborada em 1 de Junho de 1758 pelo
cura o Padre Reverendo António Janeiro Broeiro e da qual seleccionei as
seguintes passagens:
“No
termo da Notável Villa de Monte mor o novo da Província do Alentejo Comarca e
Arcebispado da cidade de Évora para a parte que fica entre o Sul e o Occidente
foi erecta a Igreja de Sam Chistovão que he Freguezia curada por hum Cura, ou
Paracho do habito de Sam Pedro da aprezentação do Excelentíssimo e
Reverendíssimo Senhor Arcebispo de Évora; he filial da Igreja de Nossa Senhora
do Bispo Matris da dita Vila.
Não
há noticia da antiguidade da fundação da Igreja desta freguezia mas do livro da
vezitas consta que na hera de mil e quinhentos, setenta e seiz já hera Igreja
Curada.
He
de uma só nave tem a porta principal para o Ocidente, e o Corpo da Igreja athe
ao arco da capella mor tem de comprido sacenta e quatro palmos e de largo vinte
e hum, e a capella mor tem dezanove palmos de largo, e vinte de comprido. No
seu altar esta o Sacrario em que esta depozitado o Santissimo sacramento para
se admenistrar aos enfermos, e se colocou nelle a vinte e sinco de Março de mil
e seisssentos e noventa e nove, por delegencia do Padre Bertholameu Nunes,
Bispo
Está
collocada a imagem de Sam Christovão que he o Orago da Caza e se festeja todos
os annos no seu dia pello Juis e mordomos que se elleguem em cada hum anno mas
não tem Irmandade.
Inclue
esta freguezia em si sento e tres vizinhos a saber na Aldeya trinta e sete em
herdades e em courelas e em cazais sacenta e seiz”.
Também
Mestre Túlio Espanca no seu Inventário Artístico de Portugal se refere à Freguesia de São Cristovão:
“A
aldeia é grande, antiga e populosa. Priorado do hábito de S. Pedro e da
apresentação do Arcebispado de Évora.
Desconhece-se
a data da fundação da igreja paroquial cujas origens remontam, segundo o exame
de arquitectura da ábside, aos primórdios do séc. XVI, e foi visitada
eclesiasticamente pelo padre Gomes, em nome do bispo-infante D. Afonso em Outubro de 1534, data em que se reparou a sua
cobertura por chover nela. Em Março de 1699 passou a ter Santíssimo permanente,
sendo cura o padre Bartolomeu Nunes Bispo.
A
portada, de granito, arquitravada, tem bases de rectângulos esculpidos com
elementos fito-zoomórficos, barroco, típicos do séc. XVII.
Sobranceiro,
em chão pelado do adro, fica o cruzeiro, de pedra, adulterado nos volumes
originais.
Na
ilharga da cabeceira, de empena triangular, altaneiros e pitorescos levantam-se
dois campanários de frontões singelos, que abrigam dois sinos de bronze
fundido, modernos (1910-1995). O primeiro foi feito em Braga por João Ferreira
Lima.
O
interior do templo, muito extenso, dispõe-se em nave de planta rectangular e
capela-mor quadrada, sendo esta relíquia de arquitectura gótica da 1.ª metade
de quinhentos. Teve retábulo e sacrário, destinado ao S. Sacramento, inaugurado
no dia 25 de Março de 1699, por diligência do cura Bartolomeu Nunes Bispo, com
licença do arcebispo fr. D. Luis da Silva.
O
retábulo, que chegou até c.ª de 1950, era peça do estilo barroco, da época de
D. Pedro II, de talha dourada e fundo azul, com colunelos salomónicos, cujos
fragmentos subsistem nos depósitos da igreja. Do arranjo que o apeou, empobrecendo
o recinto sagrado e diminuindo os valores sumptuários, ficou visível a caixa do
trono dentada de degraus de alvenaria, em cujo topo escapou, intacto,
felizmente, o titular, S. CRISTOVÃO,
curiosa e robusta escultura de madeira ligeiramente estofada, talvez ainda
quinhentista, que sobreleva sobre o ombro esquerdo o DEUS MENINO, em posição graciosa e infantil, além do pinheiro a
que se apoia, no braço direito e tendo neste, enfiada, a simbólica mó de
moinho. Mede de altura 1,40 m. e foi restaurada em Lisboa, no ano de 1969.
O
Baptistério é de secção quadrada, com abóbada de meia laranja, lisa. A pia, de
calcário e forma octogonal, é dos fundamentos da paróquia. No nicho perietal,
expõe-se S. João Baptista, pequena imagem de lenho dourado.
Dimensões
da igreja: nave – comp. 14,50 x larg. 4,95 m. capela-mor: 4,10 x 4,10m.
A
paróquia possui livros manuscritos de “Visitações Eclesiásticas”, desde 1570.
Na
aldeia existem três pequenos nichos-oratórios, baptizados pelo povo de
cruzeiros, feitos de alvenaria singela e com empenas triangulares, inicialmente
destinados a estações da Via Sacra das procissões do Senhor Jesus dos Passos e
depois para repouso de cortejos fúnebres”.
Acontecimentos
*
No dia 25 de Novembro de 1930 foi fundado o Grupo União Sport Sancristovense
(filial do GUS). O GUSS possui
sede própria e campo de jogos, electrificado desde 2001, e é um dos
principais centros de actividades desportivas e recreativas da população local.
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No dia 6 de Julho de 1948 São Cristovão esteve em festa, pois procedeu-se à
inauguração da luz eléctrica. A lâmpada
incandescente substituiu o tradicional candeeiro a petróleo.
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Em Plenário realizado em São Cristovão no ano de 1981, a Câmara Municipal
decidiu comprar um edifício para a Junta de Freguesia, creche e posto médico,
bem como, iniciar obras de reforço do abastecimento público de água,
arruamentos e ampliação do cemitério.
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Nesse mesmo ano de 1981, São Cristovão recebeu a primeira Assembleia Municipal
realizada fora da sede do concelho.
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Em 1993 iniciou-se a obra de construção do Centro Cultural, orçada em 9.000
contos.
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A obra do Polidesportivo iniciou-se em 1997.
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No dia 17 de Julho de 2000 foi inaugurada a sede da Associação de Caçadores e
Pescadores.
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Brasão e bandeira – A ordenação heráldica do brasão e bandeira foi publicado no
Diário da República, III Série de 24.07.2002.
Armas
– Escudo de prata, com maca de madeira nodosa de vermelho, movente de campanha
diminuta de três burelas ondadas de azul e prata, entre duas gavelas de espigas
de trigo de verde, atadas de vermelho. Coroa mural de prata de três torres.
Listel branco, com a legenda a negro: “S.
CRISTOVÃO – MONTEMOR-O-NOVO”
Simbologia
A
maca de madeira – Representa o orago da freguesia – São Cristovão.
As
gavelas de trigo – Representa a supremacia da agricultura entre as actividades
exercídas na freguesia.
As
burelas ondadas de azul e prata – Representam a ribeira de São Cristovão, um
dos locais de grande interesse na freguesia.
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Depois de uma longa espera de mais de uma dezena de anos, a Estação de
Tratamento de Águas Residuais começou a funcionar em 2009.
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Em 2012 a Junta de Freguesia e vinte moradores aceitaram o desafio da jovem
arquitecta Verónica Conte e mudaram o visual da paragem do autocarro e das
fachadas das casas, com símbolos e frases pintadas pela própria arquitecta nas
frontarias dos prédios. As televisões, as rádios e a imprensa escrita deram
conhecimento desta iniciativa, e tal facto trouxe até à aldeia muitos turistas
desejosos de verem ao vivo este interessante trabalho.
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O maior talego do mundo – Na sequência da ideia lançada pela Junta de
Freguesia, mais de sessenta sancristovenses recriaram o tradicional talego
alentejano, desta vez com 10 metros de comprimento e 8 metros de largura. Esta
obra, inaugurada em 6 de Julho de 2013, que representa as tradições locais e o
espírito comunitário, é também um convite à reciclagem e à reutilização de
materiais. Foram aproveitados 832 retalhos com 50 centímetros de lado, que
perfazem 160 m2 de tecido, e foram usados 11.000 metros de linha. Mais uma vez,
as televisões, as rádios e os jornais, deslocaram-se até São Cristovão para
fazerem reportagem sobre este acontecimento, que atraiu à aldeia inúmeros
turistas para apreciarem este trabalho artesanal.
Esta
obra de arte encontra-se depositada na Junta de Freguesia, onde está à
disposição dos interessados, e fica
muito feliz quando a visitam.
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Em Abril de 2016 a aldeia de São Cristovão foi distinguida pela Vortex Magazine
– portal de língua portuguesa dedicado à divulgação de temas relacionados com a
sociedade, cultura, viagens, tecnologia e vídeos, como uma das três aldeias
mais bonitas do Alentejo, juntamente com Porto Covo (Sines) e Santa Susana
(Alcácer do Sal).
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No ano seguinte a Vortexmag inclui São Cristovão no rol das sete aldeias a
visitar no Alentejo. Além de São Cristovão, fazem parte desta lista, Santa
Susana (Alcácer do Sal), Évora Monte (Estremoz), Alegrete (Portalegre), Porto
Covo (Sines), Flor da Rosa (Crato) e Terena (Alandroal).
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Finalmente chegamos a 2018 (Centenário da Freguesia), e além da habitual
recepção aos participantes na Romaria a Cavalo – Moita – Viana do Alentejo e
das tradicionais Festas em Honra de São Cristovão e de São Sebastião, e que
este ano comemorou o 30.º aniversário da primeira corrida de touros cá
realizada, ocorreram os seguintes eventos:
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No dia 13 de Julho, na abertura das tradicionais festas anuais, que se
prolongaram por quatro dias, foi inaugurada a exposição “São Cristovão, 100
anos, 1918-2018, em que todos os meses será exposto um objecto ou um documento,
relacionado com a história da freguesia.
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Neste mesmo dia, mas na Escola Primária procedeu-se à cerimónia da inauguração
da “Placa Comemorativa do Centenário”.
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No dia 28 de Julho pelas 10,30 horas no Largo 1.º de Maio foi inaugurado um
“Ginásio ao Ar Livre”. Praticar exercício ao ar livre é benéfico para o corpo e
para a mente, e neste caso, com uma vantagem adicional: não terá de pagar para
utilizá-lo.
Além
da simpatia das suas gentes, a aldeia branca e acolhedora de São Cristovão
dispõe de uma boa restauração. Os visitantes não podem regressar às suas terras
sem saborearem a boa gastronomia local: coelho à São Cristovão, achigã à São
Cristovão, sopa de cação, pezinhos de coentrada, galinha de cabidela, javali,
ensopado de borrego, e outros pratos típicos da região temperados com as
famosas ervas aromáticas, e ainda, deliciarem-se com as deliciosas sobremesas
caseiras.
A
freguesia de São Cristovão tem 156,33 Km2 de área e 540 habitantes (censos de
2011). A sua densidade populacional é de 1,7h/Km2.
Como
a maioria das freguesias do interior, São Cristovão também perdeu habitantes –
214 em relação aos censos de 2001. Mas,
mesmo com estas “baixas”, os sancristovenses não perderam o dinamismo como
prova o extenso trabalho realizado.
Augusto Mesquita
Agosto/2018
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