segunda-feira, 12 de março de 2018

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


MARIA HELENA FIGUEIREDO
                                            CUIDAR DE QUEM CUIDA
Na próxima 6ª feira o Bloco de Esquerda vai apresentar no Parlamento um projecto de Estatuto do Cuidador informal, na sequência de amplas consultas e debates, procurando assim que o Estado reconheça o papel essencial que os cuidadores informais desempenham, até agora sem qualquer apoio, na prestação de cuidados básicos a tantos e tantos idosos, a pessoas com doenças prolongadas ou com patologias neurodegenerativas ou a crianças com doenças graves.
Todo sabemos, por experiência própria ou porque temos um amigo ou algum familiar próximo nessas circunstancias, das dificuldades com que se deparam as famílias quando um dos seus idosos fica acamado ou quando doenças como o Alzheimer batem à porta. As respostas públicas são escassas e nalguns casos inexistentes. As privadas, excessivamente caras e inacessíveis para a maioria das famílias.
Por isso, são por regra os familiares – e principalmente as mulheres – que assumem esse papel de cuidadores, confrontados com toda a espécie de dificuldades, a começar pela desadequação dos seus horários de trabalho, pela inexistência de um quadro legal que lhes permita o acompanhamento efectivo dos doentes ou dos dependentes, para não falar na carga de trabalho excessiva, dos encargos financeiros, do isolamento e da ruptura das relações sociais.
O stress ou até depressão chegam então aos cuidadores e cuidadoras informais e é preciso ter respostas urgentes.
Até porque esta é uma realidade cada vez mais presente na vida de todas e todos nós e que tenderá a tornar-se mais evidente já que se estima que em 2025, em Portugal, 1 em cada 4 pessoas será idosa, o que determinará uma maior necessidade de cuidados continuados.
Há algum tempo os Serviços Oficiais da Saúde estimavam que eram mais de 110.000 as pessoas que estavam em casa, dependentes de alguém, um cuidador informal ou um familiar, para se alimentar, vestir-se, fazer a higiene diária, tomar os medicamentos…em suma para prover às necessidades básicas. Destas 50.000 pessoas estavam muito dependentes acamadas e outras 55.000 com elevado grau de dependência.
Trata-se principalmente de pessoas idosas, muitas com doença de Alzheimer ou outras demências ou patologias associadas ao envelhecimento, para as quais não existem respostas públicas suficientes
Também de acordo com um Estudo da Entidade Reguladora da Saúde sobre Cuidados continuados e paliativos publicado em finais de 2015, Portugal tem a maior taxa de cuidados domiciliários informais da Europa e uma das mais baixas taxas de cobertura de cuidados formais.
Por tudo isto é tempo de cuidar de quem cuida!
A proposta que o Bloco apresentará prevê precisamente um conjunto de medidas de compensação e alívio para quem é cuidador ou cuidadora informal. Propõe, designadamente, uma redução do tempo de trabalho dos cuidadores informais, o direito a quatro dias descanso por mês e 11 dias de férias anuais, bem como o direito a 30 dias de faltas justificadas por ano para tratar dos dependentes, bem como o reforço de algumas prestações sociais.
Haverá certamente alguns que estarão a dizer já que são muitos encargos para a Segurança Social, mas para esses devolvo uma pergunta “E quanto custaria ao Estado ter para estes casos as respostas públicas a que é obrigado?”
Até para a semana!



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