MARIA HELENA FIGUEIREDO
CUIDAR
DE QUEM CUIDA
Na
próxima 6ª feira o Bloco de Esquerda vai apresentar no Parlamento um projecto
de Estatuto do Cuidador informal, na sequência de amplas consultas e debates,
procurando assim que o Estado reconheça o papel essencial que os cuidadores
informais desempenham, até agora sem qualquer apoio, na prestação de cuidados
básicos a tantos e tantos idosos, a pessoas com doenças prolongadas ou com
patologias neurodegenerativas ou a crianças com doenças graves.
Todo sabemos, por
experiência própria ou porque temos um amigo ou algum familiar próximo nessas
circunstancias, das dificuldades com que se deparam as famílias quando um dos
seus idosos fica acamado ou quando doenças como o Alzheimer batem à porta. As
respostas públicas são escassas e nalguns casos inexistentes. As privadas,
excessivamente caras e inacessíveis para a maioria das famílias.
Por isso, são por
regra os familiares – e principalmente as mulheres – que assumem esse papel de
cuidadores, confrontados com toda a espécie de dificuldades, a começar pela
desadequação dos seus horários de trabalho, pela inexistência de um quadro legal
que lhes permita o acompanhamento efectivo dos doentes ou dos dependentes, para
não falar na carga de trabalho excessiva, dos encargos financeiros, do
isolamento e da ruptura das relações sociais.
O stress ou até
depressão chegam então aos cuidadores e cuidadoras informais e é preciso ter
respostas urgentes.
Até porque esta é uma
realidade cada vez mais presente na vida de todas e todos nós e que tenderá a
tornar-se mais evidente já que se estima que em 2025, em Portugal, 1 em cada 4
pessoas será idosa, o que determinará uma maior necessidade de cuidados
continuados.
Há algum tempo os
Serviços Oficiais da Saúde estimavam que eram mais de 110.000 as pessoas que
estavam em casa, dependentes de alguém, um cuidador informal ou um familiar,
para se alimentar, vestir-se, fazer a higiene diária, tomar os medicamentos…em
suma para prover às necessidades básicas. Destas 50.000 pessoas estavam muito
dependentes acamadas e outras 55.000 com elevado grau de dependência.
Trata-se
principalmente de pessoas idosas, muitas com doença de Alzheimer ou outras
demências ou patologias associadas ao envelhecimento, para as quais não existem
respostas públicas suficientes
Também de acordo com
um Estudo da Entidade Reguladora da Saúde sobre Cuidados continuados e
paliativos publicado em finais de 2015, Portugal tem a maior taxa de cuidados
domiciliários informais da Europa e uma das mais baixas taxas de cobertura de
cuidados formais.
Por tudo isto é tempo
de cuidar de quem cuida!
A proposta que o
Bloco apresentará prevê precisamente um conjunto de medidas de compensação e
alívio para quem é cuidador ou cuidadora informal. Propõe, designadamente, uma
redução do tempo de trabalho dos cuidadores informais, o direito a quatro dias
descanso por mês e 11 dias de férias anuais, bem como o direito a 30 dias de
faltas justificadas por ano para tratar dos dependentes, bem como o reforço de
algumas prestações sociais.
Haverá certamente
alguns que estarão a dizer já que são muitos encargos para a Segurança Social,
mas para esses devolvo uma pergunta “E quanto custaria ao Estado ter para estes
casos as respostas públicas a que é obrigado?”
Até para a semana!
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