RUI MENDES
A REALIDADE EM
QUE NOS ENCONTRAMOS
Esta
semana assistimos a mais um debate sobre o Estado da Nação.
As posições dos grupos parlamentares foram as
expectáveis.
Mas Portugal não viverá um momento tão positivo quanto
nos querem fazer crer.
O que ficou claro neste debate, julgo que por todos, é
a forma como o Governo aplica as medidas de austeridade, conhecendo-se hoje os
seus efeitos.
Para quem foi dizendo que o Governo não tinha um plano
B, fica claro que afinal havia outros planos, apelide-se ele de B, C ou se lhe
dê outra designação.
Sempre soubemos que em questões orçamentais não
existem milagres, e quando se inventam soluções, mais tarde ou mais cedo alguém
as terá que resolver. É sempre assim.
A mudança de Governo gerou-se numa fase em que vários
factores externos, como os baixos juros e o imprescindível apoio do BCE, o
baixo preço do petróleo, o turismo em alta, entre outros, e internos, tais como
a melhoria do clima social, do nível de confiança, e a estabilidade politica,
muito devida à permanente intervenção do presidente da republica, contribuíram
para o melhoramento de alguns indicadores, em especial o défice e o desemprego,
que vieram a apresentar resultados positivos e que não esperados serem
reduzidos nessa dimensão.
Mas realidade é que continuamos, e vamos continuar, a
viver em forte austeridade, o que mudou foi o modo como ela é aplicada.
O que verdadeiramente se alterou foi o discurso,
claramente mais positivista e sempre optimista. E esse tipo de discurso é
transmitido sempre, seja na abordagem de assuntos banais, seja para explicar
problemas graves. Fica-nos sempre a ideia que nada é um problema.
O dilema é que os problemas não se resolvem com
optimismos, nem com um discurso menos preocupado.
Tantas vezes vamos ouvindo os membros do executivo
referir que estamos a resolver isto e aquilo, que parece que os problemas são
resolvidos. E quando nos inteiramos está tudo basicamente na mesma.
Nos impostos directos pouco ou nada se fez, nos
indirectos pode-se tributar que poucos são os que os questionam, nem tão pouco
o vulgar cidadão identifica a parte respeitante ao imposto que está a pagar.
Nos Serviços Públicos que se corte, ou melhor, que se
cative o necessário. E diz esta solução governativa que se deve defender os
Serviços Públicos. Que grande paradoxo.
No que se refere a remunerações apenas foram repostos
os montantes que haviam sido retirados, Nada mais que isso.
E mais, muito mais, poderíamos aqui referir, do que
anda para ser resolvido. Não se sabe é quando.
O que verdadeiramente nos deve interessar é que o país
resolva os seus problemas estruturais, que se criem condições favoráveis para a
capitalização das empresas, que se resolvam os problemas da banca e os seus
reais impactos nas contas públicas e que se expliquem as imparidades
verificadas particularmente na CGD, que se caminhe para a progressiva redução
da divida, a qual apresenta um valor acima dos 130% do PIB, quando o PIB tem
apresentado um crescimento. Algo absolutamente preocupante e o maior problema
do país. A melhoria do rating, na perspectiva das várias agências, dependerá da
redução da dívida.
É que felizmente temos beneficiado de um clima
favorável, o qual certamente não durará sempre, e a melhor defesa de um país é
apresentar uma economia robusta, sustentada num forte e competitivo sector
empresarial, o qual deverá ser capaz, por si, de responder positivamente aos
problemas que o país apresenta, contribuindo para a redução do desemprego, para
a qualidade do emprego gerado, para a valorização do trabalho, para o continuo
crescimento do sector das exportações, resultando também no crescimento da
receita fiscal, contribuindo dessa forma para a modernização do país.
É esta a nossa expectativa, fazer crescer o país
através de uma economia forte, e assim poder distribuir a sua riqueza, e não
distribuir aquilo que no futuro não estará assegurado que venha a existir.
E é neste ambiente que vamos para férias.
Até Outubro
Rui Mendes
Sem comentários:
Enviar um comentário