EDUARDO LUCIANO
RAZÕES PARA UMA PRESENÇA
Nas
duas últimas semanas não me foi possível estar na vossa presença com a habitual
crónica modesta que faço questão de vos contar há uma dúzia de anos.
Para as três ou
quatro pessoas que costumam ouvir ou ler o que escrevo, os meus pedidos de
desculpa mas, de facto, era-me impossível cumprir o ritual.
Não, não estive
doente nem fui de férias para uma ilha paradisíaca. Também não estive tão
assoberbado de trabalho que me fosse impossível gastar meia-hora a cumprir esta
obrigação.
Apenas senti que
não tinha nada que valesse a pena dizer sobre os assuntos que o sistema de
informação padronizada nos coloca ao dispor para opinemos a preto e branco.
De que iria eu
falar? Do fantástico espectáculo de interrogatórios judiciais tornados públicos
para gáudio de quem anda à volta dos esgotos a farejar podres que tornam santos
quem os fareja?
Das intermináveis
horas de futebolês nas televisões, sem que se veja uma única vez a bola a
rolar?
Poderia sempre
discorrer sobre os cornos de um ex-ministro ou o seu alegado projecto de
garantir a reforma segura, mas nem quero acreditar que um banqueiro seja tão
poderoso que consiga influenciar na formação de um governo do velho arco.
De que iria eu
falar então, nas últimas duas semanas? Da contínua forma estranha de fazer
política local, recorrendo à calúnia, ao lançamento de suspeitas, à utilização
de perfis falsos nas redes sociais?
Sempre poderia
opinar sobre o encontro entre os presidentes das Coreias, do ataque do regime
dos Estados Unidos à Síria com o mesmo fundamento com que arrasaram o Iraque ou
colocaram as botas no Vietnam, mas seria opinar sobre lugares comuns que
repetem, mudando alguns actores e mordomos.
Perante tanta
ausência de motivo para opinar, resolvi primar pela presença no mundo real
ausentando-me por duas semanas da ilusão de que o que vos digo serve para
alguma coisa para além de me divertir.
Justificações
dadas, gostaria de vos deixar o desafio de pesquisarem um pouco sobre o Maio de
68, ou de reflectirem sobre como a cadeira grande da CGD se transformou na
placa giratória para ex-governantes e gente ligada ao PS, PSD e CDS, transformando
o banco público num instrumento ao serviço do poder económico relegando para
última plano o interesse nacional.
Diz a minha prima
Zulmira que a vida não se vive aos quadradinhos. Por isso, tirem os olhos desse
monitor e respirem os odores da outra prima, a Vera. A Primavera.
Até para a semana
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