MARIA HELENA FIGUEIREDO
PANTEÃO: TUDO TEM QUE DAR LUCRO?
A semana que terminou
trouxe-nos várias noticias que chocaram a opinião pública, mas que no fundo,
têm uma origem comum: a visão liberal do Estado e a destruição do
Serviço Público.
Serviço Público.
Começámos com o desastre que
tem sido a privatização do fornecimento das refeições nas cantinas escolares e
acabámos com notícia de que o Panteão Nacional tinha sido alugado para o jantar
VIP de encerramento do Web Summit.
Tratando-se de um monumento
nacional com as características do Panteão, que é utilizado precisamente para
guardar os restos mortais de grandes figuras nacionais, a sua utilização para
quaisquer outros fins seria já se si questionável, mas usá-lo para um jantar é
absolutamente indigno.
E pergunta-se: como foi
possível?
Pese embora a decisão ter sido
da sua directora (reveladora de uma incapacidade de avaliação incompatível com
a função que desempenha) fê-lo ao abrigo de um despacho do anterior Governo,
assinado pelo Secretário de Estado da Cultura Barreto Xavier, que fixou uma
tabela de preços a praticar pela utilização de variadíssimos monumentos
nacionais.
Por isso bem podem agora o
ex-Secretário de Estado e mais o CDS e o PSD vir sacudir a água do capote,
porque quem ler o despacho constata que estes senhores consideraram digna e
compatível a utilização da generalidade dos nossos monumentos mais simbólicos
para jantares, cocktails ou outros eventos sociais e até para filmes comerciais.
Não é apenas o Panteão
Nacional, são as Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha tabeladas para
cocktails, a Torre de Belém ou o Convento de Cristo em Tomar… todos eles
“alugáveis” a quem tenha uns milhares de euros.
Aliás, não há muitos meses foi
notícia a destruição num Claustro do Convento de Cristo, também ele alugado
para a realização de um filme.
Mas para além do facto concreto
que, por si só, é inadmissível, este jantar no Panteão Nacional vem trazer para
o debate público a questão mais funda de como tem sido olhado o património, o
desinvestimento que tem sofrido ao longo dos anos e de como os sucessivos
cortes nos orçamentos dos serviços públicos deixaram a gestão perfeitamente
estrangulada, levando a fazer receita de forma até indigna.
E se é verdade que
principalmente o anterior Governo CDS/PSD, na sua senha liberal, encarou a
gestão do património público, tabelando despudoradamente a sua utilização, como
se tudo tivesse que dar lucro, é preciso dizer que em matéria de Património e
Cultura nestes últimos dois anos pouco tem sido feito e que o Ministro da
Cultura não tem fugido muito dos passos dos seus antecessores.
O Programa Revive e a
privatização de alguns monumentos é bem prova disso.
Por isso é importante que se
retirem deste lamentável episódio do Panteão as consequências directas,
revogando o famigerado despacho do anterior Secretário de Estado, criando
normas adequadas e prevenindo as tentações.
Sobretudo, é preciso que o
Património e a Cultura passem a ser olhados de outra forma, que a dignidade dos
monumentos não se fique apenas pelas palavras e que estes não sejam vistos como
mercadoria. É necessário que se trave a suborçamentação sistemática neste
sector e se afectem os recursos necessários, de forma a preservar e valorizar o
que património coletivo.
E este é o momento para começar
a fazê-lo. É agora, quando o orçamento de Estado para 2018 está a ainda a ser
finalizado, que o Governo e Assembleia da República têm a oportunidade de
transformar a indignação em medidas positivas, dotando a Cultura das verbas
necessárias para que, finalmente, também nesta área, o Estado cumpra a sua
função.
Até
para a semana
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