quinta-feira, 3 de maio de 2018

CINEMA - TEMÁTICA: PRESIDENTES USA - Por Rufino Casablanca

                   “Eleanor Roosevelt – Filme de Gustavo Menendéz
 É um velho truque do cinema e da literatura – sobretudo dos biógrafos profissionais, como parece ser o caso de Gustavo Menendéz  –  fazer uma biografia ou um pico biográfico da mulher, para falar do marido. O contrário também é válido: biografar o marido para falar da mulher, embora seja muito menos vulgar.
E se Eleanor Roosevelt merece, por si própria, uma biografia – tanto literária como cinematográfica – que aliás já existe, já está feita, e já por aí circula nessas duas modalidades artísticas – a verdade é que, neste caso, o pretexto é mais que óbvio. Gustavo Menendéz trás Eleanor à colação para poder falar no marido, Franklin Delano Roosevelt, 32º presidente dos Estados Unidos da América. Esta biografia de Eleanor termina quando o marido morre em 1945, o que é muito estranho, pois ela ainda por cá andou durante muitos anos, (exactamente até 1962, ano em que faleceu) e foca, sobretudo, os anos em que ele foi presidente. O filme tem 130 minutos de duração, o que é muito raro em Gustavo Menendéz, realizador especializado em curtas e médias metragens. No que a nós diz respeito, esta é a única longa metragem que lhe conhecemos. E é-nos apresentada como biografia romanceada sendo, portanto, uma ficção. Começa com o casamento de Eleanor e Franklin, em Março de 1905, e a grande curiosidade que despertou deveu-se ao facto da noiva ser levada ao altar pelo presidente dos States, Theodore Roosevelt, que era, aliás, seu tio. Foi um acontecimento muito badalado nos meios mundanos americanos, pois ambos os noivos ostentavam o apelido Roosevelt, o que queria dizer que pertenciam a uma das mais antigas famílias da américa, todavia de ramos diferentes. 
Há depois – no filme – um intervalo de quase trinta anos, ignorando o tempo em que lhes nasceram seis filhos, em que o marido da Senhora desempenhou as funções de Subsecretário de Estado da marinha americana, durante a presidência de Woodrow Wilson, 28º presidente dos States, que governou o país de 1912 a 1920, e o período em que deixou para trás as ideias do partido republicano e se aproximou do partido democrático. Foi muito o tempo em que não soubemos deste casal ou, pelo menos, da vida da biografada, já que do marido não tinha que nos contar nada, pois a retratada era ela. E eis que, subitamente, em Novembro de 1932, mês em que Franklin D. Roosevelt foi eleito pela primeira vez, a biografia de sua mulher é retomada. É uma casualidade muito grande e que nos deixa desconfiados sobre as verdadeiras intenções, do realizador. Bem, mas como não estamos aqui para avaliar as intenções do realizador, mas sim para comentar o filme, sigamos adiante.
Título Original: “Eleanor”
TÍtulo Português: (não existe porque o filme não passou no circuito comercial em Portugal)
Ano de Produção: 1965
Realizador: Gustavo Menendéz
Argumento: Gustavo Menendéz
Música: Ivo de Ercílla
Elenco: Alice Arthur, John Johnson, Benjamin Pierce, James Grant, Harry Tailer, Thomas Hayes ….
O argumento foca com muita ênfase o facto de Franklin Roosevelt ter sido o único presidente americano a ser eleito quatro vezes consecutivas, coisa que a partir daí deixou de ser possível devido a uma emenda efectuada na constituição americana, e as diversas cimeiras que o presidente realizou com outros líderes mundiais, nomeadamente as de Teerão, Cairo e, naturalmente, a de Yalta, que tem maior visibilidade e se considera a mais importante, sendo que de facto o foi. A participação de Eleanor nestas viagens, fossem elas por terra, mar ou ar, limitou-se à de acompanhante, pois não teve a mínima influência nas decisões tomadas. No regresso destas reuniões, quando de volta a Washington, os adversários políticos de Franklin, sempre muito encarniçados, porque em tempo de guerra, as questões internas sempre são descuradas, atiravam-se ao presidente que nem gatos a bofe, acusando-o até, no plano externo, de ter cedido a todos caprichos de Estaline. E foi nessas ocasiões que o apoio de Eleanor ao marido foi de maior importância. Mas deixemos o presidente de fora e registemos que depois da morte deste, em 1945, não se refira que Eleanor foi embaixadora dos Estados Unidos na ONU e que teve uma participação muito activa na aprovação da Declaração Mundial dos Direitos Humanos. E que, pouco antes de morrer, presidiu à Comissão de Honra para a Eleição de John Kennedy.
Por tudo isto, e por outros aspectos importantes da vida desta mulher que o filme não refere, achamos que não é uma biografia conseguida. Não está de parabéns o Gustavo Menendéz. Valeu apenas pela forma como denuncia a hipocrisia daqueles que se opunham a Franklin Delano Roosevelt no plano da política interna.
 Rufino Casablanca – Monte do Meio – Maio de 1997


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