EDUARDO LUCIANO
ELE AÍ ESTÁ, DE NOVO
Ele
aí está, de novo. O Natal. Com o seu cortejo de rituais tradicionais e
importados, o seu desfile de impulsos consumistas, espirituais, caritativos, de
penas colectivas ou individuais.
Afinal que
festejamos nós, que nos leva a procurar o conforto da auto satisfação de sermos
bonzinhos durante uns dias, de procurarmos os que esquecemos, de esquecer os
que procuramos durante todo o ano?
Que celebramos
nós, os que não atribuem qualquer significado religioso à data e que ainda
assim nos comportamos de uma forma diferente nesta época de sininhos a tocar e
de velhos de barbas, vestidos com as cores de um refrigerante?
Gosto de acreditar
que celebramos uma espécie de necessidade de voltarmos à nossa humanidade mais
pura, aquela que nos foi roubada à saída da infância e devolvida num qualquer
momento da vida adulta, num qualquer Dezembro de nostalgia.
Este ano ando
menos observador e talvez por isso não me sinta tocado pela habitual amargura
natalícia.
Quero lá saber se
os sentimentos de quem dá um abraço são sinceros ou fazem parte de um qualquer
processo de regeneração de quem o faz. O importante é mesmo o abraço. Que se
lixem as motivações.
Este ano decidi
atravessar a época festiva como quem deambula pela cidade, vendo sem olhar ou
olhando sem ver.
Veio-me à memória
um disco gravado na década de 70, com poemas de Ary dos Santos e interpretado
pelo Carlos Mendes, o Tordo e o Paulo de Carvalho.
Era um disco
infantil que o génio de Ary transformou numa ilustração do seu entendimento do
que é o Natal, do sofrimento de quem o faz, do prazer de quem dele usufrui.
Operários de Natal, conta a história dos que o fazem e vemos desfilar
personagens e profissões, algumas delas caídas em desuso.
O lenhador, a
costureira, o pasteleiro, o carteiro, os pais… e todos eles caracterizados como
operários e amigos.
É uma lição sobre
os construtores dos nossos sonhos, quantas vezes impedidos de sonhar.
Quarenta anos após
a edição dos Operários de Natal, continua a ser a mais bela explicação sobre o
que celebram os que não atribuem nenhum sentido religioso à data.
Celebramos a vida.
E que seria da vida sem os amigos.
Até para a semana
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