MARIA HELENA
FIGUEIREDO
25 DE ABRIL: O DIA EM QUE NOS TORNÁMOS
REALISTAS E EXIGIMOS O IMPOSSÍVEL
Depois
de amanhã estaremos mais uma vez a celebrar o 25 de Abril.
Celebramos o dia em que a Liberdade nos bateu à porta pela mão dos
jovens capitães. Mas celebramos – e é isso que eu celebro – o dia de todas as
esperanças. O dia em que nos tornamos realistas e exigimos o impossível!
Para nós mulheres, apesar de pouco se falar disso e de nós
próprias muitas vezes nos esquecermos , o 25 de Abril foi duplamente
libertador.
Libertou-nos de um regime político que nos oprimia e nos negava as
liberdades mais básicas enquanto cidadãs, e abriu também o caminho da igualdade
entre homens e mulheres, um caminho que foi e é feito de muitas lutas, que está
ainda longe de ter chegado ao fim.
Mas ainda assim é importante que nos recordemos que no 25 de
Abril, nós mulheres eramos pouco mais que invisíveis. Relegadas para um papel
secundário, muitas eramos “formatadas” exclusivamente para o papel de mãe e
dona de casa.
As mulheres tinham em Portugal um estatuto – mesmo jurídico –
brutalmente discriminatório: Estavam-lhe vedadas algumas profissões. Não
podiam, por exemplo, ser juíz ou diplomata. Noutros casos as mulheres
precisavam de autorização especial para casar e, nalgumas profissões – como
hospedeira de bordo – o casamento era proibido.
As casadas não podiam viajar para fora do país sem autorização dos
maridos e estes tinham o direito de lhes abrir a correspondência. Aos maridos
cabia o estatuto legal de chefe de família o que não era coisa pouca, já que
lhes dava o direito de administrar os bens das mulheres, tomar as decisões
sobre os filhos.
Numa sociedade autoritária e muito conservadora, votavam apenas as
mulheres que tinham o estatuto de chefe de família, o que acontecia por exemplo
às viúvas, e era preciso ter um grau de escolarização médio enquanto que os
homens podiam se analfabetos.
É bom também lembrar que o divórcio não era permitido em Portugal,
antes do 25 de Abril e que os filhos nascidos fora do casamento eram registados
como ilegítimos, um ferrete à época pesado para muita gente.
Muitos destes anacronismos só terminaram em 1976 com a revisão do
Código Civil, e tudo isso só foi possível graças ao 25 de Abril e, claro, à
luta das mulheres.
Para muitas jovens tudo isto poderá parecer irreal e até
fantasioso. E ainda bem que assim é, porque significa que nasceram e vivem já
numa sociedade mais igualitária.
Andámos muito nestes 44 anos, avançamos muito, é certo, mas há
tanto ainda por fazer!
Em Portugal as mulheres são ainda mais afectadas pelo desemprego e
continuam a ter a remuneração quase 20% mais baixa que os homens, apesar de
terem mais formação.
E continuam a ser as mulheres as principais vítimas de violência
de género e as mortes continuam a somar-se. Mais preocupante ainda é que os
comportamentos violentos verificam-se logo no namoro e os últimos estudos dizem-nos
que atingem 56% dos jovens. Pior, muitos e muitas jovens acham isso normal.
Também está longe de ser cumprida a paridade de género no
exercício de cargos de decisão nas empresas, nos serviços públicos, no
Parlamento. Continua a ser preciso impor quotas e regras para a participação
das mulheres na vida pública e, infelizmente, continuamos a ver responsáveis
políticos a oporem-se a tal.
Por isso é preciso que o 25 de Abril seja um dia de festa, mas
também um dia de luta.
Luta pela mudança, pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Porque afinal o impossível está nas nossas mãos.
Viva o 25 de Abril!!!
Luta pela mudança, pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Porque afinal o impossível está nas nossas mãos.
Viva o 25 de Abril!!!
Até para a semana!
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