Uma homenagem
do Al Tejo a Domingos Maria Peças
Ciclo do Cinema Japonês
Egas
Branco Revê grandes obras da cinematografia nipónica.
Mais
uma obra-prima absoluta de Kenji Mizoguchi, o grande cineasta japonês e do seu
argumentista, Yoshikata Yoda.
Embora
a historia se passe no Japão medieval, foi realizada em 1954, fazendo pensar
nos campos de concentração do nazi-fascismo, na Alemanha, e países ocupados, e
no Japão. O intendente Sanshô, pela sua crueldade parece baseado nas sinistras
figuras que dirigiram esses campos sem a mais pequena réstea de humanidade.
Acabam no entanto por escapar com vida devido à ausência de ódio revanchista
das suas vítimas.
Comovente
e admirável tem, como quase sempre nas obras do grande realizador nipónico,
principalmente quando teve como colaborador Yoshikata Yoda, o povo sofredor e
explorado como personagem principal.
Mostra
o sofrimento de um povo sujeito à escravatura nas propriedades privadas das
grandes casas senhoriais do Japão imperial.
Sobre
esta obra escreveu João Bénard da Costa, o antigo director da Cinemateca
Portuguesa, e não obstante a sua condição de intelectual católico, embora
nalguns aspectos progressista, talvez o mais belo texto que lhe conheço.
Se
puderem tentem ver (ou rever) esta obra extraordinária, também no aspecto
puramente de linguagem, que Benard diz que nunca conseguiu ver, apesar de a ter
visto muitas vezes, sem chorar. É de facto difícil porque comovente.
ACTUAL
TREBLINKA, de Sérgio
Tréfaut
Ninguém
deveria deixar de ver esta obra agora estreada em sala (Finalmente!!! Mas
porquê só agora e em tempo de férias?!), já multipremiada, em Portugal (no
Festival Indie 2016) e no estrangeiro.
Um
documento importante sobre o nazifascismo, os seus campos de extermínio e o
assassinato de milhões de pessoas, através dos relatos de alguns dos seus
poucos sobreviventes.
Um
dos testemunhos é de Marceline Loridan-Ivens, cineasta e escritora, companheira
de Joris Ivens, famoso cineasta, antifascista e acompanhante empenhado de
algumas das revoluções socialistas do Século XX. Curiosamente é lhe atribuída
nesta obra uma frase que é a mais polémica do filme uma vez que, fora do
contexto e admitindo que terá sido bem traduzida, poderá prestar-se a grandes
equívocos: refere a ideologia e a religião, como se fossem males.
Ao
contrário, penso, o homem como o animal mais inteligente que conhecemos tem no
entanto na Ideologia o melhor (ou o pior) de si, porque as ideologias podem ser
a favor do Homem ou contra ele. Mas sem elas, as que defendem o progresso e a
justiça, o Homem não teria futuro.
Para
nós, portugueses, que sobrevivemos à longa noite fascista, de Salazar e seus
acólitos e com a Igreja Católica como apoiante, este filme tem um particular
significado. É que essa gente que oprimiu o nosso País durante quase meio
século, foi apoiante deste nazismo, fonte dos terríveis e quase inimagináveis
horrores que a obra descreve pelo relato de alguns que lhes sobreviveram.
Neste
início do Século XXI é inquietante todavia verificar que as ideologias
fascistas e nazis renasceram dos escombros e já surgem no poder no leste
europeu, nomeadamente na Ucrânia! E até na própria França crescem, ainda que
camufladas, principalmente nas frentes fascistas da marine le pen. E a extrema-direita
chegou ao poder nos EUA (trump)...
Os
que amam a Paz e o Progresso para os Povos não podem dormir descansados. A luta
vai ter que continuar. E o papel da Ideologia assume, como sempre, particular
importância.
A
nossa grande actriz Isabel Ruth, dá corpo e rosto às sobreviventes do
holocausto nazi em que pereceram milhões de pessoas, sistemáticamente
eliminadas, por ódio racial (os judeus, principalmente), por perseguição
política (os comunistas, em primeiro lugar)!
Nos
tempos que correm é para nós muito doloroso ver como alguns dos descendentes
das muitas vítimas de ontem (as de ascendência judaica, como muitos de
nós) se tornam em algozes hoje (do mártir povo palestiniano, vítima da
ocupação do seu país e de um novo genocídio cometido por sucessivos governos
israelitas). E quanto se levantam vozes a protestar e a propor uma solução de
Paz para a Palestina, são brutalmente eliminadas, como o Presidente Isaac
Rabin, assassinado por um militante sionista de extrema direita, quando
decorriam encontros para a Paz, entre representantes dos dois povos.
Algumas das obras que é indispensável
conhecer, como as que falam do apoio do fascista salazar ao nazi hitler e seus
apoiantes, com envio em matéria primas e géneros, roubadas ao povo português e
de como foi o governo fascista português recompensado pelos nazis, com a
entrega de parte do ouro retirado às vítimas assassinadas nos fornos
crematórios nazis. TREBLINKA era um deles, na Polónia ocupada.
Só
uma pequeníssima nota do muito que haveria a dizer sobre mais uma obra notável
do realizador haitiano, RAOUL PECK (Port-au-Prince, 1953), um homem de cultura,
autor de "LUMUMBA" e de "O JOVEM KARL MARX", este último
filme da sessão de gala no Festival de Berlim e que víramos com muito interesse
há dias e do facto demos notícia aos amigos.
Esta
nova obra, "I AM NOT YOUR NEGRO" baseia-se nas notas deixadas pelo
escritor e activista dos direitos cívicos nos EUA, JAMES BALDWIN (1924-1987),
que pretendia escrever uma obra sobre a luta anti-racista no seu país,
homenageando simultâneamente três grandes dirigentes negros assassinados,
Medgar Evers, Malcom X e Martin Luther King, que foram seus amigos e
companheiros de luta.
Repositório
tremendo do que tem sido a luta pelos direitos cívicos nos EUA e continua muito
actual, dado o retrocesso civilizacional naquele país e no mundo capitalista,
responsável pelo crescimento da extrema-direita, do racismo e da xenofobia,
como também na actual união europeia.
Medgar
Evers, foi o primeiro a ser assassinado, como sempre por um activista de
direita, membro da Ku Klux Klan, Byron De Le Beckwith, que no entanto escapou à
justiça durante 30 anos, só vindo a ser julgado e condenado pelo crime em 1994
(!!!).
Impressionante
o relatório do FBI sobre James Baldwin, essa tenebrosa instituição então
dirigida pelo famoso, pelas piores razões, Edgar G. Hoover.
Na
actualidade dos textos e discursos de Baldwin (alguns na voz de Samuel
L.Jackson) refira-se a sua afirmação de que tudo está nas mãos do povo
norte-americano. Sabemos o que isso significa de necessidade de luta organizada
e de esclarecimento de uma população que o é muito pouco.
Curiosidade
pelo surgimento nas imagens de actores famosos, apoiantes das causas cívicas,
entre os quais, um dos que traiu ideais e companheiros, Charlton Heston, aliás
mau actor, que viria a mudar de barricada e a tornar-se presidente da NRA
(National Riffle Association), activista contra o aborto, apoiante de Reagan e
dos Bush.
Haveria
muito a acrescentar sobre esta magnífica obra de Raoul Peck, mas não havendo
aqui e agora nem tempo nem espaço fica a fortíssima sugestão aos amigos para não a perderem.
Vi
no Cinema Ideal, ao Camões, em Lisboa.
Às
imagens que juntei adicionei a do jornalista Mumia Abu Jamal, que embora não
seja citado na obra, é uma das vítimas da perseguição racista nos EUA,
continuando preso.
Egas
Branco
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