COSMOPOLITISMO
Começou
ontem o Exib Musica, mercado e música ibero-americana e, em simultâneo, a
Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central fez acontecer em Évora uma
conferência internacional sobre ecossistemas criativos.
Não vou discorrer
sobre o mérito destas iniciativas ou mesmo sobre o seu conteúdo. Quero apenas
conversar sobre este momento em que a cidade se enche de gente que não a habita
actualmente e que nos vai dizendo o que pensa sobre a cidade a que chega,
alguns deles após muitas horas de voo.
Para quem gosta da
cidade onde vive e não tem nenhum problema que só a psicanálise pode resolver,
enche-se de satisfação com a forma como este espaço é encantador para quem
chega, seja pela luz única, seja pela beleza do seu património ou pela
fantástica sensação de segurança que permite passear tranquilamente a qualquer
hora do dia ou da noite.
Mas estas centenas de
pessoas que chegam para o Exib ou para a Conferência, não são apenas bálsamos
para a nossa autoestima, são também fontes inesgotáveis de conhecimento quando
nos transmitem a sua visão das cidades de origem sem a mediação de qualquer
comunicação social.
São transformadas
pelo contacto connosco e transformam a cidade deixando experiências e aspectos
essenciais das suas culturas, obrigando-nos a romper com o denso nevoeiro que
se vai formando quando se vive em circulo fechado, moído pelas intrigas locais,
algumas delas com séculos de existência.
Há quem entenda que a
identidade de uma cidade se preserva repetindo tradições, cultivando a lógica
do “nós e os outros”, fechando as suas fronteiras para tratar dos que cá vivem,
em circuito fechado e com o mínimo de contaminação possível.
Na minha opinião esse
é o caminho para a asfixia, para o lento definhamento, para a morte num prazo
mais curto do que se imagina.
Eu sou dos que acham
que as trocas de experiências culturais, a aprendizagem de outras formas de
estar são o alimento para a nossa sobrevivência, para o nosso desenvolvimento e
para o reforço dos nossos traços identitários na construção permanente de novas
identidades.
Que bom foi ouvir
repetidas vezes, em castelhano dos dois lados do Atlântico, “tu ciudad es
preciosa”. Que bom que é poder sentar-me numa esplanada e conversar com um
umexicano, um venezuelano, um peruano, sobre as nossas diferenças e semelhanças
e enriquecermo-nos mutuamente.
Desculpem lá esta
minha presunção, mas uma cidade ou procura o cosmopolitismo ou será sempre uma
aldeia rodeada de muros que passará o tempo à espera que o último bardo cante a
última canção pura, provavelmente no funeral do último autóctone devidamente
certificado como tal.
Até para a semana
Sem comentários:
Enviar um comentário