quinta-feira, 20 de julho de 2017

VASCULHAR O PASSADO - Augusto Mesquita

Uma vez por mês Augusto Mesquita recorda-nos pessoas, monumentos, tradições usos e costumes de outros tempos.

                 Tributo aos 50 anos do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo
            Consta que, no regresso de uma visita às obras de construção do Abrigo dos Velhos Trabalhadores, o Engenheiro João Garcia Nunes Mexia, acompanhado pelo Padre Alberto Dias Barbosa, passaram ao lado das ruínas do velho Convento de São Domingos. O prior, aproveitou a oportunidade, para solicitar ao Benemérito Nunes Mexia (membro da família que custeou a visitada  construção), que se interessasse pelo aproveitamento daquele arruinado monumento para a realização de actividades em prol de Montemor-o-Novo.
O pedido não caiu em saco roto, e poucos meses depois do pedido formulado pelo Senhor Padre Alberto ao Senhor Engenheiro Mexia, realizou-se a primeira reunião preparatória, para a criação da nova agremiação no dia 1 de Dezembro de 1966, no Quartel dos Bombeiros Voluntários, onde também se realizou a segunda, em 8 de Junho de 1967, já para apreciação do projecto dos Estatutos. A actividade do Grupo ainda não oficializado, iniciou-se propriamente a 7 de Setembro de 1967, na Sala da Direcção do Abrigo dos Velhos Trabalhadores, ainda a cheirar a nova, pois fora inaugurada em 13 de Junho desse ano, a reunião da Comissão Organizadora do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo, com a presença dos seguintes aderentes: Engenheiro João Garcia Nunes Mexia, Dr. Artur Campos Figueiredo de Gouveia, Leopoldo Nunes, Dona Maria Celeste Alves Alfacinha Wandschneides, Dona Maria Joana Lebre Amaral Rosado Pereira, Dona Maria Helena Morgado Palhavã Malta, Dr. António Maria Malta Laboreiro de Villa-Lobos, Engenheiro João Rafael de Melo Mouzinho Almadanim, Dr. Angelino Augusto Ferreira, Dr. Augusto Moreira, António Lopes de Andrade Júnior, Salvador dos Santos, António Jacinto, Luís Joaquim Alves Catarino e Padre Alberto Dias Barbosa.
         Entre os assuntos tratados, contaram-se os seguintes:
         a) a aprovação, concedida em 18.07.1967, pelo Senhor Ministro da Educação Nacional, aos Estatutos deste agrupamento, e diligências que antecederam tal facto. É motivo para mútua congratulação de quantos se interessam por este Grupo;
         b) O caso da instalação em Montemor do Serviço de Abastecimento de Peixe ao País – S.A.P.P., que justamente alegrou os associados deste mesmo grupo e todos os montemorenses.
         Foi resolvido exarar na acta um caloroso voto de reconhecimento agradecimento ao Exmo. Senhor Contra-Almirante Henrique Tenreiro e seus directos colaboradores, pelo alto critério de isenção e justiça como resolveram este caso;
         b) Tomou-se pormenorizadamente conhecimento das diligências já efectuadas e a empreender ainda para, de estreita colaboração com a Câmara Municipal, se criar um Museu - Biblioteca, a instalar no velho Convento e Igreja de São Domingos nesta vila;
         c) Notificou-se que a anunciada Conferência sobre a Arqueologia no Concelho e muito especialmente nas Grutas do Escoural, era realizada em meados de Novembro pelo insigne Arqueólogo Exmo. Senhor Dr. Farinha dos Santos;
         d) Determinou-se proceder imediatamente a uma campanha de inscrição de sócios neste agrupamento, que se destina a reunir todos quantos, nesta vila e no concelho ou dele ausentes, se interessem e estão dispostos a colaborar na defesa dos interesses de Montemor-o-Novo.
         Lembrou-se a necessidade de angariar sem demora, um bom número de sócios que se prontifiquem a oferecer cotas mensais de 100$00 e de 50$00, embora a cota mínima seja de 5$00, a fim de que o Grupo tenha possibilidade de actuação válida, e se lance em iniciativas e empreendimentos de vulto, que no dizer dos senhores Dr. Campos Figueira, Engenheiro Mexia e todos os demais presentes, são decisivos e de grande urgência, para o futuro tanto do Grupo, como sobretudo de Montemor-o-Novo.
         Os serviços de cobrança de cotas dos sócios inscritos iniciam-se no dia 1 de Outubro  próximo;          
         e) Decidiu-se que a Sede Provisória do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo funcione, de início, na Redacção do Jornal “O Montemorense” até que os respectivos serviços tenham casa própria;
         f) Finalmente marcou-se a próxima reunião desta Comissão Organizadora para o último Domingo de Outubro, às 16,00 horas, em local a designar oportunamente, sendo nessa data marcada a Assembleia Geral de todos os sócios inscritos para eleição dos primeiros órgãos sociais.
         A primeira Assembleia Eleitoral, realizou-se na Sociedade Pedrista no dia 26 de Novembro de 1967 e elegeu os primeiros Corpos Gerentes, para o triénio 1968 – 1970, cuja composição se indica:
         Mesa da Assembleia Geral
         Presidente: Dr. Alfredo Maria Praça Cunhal; Vice-Presidente: Dr. António Maria Laboreiro de Villa-Lobos; 1.º Secretário: Padre António Lavajo Simões; 2.º Secretário: Dr. Alfredo Heliodoro dos Santos.
         Direcção
         Presidente: Engenheiro João Garcia Nunes Mexia; Vice-Presidente: Dr. Nicolau José Torres; 1.º Secretário: Padre Alberto Dias Barbosa;  2.º Secretário: Dr. Artur Campos Figueira; Tesoureiro: Salvador dos Santos.
         Conselho Fiscal
         Presidente: António Lopes de Andrade Júnior; Vogais: Engenheiro João Rafael de Melo Mousinho Almadanim e Dr. Angelino Augusto Ferreira.
         Foram criadas as seguintes Comissões Especiais: Comissão de Cultura e Defesa do Património Montemorense, Comissão Pró-Desenvolvimento Industrial e Agrícola, Comissão de Turismo e Propaganda, e Comissão de Actividades Artísticas e Desportivas
         A segunda Assembleia Geral realizou-se na Sociedade Carlista em 17 de Março de 1968. Nesta assembleia, e com o objectivo de angariar fundos para a aquisição do Convento de São Domingos e sua posterior recuperação, foi decidido promover a edição de um número especial de “O Montemorense”, que foi posto à venda , pelo preço base de 20$00. Este magnífico “Suplemento Especial” impresso em formato A3, é composto por 60 páginas, e dá a conhecer um pouco da história da Vila Notável e das suas aspirações, assim como pequenas resenhas das associações recreativas, desportivas, humanitárias e de solidariedade social, existentes na Vila, e as aspirações das freguesias e lugares do Concelho.
         Por escritura pública realizada no Cartório Notarial de Montemor-o-Novo em 25 de Abril de 1972, foi adquirido por 200 contos a António Romeiras Marques dos Santos, as ruínas do Convento de São Domingos, para futura sede do GAM.
         O projecto de remodelação do Convento de São Domingos foi entregue ao Arquitecto Santa Clara, que em Montemor, também elaborou o projecto do Abrigo dos Velhos Trabalhadores.
         Com os subsídios de 2.000 contos do Ministério das Obras Públicas, de 2.150 contos da Fundação Calouste Gulbenkian, de 100 contos da Câmara Municipal, da oferta de 1.000 contos por parte do Senhor Engenheiro Nunes Mexia, de 1.100 contos de um anónimo, e ainda, de verbas oferecidas pela população, e pela venda do suplemento especial de “O Montemorense”, as ruínas do Convento de São Domingos, classificado como imóvel de interesse público, pelo Decreto 44.075, de 5 de Dezembro de 1961, foram recuperadas por fases, dando lugar à sede social do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo.
         O primeiro núcleo, dos previstos nos Estatutos, para agremiação dos montemorenses residentes fora do concelho, nasceu em Lisboa, no dia 22 de Março de 1974, por iniciativa de Albino Sampaio.
         A primeira Assembleia Geral realizada no Convento de São Domingos (classificada de histórica), realizou-se no dia 24 de Março de 1974.
         O “Verão Quente de 1975” teve consequências nefastas no prosseguimento das obras, pelo que as mesmas foram suspensas.
         Face à situação existente, foi decidido em Assembleia Geral entregar o Convento de São Domingos à Câmara Municipal, mediante um protocolo de cedência. O processo prolongou-se, e felizmente que não se concretizou.
         O amor a Montemor-o-Novo, foi o tónico, que, funcionando como uma varinha mágica, permitiu o recomeço das obras que nunca mais pararam.
         Em 2 de Maio de 1976, foi inaugurada a “Biblioteca”, actualmente designada “Professor Doutor Banha de Andrade” e cujo primeiro Bibliotecário foi o Senhor Dr. Mário Nunes Vacas.
         Em 17 de Julho de 1977, na comemoração do 10.º aniversário do GAM, foram inauguradas a “Sala de Olaria” e a “Sala de Tauromaquia”.
         Em 1982, numa parceria entre o GAM e a GNR surgiu a “Escola de Equitação do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo”, que ao longo da sua existência, produziu excelentes frutos na formação dos jovens, na sua instrução na arte equestre e ocupação de tempos livres. Para o êxito da Escola de Equitação, muito contribuiu o Cabo-Chefe José Francisco Potra Borges.
         Em 15 de Março de 1986, foi a vez do “Museu de Arqueologia e de Etnografia” serem inaugurados. Organizado pelo Arqueólogo Mário Varela Gomes, está instalado em quatro salas do Convento de São Domingos. O nosso Museu de Arqueologia está considerado um dos melhores do País, e também da Europa.
         Em 16 de Março de 1996, a Assembleia Geral aprovou por unanimidade considerar São João de Deus e São Domingos, co-patronos do GAM.
         Em Setembro de 1997 a Direcção Geral do Património Cultural depositou no Convento de São Domingos 28 carros de tracção animal, de que o GAM é fiel depositário. Foram no decorrer dos anos, feitas várias tentativas para a construção de um espaço para abrigo dos coches, inclusive,  a execução de  dois projectos, um mais ambicioso e o outro mais modesto, mas, até à presente data não se conseguiu comparticipações, e as viaturas pertencentes ao Estado, vão-se degradando...
         Em 1998 a Doutora Ana Ribeiro da Mota Vacas teve a feliz ideia de criar os Estudos Gerais, que começaram a funcionar em Outubro desse ano. Ano após ano, esta feliz iniciativa, apoiada por professores voluntários, tem crescido, e esse desenvolvimento, tornou a Universidade Sénior, como hoje é chamada, de imprescindível nas actividades do GAM, porque ela é indiscutivelmente o “pulmão” do Convento.
         Além das aulas, os alunos da Universidade Sénior ainda têm tempo para o recreio. O meu querido Amigo Victor Guita criou a Tuna e o Grupo de Teatro, que têm levado o nome de Montemor-o-Novo a diversos pontos do nosso País.
         Em 2000 o Sócio Senhor Hugo de Oliveira, emigrante em França, solicitou autorização para  criar um Núcleo do GAM na localidade de Reze. A Direcção acedeu ao pedido formulado por o considerar com bastante interesse para o Grupo. No dia 24 de Junho último, visitei o Blog deste núcleo e fiquei surpreendido pela positiva. Mostra a agenda “mor + semana”, possui os diversos Blogs montemorenses actualizados, relata noticias de Montemor e do concelho, e oferece ainda, Links sobre Montemor-o-Novo.
         No dia 9 de Dezembro de 2000, por iniciativa da inventiva Dona Maria Ernestina Pedro foi inaugurada a “Sala do Brinquedo”.
         Em 2013, por iniciativa da engenhosa Dona Maria Ernestina Pedro foi inaugurada a “Sala das Bonecas”. O Programa Regiões da RTP fez reportagem no local.
         Igualmente, por iniciativa da talentosa Dona Maria Ernestina, foi inaugurada em 22 de Março de 2014, a “Sala do Traje”. A mentora do projecto, acompanhada por dois elementos da Direcção do GAM, foi entrevistada nos estúdios da SIC.
         O prestigiado Coral de São Domingos, o Ensemble Monte Mor, as Musas do Almansor, e os Escuteiros, nasceram dentro daquele monumento quinhentista. Também os “Fazendeiros de Montemor” renasceram naquele espaço.
         Sobre o GAM escreveu Mestre Leopoldo Nunes,: “O Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo não quer – até porque seria indigno – evidenciar alguns homens ambiciosos ou vaidosos; pretende, fundamentalmente, para atingir os mais nobres e proveitosos fins, que a acção a desenvolver seja colectiva, como garantia do maior êxito possível”.
         Para comemorar o 50.º aniversário da fundação do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo, a Direcção presidida pelo Dr. Paulo Xavier, empossada em sete de Janeiro de dois mil e dezassete, programou um extenso rol de actividades que se iniciaram ainda no mês de Janeiro, e se prolongam até ao final do ano.
         Em Dezembro, espero lançar no Convento de São Domingos a minha última compilação, designada “Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo – salpicos da sua história”.

Augusto Mesquita
Julho/2017

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