EDUARDO LUCIANO
A IMORTALIDADE DE UNS E A PREVISIBILIDADE DE OUTROS
Fomos
surpreendidos com a notícia da morte de Stephen Hawking, o físico britânico que
desafiou todas as teorias das probabilidades ao sobreviver durante cinquenta e
cinco anos, após o diagnóstico de uma doença que previsivelmente o retiraria do
mundo dos vivos em dois anos.
O homem que nasceu
exactamente trezentos anos depois da morte de Galileu foi um exemplo de
académico, uma lição de vida para os que se atrapalham com pequenas
contrariedades e alguém que nunca foi incapaz apesar da doença que tinha ser
considerada incapacitante.
Depois do
diagnóstico e sabendo que teria uma vida de curta duração fez tudo o que queria
fazer. Estudou, casou, teve filhos, escreveu livros, construiu teorias numa área
muito complexa do conhecimento.
Afinal não morreu
aos 23 anos, como seria previsível, mas aos 76, preso num corpo reduzido à
actividade mínima.
Hawking, para além
dos seus contributos para a ciência, mostrou que seja qual for a nossa idade ou
condição de saúde, temos sempre a vida toda pela frente e temos a obrigação de
fazer dela o que acharmos que devemos fazer. Viver sem olhar para o fim da vida.
Neste mesmo dia,
de celebração da longa vida improvável de Hawking, na Assembleia da República
de um pequeno país do continente europeu aconteceu o que era previsível.
O Partido
Comunista colocou na agenda a discussão de um conjunto de propostas de alteração
às leis laborais com vista a acabar com a caducidade da contratação colectiva,
a repor o tratamento mais favorável ao trabalhador e a revogar as normas da
desregulação nos horários.
Previsivelmente,
tais propostas tiveram a oposição do CDS e do PSD e foram acompanhados nessa
posição pelo PS.
Esta coisa de ser
de esquerda é muito bonita até ao momento em que toca no essencial ou, como
costuma dizer o outro, na contradição insanável entre os interesses do trabalho
e do capital.
Previsivelmente, a
administração da Altice contou com a colaboração de João Proença, militante do
PS e ex dirigente da UGT, para obter o que pomposamente chamou de “paz social”.
Previsível, o percurso de João Proença é de uma coerência inatacável. Esteve
sempre do mesmo lado do muro e mesmo quando pretendeu fingir estar em cima dele
foi sempre com aquele ar de quem diz “era a brincar”.
Como diria a minha
querida prima Zulmira, há cenas que nunca mudam até que se lhe ponha um fim.
Já tarda.
Até para a semana
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