quinta-feira, 26 de abril de 2018

CINEMA - TEMÁTICA: PRESIDENTES U.S.A.

                                               A Batalha de Little Bighorn
                            Um filme de Jonathan Clark (pseudónimo de Gustavo Menendéz)
Fanfarrão, vaidoso, egocêntrico, eram alguns dos epítetos com que os colegas de armas mimoseavam o general Custer. George Armstrong Custer era um dos mais jovens generais do exército dos Estados Unidos da América lá pelos anos setenta do século dezanove. Tinha sido distinguido com as maiores honrarias militares devido ao seu comportamento valente, mas muitas vezes inconstante e arriscado, na recentemente terminada Guerra da Secessão, cruel guerra civil que tinha oposto os americanos do norte aos americanos do sul, e que teve como pretexto a questão esclavagista. Custer era também conhecido pelos fardamentos extravagantes, que escolhia para se pavonear pelos salões da nova burguesia emergente desse conflito interno, que chegou a pôr em causa a unidade do país como sociedade única. Era também um partidário radical na questão que opunha os índios ao governo dos Estado Unidos. Estes, os índios, eram cada vez mais empurrados para o Oeste. Funcionava assim: Assinava-se um tratado entre os chefes nativos e os representantes do governo americano, mas entretanto os colonos brancos instalavam-se nos territórios destinados aos índios e lá se tornava necessário empurrar estes mais para lá. Esta era a regra geral e, assim, o exército americano andava numa enorme dobadoura, tratando continuamente de reinstalar os índios em novos territórios, cada vez mais distantes dos seus territórios tradicionais. E entretanto eram assinados novos tratados, sempre mais restritivos para os desgraçados que se viam constantemente empurrados de um lado para o outro. Desta vez tinha sido assinado o tratado de Forte Laramie, e destinava aos índios as terras hoje conhecidas por Dakota do Sul e Montana, mas rapidamente se espalhou a notícia, nos estados do leste, de que esses territórios eram ricos em ouro e prata. E então por essas paragens houve mais uma corrida aos metais preciosos provocando novos conflitos entre os garimpeiros brancos e os recém-reinstalados índios. Aquilo era assim: quando os conflitos não se davam entre pesquisadores de ouro e os índios, davam-se autênticas guerras entre os fazendeiros, recentemente instalados e os mesmos índios.
O encarregado de resolver a questão foi o general Custer que ali se apresentou à frente do regimento de Cavalaria 7, tropa de elite, com fama de invencível, e ainda por cima comandada por um homem que vinha distinguido com as maiores honrarias e condecorações. Vinha acompanhado de uma corte de jornalistas de jornais do leste que pretendiam dar nem primeira mão as notícias da forma como os nativos americanos deviam ser tratados por estarem a inviabilizar o progresso e futuro que já se adivinhava para aquela grande nação. Estavam a adivinhar mais uma grande razia entre os violentos e cruéis peles-vermelhas. Foi desta maneira que a opinião pública da América foi trabalhada para a grande contenda que se previa. Esqueceram-se que entre os índios também havia grandes líderes e chefes guerreiros. Assim, os chefes da tribo dos Sioux, Sitting Bull e Crazy Horse, tentaram convencer os brancos a respeitar os acordos mais recentes, já que os anteriores tinham sido desrespeitados, mas perante a posição irredutível que lhes foi comunicada, convocaram os chefes das tribos Cheyennes e decidiram unir esforços com o fim de, dessa vez, resistirem à intenção dos governantes americanos. A união destas duas tribos não era habitual, por vezes até se guerreavam entre si, mas perante a ameaça latente, conseguiram um acordo contra a tropa americana que se aproximava. Desta forma, a marcha do regimento do general Custer, há muito que vinha sendo monitorizada pelos batedores índios que iam informando os seus chefes do andamento e da posição exacta dos brancos. O local escolhido pelos índios para o combate foi junto às margens de um rio que acabou por dar o nome à lenda que a seguir se criou: Little Bighorn. Os soldados do regimento do general Custer foram todos mortos, não escapou um único da Cavalaria 7 para contar o que tinha acontecido. Os jornalistas que acompanhavam a tropa também não sobreviveram. No entanto, isso não impediu que se criasse uma lenda sobre a forma como a batalha tinha decorrido, e nessa lenda aparece o general, com os compridos cabelos loiros ao vento, de pistolas em punho, vestido com a sua fardinha de comandante, em pele de gamo cadilhado, dando ordens a torto e a direito, sendo o último a morrer. Esta foi a lenda criada para constar no leste e foi a que ficou para a história, tendo sido contada e recontada, cada vez mais embelezada, para grande glória do exército dos Estados Unidos da América.
(Em aparte, não resistimos a chamar a atenção para a cena do filme “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola, de 1979, em que o excelente actor Robert  Duval interpreta o papel do coronel Kilgore, o louco comandante de um destacamento de cavalaria, em serviço no Vietname, adepto maníaco de surf, e que utiliza helicópteros em vez de cavalos, atacando ao som da “Cavalgada das Valquírias”, lançando napalm sobre populações indefesas. Pois diz-se nos meios do cinema que Coppola se inspirou na bazófia e no ar e feitio fanfarrão do general Custer para criar esse personagem.)
Titulo Original: “A Batalha de Little Bighorne
Título Português: (o filme não passou no circuito comercial em Portugal)
Idioma: Inglês
Ano de Produção: 1950
Realização: Jonathan Clark
Argumento: Jonathan Clark e Karl Davis
Elenco: Billy Sears, Tully di Grassy, Erick Wan, Jack Henabery, Eugene Goodman, entre outros.
Não houve um único soldado que escapasse. Também morreram todos os oficiais. Enfim, todos morreram nesta batalha com os índios. Os jornalistas, idem idem aspas aspas. Fotografias não houve, embora, para isso os jornalistas levassem o equipamento. Não houve, portanto, nenhuma testemunha do lado do exército norte-americano que pudesse atestar a veracidade dos factos. Os únicos sobreviventes do confronto eram índios. E quando os funcionários do governo, os artistas pintores (muitos quadros se pintaram sobre a batalha – nenhum favorável aos vencedores) e quando os historiadores, quiseram mistificar a forma como decorreu a batalha, transformando-a num acto heroico e de longa resistência ao ataque dos índios, alguns destes, que eram mais destemidos e informados, entre os quais os chefes tribais Sitting Bull e Gerónimo, um grande guerreiro Apache, deram a conhecer aos jornais locais da época, que aquilo que todos diziam ser um grande acontecimento de resistência e heroicidade, face à crueldade dos índios, afinal não passou de uma derrota caótica e vergonhosa que pouco mais durou que meia hora.
Tudo porque quem chefiava a tropa norte-americano, dava mais importância ao engomado do colarinho do que às tacticas militares. Em resumo, um pavão que acabou por ficar glorificado como se tivesse ganho a batalha quando, afinal, a perdeu. Ainda assim, o que acabou por ficar na história foi a versão dos brancos.
Supomos que este filme de Jonathan Clark, é apenas mais uma tentativa de repor a verdade dos factos. Decerto inutilmente.
Boa realização, boas interpretações. Este filme teve a exibição proibida nos Estados Unidos da América durante cerca de vinte anos. Por motivos óbvios, como facilmente se adivinha.
 Rufino Casablanca – Monte do Meio – 12/12/1996


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