EDUARDO LUCIANO
CEM ANOS DEPOIS DE ABALAR O MUNDO
A 25 de Outubro ou a 7 de Novembro de 1917, conforme o calendário
que usemos, o mundo foi abalado por algo nunca visto, ou melhor, já pressentido
uns anos antes em Paris.
Pela
primeira vez na história uma revolução colocava no poder um Partido que se
propunha como objectivo pôr fim à exploração do homem pelo homem e construir
uma sociedade socialista, substituindo a burguesia pelo proletariado na
direcção do Estado.
Esse
projecto de sociedade, com erros e desvios na sua construção, com afastamentos
de princípios basilares sempre anunciados, foi capaz de transformar uma
estrutura feudal numa sociedade capaz da conquista do espaço, em pouco mais de
cinco décadas.
Quando
cinco anos após a Revolução se formou o Estado multinacional composto por um
conjunto de repúblicas com a mesma estrutura de poder, assente na democracia
dos sovietes, começou a construção de um país que haveria de garantir a vitória
sobre o nazi fascismo, a conquista do espaço, a garantia de uma paz duradoura,
e o alargamento dos ideais socialistas a outras zonas do globo.
Dito
isto assim hei-de ter à perna todos os anticomunistas empedernidos, todos os
revisores oficiais da história, todos os que se limitam a enfatizar os erros,
crimes e desvios dos ideais dos revolucionários de 1917.
Comecemos
então de forma mais romântica. A Revolução de Outubro (que por acaso foi em
Novembro) foi o momento que marcou toda a história do século XX. Tenho sempre
na memória as imagens icónicas de Vladimir Ilitch a falar às massas de
operários, debruçado sobre a escrivaninha a escrever as “Teses de Abril”, “Que
fazer”, “A doença infantil do comunismo” ou “Materialismo e empiriocriticismo”.
Mas
o que importa mesmo, é o resultado das massas em movimento no assalto ao poder
para destituir o governo de Kerenski. O que importa mesmo é o processo
revolucionário que ainda hoje tanto incomoda os detractores da ideia de
possibilidade da existência de uma sociedade onde a classe de produtores assuma
o poder.
Cem
anos depois não é possível uma Revolução como a de 1917, porque as condições
são hoje outras e o desenvolvimento das forças produtivas assume
características diferentes.
Mas,
acredito eu, que a ideia de um futuro mais risonho para a humanidade passa por
uma sociedade onde se espera de cada um segundo as suas possibilidades e
distribua a cada um segundo as suas necessidades. A ideia de uma terra sem
amos.
Esta
é a herança que não podemos negar. A Comuna de Paris durou uma centena de dias,
a experiência do Estado soviético durou pouco mais de 70 anos. É um grande
salto em frente.
Como
diria a minha prima Zulmira, se os amanhãs não cantarem, teremos sempre a
perspectiva de uma bela sinfonia.
Até
para a semana
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