Uma vez por
mês Augusto Mesquita recorda-nos pessoas, monumentos, tradições usos e costumes
de outros tempos.
Tributo aos 50 anos do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo
Consta que, no regresso de uma visita às obras de construção
do Abrigo dos Velhos Trabalhadores, o Engenheiro João Garcia Nunes Mexia,
acompanhado pelo Padre Alberto Dias Barbosa, passaram ao lado das ruínas do
velho Convento de São Domingos. O prior, aproveitou a oportunidade, para
solicitar ao Benemérito Nunes Mexia (membro da família que custeou a
visitada construção), que se
interessasse pelo aproveitamento daquele arruinado monumento para a realização
de actividades em prol de Montemor-o-Novo.
O pedido não caiu em saco roto, e
poucos meses depois do pedido formulado pelo Senhor Padre Alberto ao Senhor
Engenheiro Mexia, realizou-se a primeira reunião preparatória, para a criação
da nova agremiação no dia 1 de Dezembro de 1966, no Quartel dos Bombeiros Voluntários,
onde também se realizou a segunda, em 8 de Junho de 1967, já para apreciação do
projecto dos Estatutos. A actividade do Grupo ainda não oficializado,
iniciou-se propriamente a 7 de Setembro de 1967, na Sala da Direcção do Abrigo
dos Velhos Trabalhadores, ainda a cheirar a nova, pois fora inaugurada em 13 de
Junho desse ano, a reunião da Comissão Organizadora do Grupo dos Amigos de
Montemor-o-Novo, com a presença dos seguintes aderentes: Engenheiro João Garcia
Nunes Mexia, Dr. Artur Campos Figueiredo de Gouveia, Leopoldo Nunes, Dona Maria
Celeste Alves Alfacinha Wandschneides, Dona Maria Joana Lebre Amaral Rosado
Pereira, Dona Maria Helena Morgado Palhavã Malta, Dr. António Maria Malta
Laboreiro de Villa-Lobos, Engenheiro João Rafael de Melo Mouzinho Almadanim,
Dr. Angelino Augusto Ferreira, Dr. Augusto Moreira, António Lopes de Andrade
Júnior, Salvador dos Santos, António Jacinto, Luís Joaquim Alves Catarino e
Padre Alberto Dias Barbosa.
Entre os assuntos tratados, contaram-se
os seguintes:
a) a aprovação, concedida em
18.07.1967, pelo Senhor Ministro da Educação Nacional, aos Estatutos deste
agrupamento, e diligências que antecederam tal facto. É motivo para mútua
congratulação de quantos se interessam por este Grupo;
b) O caso da instalação em Montemor do
Serviço de Abastecimento de Peixe ao País – S.A.P.P., que justamente alegrou os
associados deste mesmo grupo e todos os montemorenses.
Foi resolvido exarar na acta um
caloroso voto de reconhecimento agradecimento ao Exmo. Senhor Contra-Almirante
Henrique Tenreiro e seus directos colaboradores, pelo alto critério de isenção
e justiça como resolveram este caso;
b) Tomou-se pormenorizadamente
conhecimento das diligências já efectuadas e a empreender ainda para, de
estreita colaboração com a Câmara Municipal, se criar um Museu - Biblioteca, a
instalar no velho Convento e Igreja de São Domingos nesta vila;
c) Notificou-se que a anunciada
Conferência sobre a Arqueologia no Concelho e muito especialmente nas Grutas do
Escoural, era realizada em meados de Novembro pelo insigne Arqueólogo Exmo.
Senhor Dr. Farinha dos Santos;
d) Determinou-se proceder imediatamente
a uma campanha de inscrição de sócios neste agrupamento, que se destina a
reunir todos quantos, nesta vila e no concelho ou dele ausentes, se interessem
e estão dispostos a colaborar na defesa dos interesses de Montemor-o-Novo.
Lembrou-se a necessidade de angariar
sem demora, um bom número de sócios que se prontifiquem a oferecer cotas
mensais de 100$00 e de 50$00, embora a cota mínima seja de 5$00, a fim de que o
Grupo tenha possibilidade de actuação válida, e se lance em iniciativas e
empreendimentos de vulto, que no dizer dos senhores Dr. Campos Figueira,
Engenheiro Mexia e todos os demais presentes, são decisivos e de grande
urgência, para o futuro tanto do Grupo, como sobretudo de Montemor-o-Novo.
Os serviços de cobrança de cotas dos
sócios inscritos iniciam-se no dia 1 de Outubro
próximo;
e) Decidiu-se que a Sede Provisória do
Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo funcione, de início, na Redacção do Jornal
“O Montemorense” até que os respectivos serviços tenham casa própria;
f) Finalmente marcou-se a próxima
reunião desta Comissão Organizadora para o último Domingo de Outubro, às 16,00
horas, em local a designar oportunamente, sendo nessa data marcada a Assembleia
Geral de todos os sócios inscritos para eleição dos primeiros órgãos sociais.
A primeira Assembleia Eleitoral,
realizou-se na Sociedade Pedrista no dia 26 de Novembro de 1967 e elegeu os
primeiros Corpos Gerentes, para o triénio 1968 – 1970, cuja composição se
indica:
Mesa da Assembleia Geral
Presidente: Dr. Alfredo Maria Praça
Cunhal; Vice-Presidente: Dr. António Maria Laboreiro de Villa-Lobos; 1.º
Secretário: Padre António Lavajo Simões; 2.º Secretário: Dr. Alfredo Heliodoro
dos Santos.
Direcção
Presidente: Engenheiro João Garcia
Nunes Mexia; Vice-Presidente: Dr. Nicolau José Torres; 1.º Secretário: Padre
Alberto Dias Barbosa; 2.º Secretário:
Dr. Artur Campos Figueira; Tesoureiro: Salvador dos Santos.
Conselho Fiscal
Presidente: António Lopes de Andrade
Júnior; Vogais: Engenheiro João Rafael de Melo Mousinho Almadanim e Dr.
Angelino Augusto Ferreira.
Foram criadas as seguintes Comissões
Especiais: Comissão de Cultura e Defesa do Património Montemorense, Comissão
Pró-Desenvolvimento Industrial e Agrícola, Comissão de Turismo e Propaganda, e
Comissão de Actividades Artísticas e Desportivas
A segunda Assembleia Geral realizou-se
na Sociedade Carlista em 17 de Março de 1968. Nesta assembleia, e com o
objectivo de angariar fundos para a aquisição do Convento de São Domingos e sua
posterior recuperação, foi decidido promover a edição de um número especial de
“O Montemorense”, que foi posto à venda , pelo preço base de 20$00. Este
magnífico “Suplemento Especial” impresso em formato A3, é composto por 60
páginas, e dá a conhecer um pouco da história da Vila Notável e das suas
aspirações, assim como pequenas resenhas das associações recreativas,
desportivas, humanitárias e de solidariedade social, existentes na Vila, e as aspirações
das freguesias e lugares do Concelho.
Por escritura pública realizada no
Cartório Notarial de Montemor-o-Novo em 25 de Abril de 1972, foi adquirido por
200 contos a António Romeiras Marques dos Santos, as ruínas do Convento de São
Domingos, para futura sede do GAM.
O projecto de remodelação do Convento
de São Domingos foi entregue ao Arquitecto Santa Clara, que em Montemor, também
elaborou o projecto do Abrigo dos Velhos Trabalhadores.
Com os subsídios de 2.000 contos do
Ministério das Obras Públicas, de 2.150 contos da Fundação Calouste Gulbenkian,
de 100 contos da Câmara Municipal, da oferta de 1.000 contos por parte do
Senhor Engenheiro Nunes Mexia, de 1.100 contos de um anónimo, e ainda, de
verbas oferecidas pela população, e pela venda do suplemento especial de “O
Montemorense”, as ruínas do Convento de São Domingos, classificado como imóvel
de interesse público, pelo Decreto 44.075, de 5 de Dezembro de 1961, foram
recuperadas por fases, dando lugar à sede social do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo.
O primeiro núcleo, dos previstos nos
Estatutos, para agremiação dos montemorenses residentes fora do concelho,
nasceu em Lisboa, no dia 22 de Março de 1974, por iniciativa de Albino Sampaio.
A primeira Assembleia Geral realizada
no Convento de São Domingos (classificada de histórica), realizou-se no dia 24
de Março de 1974.
O “Verão Quente de 1975” teve
consequências nefastas no prosseguimento das obras, pelo que as mesmas foram
suspensas.
Face à situação existente, foi decidido
em Assembleia Geral entregar o Convento de São Domingos à Câmara Municipal,
mediante um protocolo de cedência. O processo prolongou-se, e felizmente que
não se concretizou.
O amor a Montemor-o-Novo, foi o tónico,
que, funcionando como uma varinha mágica, permitiu o recomeço das obras que
nunca mais pararam.
Em 2 de Maio de 1976, foi inaugurada a
“Biblioteca”, actualmente designada “Professor Doutor Banha de Andrade” e cujo
primeiro Bibliotecário foi o Senhor Dr. Mário Nunes Vacas.
Em 17 de Julho de 1977, na comemoração
do 10.º aniversário do GAM, foram inauguradas a “Sala de Olaria” e a “Sala de
Tauromaquia”.
Em 1982, numa parceria entre o GAM e a
GNR surgiu a “Escola de Equitação do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo”, que
ao longo da sua existência, produziu excelentes frutos na formação dos jovens,
na sua instrução na arte equestre e ocupação de tempos livres. Para o êxito da
Escola de Equitação, muito contribuiu o Cabo-Chefe José Francisco Potra Borges.
Em 15 de Março de 1986, foi a vez do
“Museu de Arqueologia e de Etnografia” serem inaugurados. Organizado pelo
Arqueólogo Mário Varela Gomes, está instalado em quatro salas do Convento de
São Domingos. O nosso Museu de Arqueologia está considerado um dos melhores do
País, e também da Europa.
Em 16 de Março de 1996, a Assembleia
Geral aprovou por unanimidade considerar São João de Deus e São Domingos,
co-patronos do GAM.
Em Setembro de 1997 a Direcção Geral do
Património Cultural depositou no Convento de São Domingos 28 carros de tracção
animal, de que o GAM é fiel depositário. Foram no decorrer dos anos, feitas
várias tentativas para a construção de um espaço para abrigo dos coches,
inclusive, a execução de dois projectos, um mais ambicioso e o outro
mais modesto, mas, até à presente data não se conseguiu comparticipações, e as
viaturas pertencentes ao Estado, vão-se degradando...
Em 1998 a Doutora Ana Ribeiro da Mota
Vacas teve a feliz ideia de criar os Estudos Gerais, que começaram a funcionar
em Outubro desse ano. Ano após ano, esta feliz iniciativa, apoiada por
professores voluntários, tem crescido, e esse desenvolvimento, tornou a
Universidade Sénior, como hoje é chamada, de imprescindível nas actividades do
GAM, porque ela é indiscutivelmente o “pulmão” do Convento.
Além das aulas, os alunos da Universidade
Sénior ainda têm tempo para o recreio. O meu querido Amigo Victor Guita criou a
Tuna e o Grupo de Teatro, que têm levado o nome de Montemor-o-Novo a diversos
pontos do nosso País.
Em 2000 o Sócio Senhor Hugo de
Oliveira, emigrante em França, solicitou autorização para criar um Núcleo do GAM na localidade de Reze.
A Direcção acedeu ao pedido formulado por o considerar com bastante interesse
para o Grupo. No dia 24 de Junho último, visitei o Blog deste núcleo e fiquei
surpreendido pela positiva. Mostra a agenda “mor + semana”, possui os diversos
Blogs montemorenses actualizados, relata noticias de Montemor e do concelho, e
oferece ainda, Links sobre Montemor-o-Novo.
No dia 9 de Dezembro de 2000, por
iniciativa da inventiva Dona Maria Ernestina Pedro foi inaugurada a “Sala do
Brinquedo”.
Em 2013, por iniciativa da engenhosa
Dona Maria Ernestina Pedro foi inaugurada a “Sala das Bonecas”. O Programa
Regiões da RTP fez reportagem no local.
Igualmente, por iniciativa da talentosa
Dona Maria Ernestina, foi inaugurada em 22 de Março de 2014, a “Sala do Traje”.
A mentora do projecto, acompanhada por dois elementos da Direcção do GAM, foi
entrevistada nos estúdios da SIC.
O prestigiado Coral de São Domingos, o
Ensemble Monte Mor, as Musas do Almansor, e os Escuteiros, nasceram dentro
daquele monumento quinhentista. Também os “Fazendeiros de Montemor” renasceram
naquele espaço.
Sobre o GAM escreveu Mestre Leopoldo
Nunes,: “O Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo não quer – até porque seria
indigno – evidenciar alguns homens ambiciosos ou vaidosos; pretende,
fundamentalmente, para atingir os mais nobres e proveitosos fins, que a acção a
desenvolver seja colectiva, como garantia do maior êxito possível”.
Para comemorar o 50.º aniversário da
fundação do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo, a Direcção presidida pelo Dr.
Paulo Xavier, empossada em sete de Janeiro de dois mil e dezassete, programou
um extenso rol de actividades que se iniciaram ainda no mês de Janeiro, e se
prolongam até ao final do ano.
Em Dezembro, espero lançar no Convento
de São Domingos a minha última compilação, designada “Grupo dos Amigos de
Montemor-o-Novo – salpicos da sua história”.
Augusto Mesquita
Sem comentários:
Enviar um comentário