Nas duas obras que Gustavo Menendéz dedica a Pancho Villa, só a
primeira é na modalidade de ficção. A segunda, sobre a qual hoje aqui se
escreve, tem o formato de documentário, e diz apenas respeito à perseguição que
lhe foi movida pelas tropas norte-americanas. Essa perseguição, a que os
americanos (do norte, bem entendido), chamaram “Expedição Pershing”, foi
comandada exactamente pelo general Pershing, um militar que mais tarde, muito
mais tarde, já depois da sua morte, viria a ter a honra de dar o nome a um
míssil extraordinariamente eficaz. Segundo Gustavo Menendéz, tudo começou
quando Pancho Villa se viu acossado, durante a guerra civil que se seguiu ao
deflagrar da revolução, pelas tropas regulamentares mexicanas. Saltou para o
outro lado da fronteira, acompanhado da sua própria tropa, e em Março de 1916,
tomou de assalto a cidade de Columbus, no estado do Novo-México, território já
então norte-americano. Isso foi uma ofensa que os ianques nunca poderiam
tolerar, e muito bem, diga-se de passagem, pois tratava-se da invasão de um
país vizinho. A tropa invasora, como será bem de ver, não se portou lá muito
bem, tendo os desmandos sido mais que muitos, para além de algumas atrocidades
que hoje seriam classificadas como atentatórias dos diretos humanos.
As tropas
de Pancho Villa, roubaram o que tinham que roubar, sobretudo as armas nos
paióis militares da cidade, e de caminho ainda tomaram de assalto outra cidade
norte-americana, Glenn Springs, para ser mais exacto, e aqui morreram vários
soldados dos américas e foram incendiadas algumas casas. Soaram todos os
alarmes em Washington e lá se forma a “Expedição Pershing” que entra pelo
México dentro com a missão expressa de dar uma valente lição ao bandido Pancho
Villa. Três mil homens, era o número de efectivos daquela expedição. Dela
faziam parte dois jovens tenentes que viriam a dar que falar durante a 2ª
Guerra Mundial: Eisenhower e Patton. Na expedição não puseram a vista em cima
de Villa, e a situação pode resumir-se neste telegrama, enviado pelo comandante
da tropa norte-americana para o seu quartel-general: “Que raio de homem este
que parece estar em todo o lado e ao mesmo tempo em lado nenhum.”
A expedição punitiva Pershing acabou por não punir coisa
nenhuma. Andaram vagueando por todo o norte do México, meteram o nariz em todo
o lado e nem sequer puseram a vista em cima do
Pancho.
O documentário está muito bem montado e tem testemunhos de
muitos e variados especialistas da época. Tanto mexicanos como
norte-americanos. Está também muito bem documentada no que diz respeito a
filmes da altura e com uma enorme abundância de fotografias, sobretudo sobre o
funcionamento interno da expedição que se destinava a punir Pancho Villa. Já
por essa altura se sabia que os Estados Unidos eram uma grande potência
militar, pois é perfeitamente visível a preparação dos seus homens, sobretudo na
eficácia demonstrada na forma como a sua engenharia construía pontes sobre os
rios que encontravam no caminho e que permitiam a passagem dos efectivos num
espaço de tempo muito rápido. É também visível no documentário o excelente
serviço de logística que permitiu o desenrolar de toda a operação sem que às
tropas faltassem os meios indispensáveis para o bom término daquilo que se
propunham. Está ali bem patente a forma eficaz como se abastece um grande grupo
expedicionário. Está bem à vista porque o corpo expedicionário americano, uns
anos depois, quando a América se decidiu finalmente a entrar na hoje chamada 1ª
Guerra Mundial, na altura denominada como Grande-Guerra, resolveu rapidamente a
situação, ganhando rapidamente para o lado dos Aliados, o conflito que há
quatro anos (1914-1918) dilacerava a Europa.
Documentário 5 estrelas. É esta a nossa classificação final!
Rufino Casablanca – Monte do Meio – 1996
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