quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Eduardo Luciano ASSINA A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM

EDUARDO LUCIANO
UNIVERSOS DIFERENTES EM PERFEITA HARMONIA
No passado sábado o Teatro Garcia de Resende recebeu um espectáculo de homenagem a Paco de Lucia, integrado no festival “Flamenco Heritage” que contou com apresentações em cidades como Lisboa e Madrid.
Neste espectáculo emocionante cruzaram-se duas formas de expressão musical classificadas como património da humanidade, o fado e o flamenco, com interpretes excepcionais como Hélder Moutinho e Pedro Castro que se cruzaram com Gerardo Nuñez e os seus parceiros que elevaram o flamenco a um nível de erudição e paixão que nos prenderam às cadeiras durante todo o espectáculo.
Poderão pensar que tal fusão foi proporcionada por cedências de parta a parte descaracterizando o fado e flamenco para que pudessem conviver.
Estão errados nesse pensamento. Foi uma fusão sem concessões, sem abdicar da genuidade de cada uma das expressões, num convívio perfeito de universos que, sendo diferentes, partilham de um património comum: a paixão com que garantem a proximidade dos intérpretes, numa demonstração de honestidade identitária rara nos tempos que correm.
O tributo à genialidade de Paco de Lucia manifestou-se na excelência dos executantes e no respeito mútuo pelas diferenças que enriquecem os que se aproximam de forma livre e sem preconceitos.
Aquele espectáculo do último sábado é uma verdadeira metáfora sobre a forma como é possível fazer conviver as diferenças quando a inteligência, a paixão pela vida e a capacidade de entrega nos leva à compreensão de outros universos que, sendo humanos, não nos podem ser estranhos.
Aquele espectáculo foi a demonstração prática de que a única impossibilidade surge quando nos cristalizamos nas nossas crenças e abdicamos de convicções em favor da confortável rigidez de dogmas construídos à medida das nossas necessidades supostamente identitárias.
São essas posturas cheias de certezas absolutas que levam à derrota de ideais e a construção de um mundo cheio de tonalidades cinzentas e algumas dores. A minha prima Zulmira, que é mulher pouco dada a grandes construções teóricas, já está para ali a sorrir e a pensar “pois sim, filho, deves estar a falar da dor de cotovelo e da dor de corno”.
Bem, deixemos de elucubrações intelectuais e vamos ao que interessa: não se esqueçam de participar na manifestação do próximo sábado e de exigir o necessário aumento do salário mínimo para seiscentos euros, já a partir de Janeiro.
Até para a semana



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