TU, QUE NUNCA
TRABALHASTE…
Era
uma vez um homem que tinha opiniões. Toda a sua vida foi dirigente de qualquer
coisa e habituou-se a dizer banalidades e boçalidades de cada vez que lhe
colocavam um microfone à frente da boca.
Durante os vinte anos que esteve
à frente da CIP, foi coleccionando afirmações que se poderiam colocar na boca
de um qualquer economista ou sociólogo de mesa de café, todas elas no mesmo
sentido.
Para esta figura de herdeiro de
posição económica relevante, os trabalhadores sempre foram meros recursos para
a construção da riqueza de um certo empreendedorismo de boca cheia de saber
como explorar mais e melhor o trabalho alheio.
Agora, à frente de um denominado
“Forum para a competitividade”, continua na senda do disparate que a
comunicação paga pelos seus pares transforma em ideias para uma suposta reforma
que nos transformará no supra sumo da competitividade.
Afirmou, confundindo frontalidade
e desassombro com boçalidade, que os portugueses não queriam trabalhar,
atribuindo a essa suposta característica identitária dos seus compatriotas o
deficit de disponibilidade de mão-de-obra para alguns sectores da economia.
A verdade é que, de facto, em
todas as actividades económicas encontramos portugueses a trabalhar e outros
portugueses que sem nunca terem trabalhado beneficiam do produto do trabalho
alheio.
Quando vamos a um supermercado de
uma qualquer cadeia de distribuição, são portugueses que fazem a reposição dos
produtos, atendem-nos no talho ou na charcutaria e fazem as contas na caixa.
Nunca encontraremos nenhum accionista desses grupos económicos a alinhar os
pacotes de esparguete na prateleira.
Os automóveis fabricados em
Portugal são produzidos maioritariamente por portugueses e não há memória de
alguém ter visto um accionista na linha de montagem excepto em visita para
registo de comunicação.
Quando ficamos alojados numa
unidade hoteleira de um dos grandes grupos do sector, não costumamos ser
recebidos pelos donos do grupo mas por trabalhadores mal pagos para servirem na
recepção.
Poderíamos percorrer todas as
actividades económicas que em todas elas encontraríamos a mesma realidade que
desmente a afirmação bolsada pelo homem.
Se os portugueses não quisessem
trabalhar teríamos que ficar sujeitos a que toda a produção ficasse nas mãos de
gente como o dirigente do “Forum para a competitividade” e como nunca ninguém
os viu a trabalhar estávamos tramados.
António Aleixo, que não conheceu
Ferraz da Costa, dedicou-lhe uma quadra. Sim é possível dedicar uma quadra a
alguém sem se conhecer, quando esse alguém é tão velho como a exploração do
trabalho.
Disse o poeta…
Ainda não reparaste
Que és tal qual um cão na palha?
Tu, que nunca trabalhaste,
Censuras quem não trabalha!
Até para a semana
EDUARDO LUCIANO
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