CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
ERA
AQUARIUS?
Lembro-me de um filme musical intitulado Hair que retratava a
alucinada década mundial de 60 , nomeadamente a alucinação por LSD dos hippies
e a do napalm no Vietnam, em que a canção Aquarius dizia qualquer coisa como:
quando a Lua estiver na sétima casa e Júpiter alinhar com Marte, então a paz
guiará os planetas e o amor conduzirá as estrelas.
Com
este relevante episódio do navio Aquarius na saga da migração para a Europa,
também eu tenho esperança que aquela que se designa como uma comunidade unida,
ganhe vergonha e se dedique ao trabalho político que esta matéria cíclica da história
da Humanidade requer.
Tive,
não há muito tempo, contacto com várias redes de Cidades que se juntavam por
interesses comuns. Trabalhando por uma política comum, ainda que atenta a
especificidades de cada um dos seus membros, tentava-se levar a cabo esse
trabalho de maneira a que essas características partilhadas fossem beneficiadas
e servissem os respectivos cidadãos. Algumas dessas Cidades teriam até ambições
maiores do que as práticas reais e vigentes que as faziam pertencer a esta ou
aquela rede, mas o objectivo era precisamente que esse comprometimento servisse
para que, passo a passo, se alcançasse a missão de o ser. À maneira da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, carta para alguns dos assinantes
muito mais de intenções do que de práticas em vigor.
A
União Europeia, para lá de um óbvio e omnipresente sistema financeiro-económico
que a deve sustentar, assenta na solidariedade entre os seus membros, mas não
só, que o próprio termo União que lhe está na génese determina. O assunto dos
migrantes – refugiados de uma situação humanamente insustentável – que procuram
a Europa merece mais do que dichotes entre chefes de Estado e de Partidos que
compõem os seus Estados membro. Merece deputados e comissários europeus
empenhados, atentos e incómodos para com aqueles Estados que não cumprem as
regras básicas da Comunidade a que pertencem. Não basta criticar algumas
atitudes dos que são constantemente chamados a abrir portas a todos quantos
lhes caiam semi-inanimados nos braços, muitas vezes e só porque geograficamente
é neles que está o acesso mais fácil. Não basta criticar os que impõem regras
mais apertadas porque as suas situações económicas se tornam mais atraentes
para receber novas gerações de um fluxo migratório tradicional.
Importa,
não apenas evitar cuidadosamente os que sem escrúpulos se aproveitam da
fragilidade dos recém-chegados, e falo dos traficantes de seres humanos para
fins vários, como importa ajudar os que tendo muitas condições e boas intenções
para receber refugiados e/ou migrantes não têm os atractivos que os fazem
permanecer e juntar-se a uma comunidade aumentando-a e enriquecendo-a, sem
serem criadas descriminações geradoras de conflito. Não há-de ser fácil –
ninguém terá dito que era – mas não deverá ser impossível se o fim for nobre,
positivo, humano e os processos não se desviarem desses portos,
independentemente da dureza da rota. Oxalá este episódio do Aquarius como numa
história bem contada que faz nela mergulhar leitores à procura de um final
feliz, represente o início de uma nova Era. Afinal, foi assim com os Livros que
fizeram tantos ligarem-se em torno de Um.
Até
para a semana.
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