quinta-feira, 21 de junho de 2018

CINEMA - CRONICA DE Rufino Casablanca

Terminado o Ciclo dedicado aos Presidentes dos Estados Unidos da América e continuando a debruçar-se sobre as obras do realizador Gustavo Menendéz, Rufino Casablanca relata-nos em duas cronicas (hoje uma, próxima semana outra) uma figura lendária da história mexicana:  Pancho Villa.

“Pancho Villa 1” – filme de média-metragem de Gustavo Menendéz. (duração: 55 minutos)
Gustavo Menendéz foi autor de dois filmes sobre Pancho Villa. Este, sobre o qual agora escrevemos, e um outro que o próprio realizador titulou como “Pancho Villa 2”. O “Pancho Villa 1”, embora de média metragem, é uma ficção, e pretende contar a infância e os anos de adolescência, ainda no Século XIX, daquele que viria a ser um dos mais destacados elementos da Revolução Mexicana do início do Século XX. O outro, é um documentário montado ao estilo de Gustavo Menendéz, com fotos, filmagens e testemunhos de historiadores especialistas da época.
Mas este, o “Pancho Villa 1”, é uma obra de ficção, e é como tal que o vamos apreciar.
Assim:
“Lá pelos idos de 1878, na região do Rio Grande, norte do México, ali mesmo na fronteira do estado norte-americano do Texas, nasce Doroteo Arango. Era filho de um peão que, como todos os peões de fazenda, vivia numa pequena casa de adobe, no interior da própria fazenda. Era a forma que os grandes  agrários (terratenientes, assim lhes chamavam no México) utilizavam para ter sempre à mão quem os servisse. Era um costume da época e do país, e, de certo modo, o peão era também propriedade do dono da hacienda. E assim foi criado o nosso Doroteo, juntamente com um rancho de irmãos, e com mais fome ou menos fome, naquela “hacienda” que se situava nas margens do rio que faz fronteira entre o México e os Estados Unidos da América. Até que um dia, era ele muito novo ainda, chegou a vez de, ele próprio, ser também peão. Era a sina dos pobres naqueles tempos. Pai peão, filho peão. Mas… mas… o patrão… um dia porque sim (que mais se pode dizer de uma acção daquelas), violou uma das irmãs do Doroteo. Azar dele. No dia seguinte, o Doroteo cortou-o às postas com uma catana. Depois desta cena, o nosso homem fugiu para os Estados Unidos. Voltou passados poucos meses, mas com outro nome: Francisco Villa. E é já com o novo nome que forma uma quadrilha de salteadores que, num lado e noutro do Rio Grande, assaltou tudo o que lhe pareceu proveitoso, tirando disso muito proveito e dividindo com os mais necessitados. Digamos que era um bandido amado pelos mais humildes. Uma espécie de Robin dos Bosques. E só dessa forma se explica que não tivesse sido preso quando as autoridades do México e dos States se encarniçaram em dar-lhe caça nos dois lados do Rio Grande. Ele fintava-os devido ao extremo conhecimento que tinha da região e ao apoio da população. Nesta situação se encontra Francisco Villa, Pancho Villa, como era chamado, quando estala, em 1909, a Revolução Mexicana”.
E pronto, The End para o filme “Pancho Villa 1”.
Título Original: “Pancho Villa 1”
Ano de Produção: 1966
Realização: Gustavo Menendéz
Argumento: Gustavo Menendéz
Produtor: Gustavo Menendéz
Elenco: Ênio Gorender, Arnald Fenelon, Vera Rossi, Edgar Moura, Áspasia Dupont…

(---- Quando no ano passado, por mero acaso, na festa anual do “Mundo Obrero”, órgão oficial do Partido Comunista de Espanha, que se realizou na Casa del Campo, nos arredores de Madrid, reencontrei Federico Gallego Acrol, amigo desde o tempo em que ambos trabalhávamos numa multinacional ligada à edição discográfica, em Montevideu, Uruguai, estava longe de pensar que ele me daria um dos mais belos regallos que eu jamais tinha recebido. Nada mais nada menos que uma colecção completa dos filmes de Gustavo Menendéz. – Assim mesmo, novinha em folha, ainda na embalagem de origem, made in México. – Uma colecção de vinte e cinco cassetes VHS. Tantas quantos os filmes realizados por aquele autor mexicano. Todos os filmes. Tanto os realizados nos Estados Unidos e os realizados no México. «E como estava o meu amigo Federico na posse de tal acervo?» – quis eu saber – resposta rápida do uruguaio – «Depois de nos termos separado, em 73, na minha cidade de Montevideu, a polícia e a tropa do Bordaberry, aquele chulo, nunca mais me largou a braguilha, e tive que fugir para o México, deixando tudo para trás». Estava explicada a “fortuna” do meu amigo. Mais tarde, disse-me que quando emigrara para o México, fugindo à polícia política uruguaia, tivera algumas dificuldades em arranjar trabalho nesse país, mas que quando encontrou Gustavo Menendéz que, por sua vez, também vinha corrido dos States, todos os problemas se resolveram, passando a fazer parte da equipa de produção cinematográfica de Gustavo. E assim se explica estar eu agora na posse desta extraordinária colecção de filmes (suponho que única no país), de um realizador que é hoje considerado um autor de culto em toda a América Latina e também nalguns meios dos Estados Unidos ---)
O que há a dizer sobre este “Pancho Villa 1”, está escrito aqui acima e pronto. Apenas mais uma palavra para destacar a excelente interpretação dos actores, não obstante o facto de serem todos amadores.
 Rufino Casablanca – Monte do Meio – 1996.



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