CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
NAÇÕES VALENTES E MORTAIS
Temos assistido nas televisões,
rádios e jornais, nas últimas semanas, ao desenrolar da situação política em
Barcelona, a propósito da vontade independentista da Catalunha. Sendo um caso,
ele é comum a outros países, até mesmo europeus e não só em zonas do globo em
guerra e mais distantes, e não deixa de ser um exemplo de nacionalismo. Devo
admitir que sou pouco nacionalista, não deixando de ser patriota q.b.. A Pátria
é a terra Mãe, e mesmo não sendo como Natália Correia dizia que devia ser por
isso a Mátria, há uma identificação que reside sobretudo na questão de origem e
pertença, em várias dimensões que vão da língua aos costumes, dos saberes aos
sabores. E, talvez por isso, me espante ver que muitos dos mesmos que se
insurgem contra outros movimentos nacionalistas defendam aguerridamente este da
Catalunha. Do que já pude constatar por lá, o espírito catalão está tão bem
conservado como está o pitoresco em qualquer capital cosmopolita deste século:
o que é global é global, o que é europeu é europeu, o que é espanhol é
espanhol, o que é catalão é catalão. Também devo dizer que o referendo, prática
inquestionavelmente democrática, é um acto que requer um período de
esclarecimento profundo dos eleitores e perguntas acessíveis, claras e concisas.
Talvez convenha atentarmos na
definição destes conceitos que giram em torno de territórios onde pessoas
nascem e/ou vivem e para cuja organização contribuem de diversas formas que vão
dos deveres às obrigações, dos impostos aos subsídios, entre outras muitas mais
questões. Assim, vemos que o conceito de Nação é próximo do de País, mas sublinha os
valores culturais comuns a uma população; que Pátria salienta um
País ou território enquanto realidade afectiva a que grupos e indivíduos estão
ligados; que País se refere, normalmente, a um território com organização
política própria; e que o Estado é a entidade responsável pela
organização de um território e da vida da população ou do conjunto de
populações que aí habitam.
Assentando a visível
contestação catalã de certas lideranças muito na base do argumento regime
republicano versus regime monárquico, é de facto a única que se apresenta de
forma clara, já que as outras razões gritadas por muitos são enevoadas ou desmontáveis
pelo forte sentimento de quem visita a Catalunha e nela dá logo de caras com as
suas autonomias. Assim, os catalães querem um Estado só seu, o que não é uma
coisa leve de decidir de um dia para o outro, quando tanto já se deu e recebeu
por se ser parte de outro. Aliás, a ânsia deste tipo de independentismos, e
sabendo que a letra da canção “Imagine” do Lennon é toda ela um hino da utopia,
esse não-lugar, tem tendência a exacerbar muito mais os ódios do que os
consensos, o que pode, desde logo, contagiar muito mais o ambiente onde se
instalam do que trazer benefícios ao cidadão comum.
Gostei de ler num sítio web de
Educação o que se dizia sobre estes conceitos, embora se caia no argumento “ad
Hitler”, demasiadas vezes usado e por isso mais gasto do que útil. E lá
dizia-se assim: “Muitos Estados, para garantirem o exercício de suas soberanias
em seus territórios, tentam criar entre os seus habitantes um sentimento
nacional, ou seja, a ideia de que aquele país equivale a uma nação geral, o que
costuma ser chamado de nacionalismo. O estímulo ao nacionalismo é
visto com bons olhos por muitas pessoas no sentido de essas valorizarem os seus
territórios e suas populações, mas é preciso ter cuidado, pois os fatos
históricos já demonstraram que um nacionalismo extremo pode provocar uma onda
de fascismo. Nesse caso, o governo e até as pessoas passam a considerar que a
sua nação (ou “raça”) é naturalmente superior às demais, justificando ações
bélicas e formas de preconceito diversas, tal qual foi o caso do Nazismo na
Alemanha em meados do século XX.” Vale a pena pensarmos nisto.
Até para a semana.
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