CLÁUDIA SOUSA
PEREIRA
JOÃO CUTILEIRO
A semana que passou teve duas estreias do nome maior da Cultura
portuguesa contemporânea, o escultor João Cutileiro: um documentário intitulado
“A Pedra Não Espera” de Graça Castanheira, e que circulará pelas habituais
plataformas em que estes documentários se podem rever, e uma exposição de todas
as maquetes existentes que o Mestre-escultor fez para obras que estão expostas
e foram expressamente feitas para estarem no espaço público. A exposição pode
ser vista no Museu de Évora até Outubro.
E
depois? Depois, haveria de ficar exposta, juntamente com o espólio que
Cutileiro ofereceu ao País e à Cidade, num lugar que também já existe e que é a
sua casa. Para quem vive ou conhece Évora, a cidade que João escolheu como
muitos outros para viver, fica ali muito perto do seu Arco Triunfal que, à data
de inauguração, tantas vozes de burro fez soar. Soube desta intenção há
meia-dúzia de anos, como ideia a formar-se e que só depois encontrou um formato
que sempre me pareceu o possivelmente ideal. O objectivo disse-o Cutileiro, na sua
sempre frontal maneira de dizer o que pensa e o que quer, em 2016 era então
Ministro, por pouco tempo, João Soares: “Para poupar os meus filhos de ficarem
com isto, palavra de honra”, acrescentando que o “espaço seja utilizado para
fins culturais/académicos relacionados com a sua produção artística,
nomeadamente para o estudo e formação na área da escultura em pedra, onde se
incluem actividades relacionadas com a realização de exposições, residências
artísticas, visita e fruição pública”.
Parece
que a “coisa” tem andado embrulhada. Que falta a assinatura do Governo a
aceitar a doação, dizem. Eu que com a experiência de gestões várias deixei de
fazer aquele exercício retórico de café em que se diz “Se eu mandasse nisto”,
porque sei que mandar não é fácil e o que se manda fazer hoje muitas vezes
deixa de ter a urgência passado algum tempo, voltei a sentir esse impulso. São
três as entidades que gerirão o espólio de Cutileiro: a Direcção Regional de
Cultura do Alentejo, organismo descentralizado do Estado, a Universidade de
Évora e a Câmara Municipal de Évora. Nesta, a maioria absoluta deveria dar o
conforto de trabalhar afincadamente num dossier que se considerasse de
interesse primordial, na área da Cultura em que a cor ideológica dos que lá
mandam sempre reclamou ser seu monopólio tratando os outros como amadorzecos no
assunto; a Universidade de Évora que goza de uma autonomia excepcional no
contexto da administração pública e que também afirma continuar a apostar nas
Artes; e a Direcção Regional que, imagino, reunirá com quem a tutela mais vezes
do que qualquer empenhada instituição cultural deste País. Porque se arrasta há
três anos este gesto maior da Cultura no Alentejo? O culpado estará certamente
ali mais adiante e as coisas embrulham-se como a lentidão dos dias do Estio ao
Sul.
Isto
vai acontecer, João, ai vai, vai! Mas o que eu gostava que tu estivesses ali no
momento solene das assinaturas… Para dares com a força toda essa marretada com
que ao longo da tua vida descobriste na Pedra a Arte que nos dás, e de que
viveste sempre sem pudores de ganha-pão. E a deixares-nos a nós a criação maior
do que distingue a Humanidade do resto da Natureza: a criatividade. O que eu
gostava, João. Ai, se eu mandasse nisto!…
Até
para a semana.
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