Nota previa: Os responsáveis por esta
pequena rábula, pretendem apenas homenagear figuras emblemáticas da nossa
terra, e dar a conhecer os tempos em que reinava uma salutar harmonia entre as
pessoas.
NOVO “ENSAIO” PARA UM QUADRO
DE TEATRO DE REVISTA – (Pelo Hélder
Salgado)
DESTA VEZ VERSANDO FIGURAS
INESQUECIVEIS DA NOSSA TERRA
Personagens:
Mata-Pintos:
Figura emblemática do Alandroal, foi o que com propriedade
se pode chamar de um “bom-vivant”- caracterizava-se pela sua baixa estatura.
Era possuidor de uma saudável “malandrice “que se baseada em inofensivas
mentiras. Fora do tempo em que se dedicava à caça, na qual era um exímio
praticante e que constituía o seu principal sustento, a sua alimentação era
constituída pelos produtos que a natureza selvagem lhe proporcionava (cogumelos,
espargos, alabaças, etc.). Já no final da sua vida e quando da colocação das
passadeiras para peões na Praça, o seu divertimento era andar de cá para lá e
de lá para cá, só para ter o prazer de obrigar os condutores a parar.
Pimenta: Fazia jus ao ditado popular “Homem pequeno saco de veneno”. De baixa
estatura, não perdia uma oportunidade de envenenar
, qualquer conversa, desde que da mesma resultasse apimentar ,ou distorcer o diálogo, para seu belo prazer e diversão.
Possui uma pequena taberna ao alto da Praça, cujo principal cliente era ele
próprio. Tocava caixa na Banda e conta-se que numa noite em que a Banda
pernoitou durante a Festa de S. Brás dos Matos, aproveitou a noite para fardar
o Santo (também de pequena estatura) de músico da Banda, o que lhe valeu um
valente dissabor ministrado pelos paroquianos que não acharam qualquer graça à
ousadia.
Zé Trinta: No tempo em que a água não
chegava às residências, por não haver distribuição canalizada, era a mesma
fornecida porta a porta pelos chamados aguadeiros (negocio também explorado
pelos meus familiares maternos: avô e tios), e também pelo Zé Trinta. Alem
desse ofício, outras profissões exerceu, tais como pregoeiro (era ele que dava
conhecimento, percorrendo as ruas da vila, apregoando num comprido funil,
espectáculos, perdidos e achados, ou qualquer acontecimento digno de registo), foi
ainda moço de fretes, e outros pequenos serviços. Gostava de “emborcar” o seu
copito, e nunca negava um convite para qualquer paródia. Deixou numerosa
descendência e se me é permitido abro aqui um parentese para recordar o meu
sempre amigo Sousa.
Blaró: Homem de sete ofícios, cuja
característica principal era a sua acentuada pronúncia roufenha. Amigo do seu
amigo e sempre pronto para acudir a qualquer emergência. Exímio caiador e
pintor de exteriores, não dispensava após o trabalho o habitual convívio na
taberna. Novo parentese para recordar mais um amigo, o Zé Vicente, seu filho.
QUESQUERES: Manobrador de máquinas. Era ele
o responsável por acender e apagar as luzes da via pública. Prestava os seus
serviços na velha Moagem do Garcia (presentemente Cooperativa Agrícola), que
alem de moer os grãos de trigo, também fornecia a eletricidade para toda a
Vila. Foi dos primeiros a possuir carta de condução no Alandroal. Excelente
conversador sempre pronto a meter uma piada no meio da conversa. Dom que transmitiu
aos seus filhos, os nossos estimados amigos Manuel e Tói. Fora do seu
responsável serviço também a confraternização com os amigos era ponto de honra,
O mata Pintos
Figura
franzina de pequena corpulência, já um pouco curvada. Está vestido com fato de
caça, jaqueta e calças camufladas de grandes bolsos.
Boné
verde com pena espetada. Espingarda a tiracolo e cartucheira à cintura e assim
entra em cena, Depois pousa a espingarda.
Senta-se
numa mesa na taberna do taberneiro Pimenta, com o Zé Trinta. e manda vir dois
copos de vinho, um com gasosa, outro sem gasosa e nada de petisco. O Mata Pintos levava uma perdiz
tostada.
O
Pimenta serve vinho.
- Ora qui estão os
dois copinhos, um com gasosa e outro só com vinho.
O
Zé Trinta vai deitar a mão ao copo que só tem vinho, e leva um sopapo na mão.
-
Tira daí a mão, rapaz, bebe o da gasosa,
que gaseado já tu estás.
Zé
Trinta, sem se desmanchar, mas fisgado no petisco.
- E por lavar o
sopapo, da perdiz vou encher o papo.
Entra
o Blaró.
- Olha que prendas
aqui estão e eu com o estomago em aflição.
Senta-se
à mesa, sem pedir licença e manda vir um copo de vinho
- Gosto mais de
perdiz do que torresmo e quem vai pagar é o mesmo.
Zé
Trinta aflito.
- O mesmo? O mesmo
eu não sou, com o negócio da água teso sempre estou.
O
Mata Pintos, referindo-se ao Blaró.
- Trago a perdiz,
pago o vinho e o pão, e ainda tenho que matar a fome a este mandrião…
O
Blaró surpreendido com o fato do Mata Pintos.
- Mas agora reparo
eu, meu grande forreta, assim vestido pareces um caçador lisboeta.
O
Mata Pintos
- Obrigado pelas piadas, de pessoas como tu tenho-os
eu às carradas.
O
Zé Trinta, com a cabeça de lado e um olho meio fechado.
- Mas não ganham
ao Quesqueres, que as inventa a pontapés.
O
Mata Pintos empertigando-se, levanta-se meio zangado. O Pimenta aproxima-se com
ar interrogativo e aguarda.
- Ouçam esta que
vou contar, que decerto lhes vai agradar.
Parou
de falar e olhou para os presentes que o rodeavam, e continuou.
- Escutem com
atenção esta minha aflição. Fui caçar com o Borrão lá para os lados do
Aguilhão, e com a espingarda no chão, como agora está aqui, aparece-me um touro
que mais parecia um leão, e sabem lá o que eu fiz.
Pequena
pausa.
Caguei-me.
Todos
ao mesmo tempo disseram:
- Pudera com uma
fera daquelas à frente.
Mata
Pintos de cabeça baixa e com ar entristecido:
- Não foi lá, foi
aqui,
Acaba
a cena e corre o pano.
Idéia
e texto: Hélder Salgado
Almada,
14-10-2017.
Ilustração
e introdução das personagens: Francisco Tátá
4 comentários:
OBS.
Se bem percebi a narrativa,
O Zé Trinta era um Agitador,
O Pimenta era um Provocador,
O Quesqueres era um Comunicador
O Blaró era um Servidor,
e O Mata Pintos era um borrado Franco- Atirador
Todos, porém,com um assento especial na vida e cenas entretidas da Vila?
Será assim?
Saudações
ANB
ANB !!! Creio que tens razão, não estás longe da verdade...As figuras aí relatadas e expressas, foram de facto bastante actuantes no cotidiano da nossa Vila,assim como nas nossas vidas, já que um foi meu PAI(Quesques) e outro meu TIO (Pimenta)...Tomara eu chegar a ter a notoriedade que ELES tiveram,por tanto, lá onde estiverem que tudo lhes corra da melhor feição...Que por cá, também faço por isso...
Aquele abraço,
Manel Augusto
É com este recordar que se aquece a Alma e se adoça o Outono da Vida !...
Que passe ao Palco !...
Gostei!
Enviar um comentário