sexta-feira, 5 de maio de 2017

SOBRE VILA VIÇOSA OPINA TIAGO SALGUEIRO

E eu ao ler o que escreve Tiago Salgueiro acode-me à lembrança o Soneto do Bocage que diz:
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado* ao meu, quando os cotejo!
 
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza. 


* Terra

                                          FALTA MUITO PARA AS AUTÁRQUICAS?!
Muito se tem discutido, nas redes sociais e também nos blogues de autoria desconhecida, sobre a realidade turística de Vila Viçosa e o deficit de medidas que proporcionem um melhor serviço ao visitante.
O panorama calipolense, em termos de oferta, é até bastante diversificado.
Há um leque de opções patrimoniais e turísticas com elevado motivo de interesse e que podiam contribuir para um significativo aumento da procura relativamente a este nosso território. No entanto, sem um trabalho conjunto em termos de estudo, conservação e divulgação, como sempre tenho defendido, é impossível definir estratégias de sucesso a este nível. O que não é conhecido, certamente não é procurado!
O município calipolense, imbuído de uma forte vontade em propagandear iniciativas e projetos ao nível turístico, peca pela débil apresentação de resultados concretos e eficazes.
O que tem sido feito, para além da recente presença na BTL? Será suficiente? Terá algum tipo de retorno?
Fala-se muito em apoio a iniciativas da sociedade civil, no que concerne à defesa do património, mas na hora da verdade, nada se concretiza… Advoga-se que a comunidade deve ter uma participação ativa, mas quando alguns têm algum tipo de empreendimento, são sistematicamente marginalizados. E todos sabemos os motivos pelos quais isso acontece!
Qual foi o último projeto apoiado pela Câmara, em termos de estudos do património? Alguém se recorda? Concretizou-se alguma iniciativa de reabilitação patrimonial que pudesse vir a constituir uma mais-valia, em termos turísticos?
Se se proclama aos quatro ventos que o turismo com base numa forte componente patrimonial deve ser uma aposta no presente e no futuro (e quase todos os já conhecidos candidatos defendem este princípio), a verdade é que a poucos meses do fim do mandato autárquico, continuam sem aparecer os resultados concretos e visíveis, porque o investimento nesta área é quase nulo.
Muitos municípios, não muito distantes de nós, têm feito uma aposta bem-sucedida na identificação e reabilitação de monumentos e conjuntos históricos, através de medidas que permitem a participação da comunidade, a divulgação dos bens de maior interesse e a articulação com outros agentes de desenvolvimento, de modo a permitir a disponibilização de uma oferta de qualidade, que cative os turistas.
Por vezes, a partir de uma pequena história ou de um monumento, são criadas “narrativas” que “seduzem”, de forma positiva, os potenciais interessados e os levam a fazer uma visita até esses locais. E vamos assistindo, impávidos e serenos, a iniciativas que incluem a criação de aplicações (as designadas MOBILE APPS), que disponibilizam informações atualizadas para sistemas móveis operativos, sobre os locais a visitar, os horários, os preços, os restaurantes e todo um conjunto de informações uteis. Tudo isto, à distância de um telemóvel.
No entanto, por cá, estas novas possibilidades ainda parecem fazer parte de um futuro muito distante. E por isso, continuamos parados no tempo, como se não precisássemos de nada fazer para divulgar o que temos. Para além dos meios convencionais de divulgação deixarem muito a desejar, nem sequer são equacionadas ou discutidas estas hipóteses. Continuamos a viver cada vez mais isolados e as queixas de empresários da hotelaria e da restauração são recorrentes.
Para combater a sazonalidade das visitas (que ocorrem maioritariamente nos meses de primavera e verão), há que oferecer programas turísticos que possibilitem a vinda de fluxos turísticos nos períodos menos convencionais. Infelizmente, não tem havido essa preocupação por parte de quem deveria tê-la.
Se em termos geográficos não somos favorecidos, por estarmos longe dos grandes centros urbanos, importa direcionar a divulgação para o vizinho mercado espanhol. A aposta em promover e divulgar Vila Viçosa de forma qualitativa e eficiente tem vindo a ser sistematicamente adiada.
A aposta em soluções interativas que complementem a visita a espaços históricos (Castelo, Igrejas, Arquitetura da Água, etc.), combinando o turismo com a inovação tecnológica, seria certamente uma medida eficaz. O investimento em áudio-guias que permitam, em diferentes línguas, a descrição e interpretação do património e da história calipolense (nomeadamente no centro histórico), dando uma ideia da evolução urbana, poderia ser outra hipótese bastante apelativa.
A recriação virtual da vila medieval, do castelo primitivo, da cerca nova que envolvia o aglomerado quinhentista e dos seus habitantes, iniciativa que poderia contar com o apoio de Universidades e centros de investigação, sem dúvida que daria uma nova visão sobre Vila Viçosa e a sua evolução ao longo do tempo.
Quem tem este tipo de responsabilidade, em diversificar, qualificar e inovar na oferta? Estes projetos requerem investimentos iniciais, que serão rentáveis a médio prazo e que poderiam trazer resultados concretos.
Muitas empresas especializadas neste sector já tentaram negociar estes projetos com o município e nem sequer foram recebidos, o que dá conta dos elevados níveis de autismo por parte de quem decide… E há bastantes apoios nos fundos comunitários para estas iniciativas, que continuam sistematicamente a ser perdidos…
Eu tenho tentado, através das rede sociais, avançar para uma identificação e inventariação do património local, como uma tentativa de chamar a atenção relativamente a muitos edifícios e espaços que possuem potencialidades, mas que em muitos casos, se encontram em avançado estado de degradação.
O objetivo consiste sobretudo em permitir o conhecimento e a salvaguarda destes bens, dando-lhes alguma visibilidade e proteção. Os meios de que disponho são reduzidos, pois não contam com nenhum tipo de apoio institucional, mas penso que têm servido para que, pelo menos, a comunidade os conheça em maior extensão. E é essa identidade que pode ser mais um fator de atração para quem nos procura e para quem nos visita.
Poderia ser uma base preliminar de trabalho para muitas outras iniciativas.
Esta é a minha visão (subjetiva) de “serviço público”, que certamente permitiria a criação de um suporte de carácter turístico de grande utilidade. Vila Viçosa tem muitos bens de relevância cultural que estão subaproveitados, também por se encontrarem esquecidos e degradados. Houvesse vontade política de encontrar soluções para estes problemas e certamente que a nossa oferta turística teria muito maior qualidade!
Pela minha parte, tentarei cumprir esta missão de dar a conhecer o que o tempo foi degradando, convicto de que muito do que existe, bem conservado, divulgado e em regime de abertura ao público, constituiria um excelente fator de atratividade.
Tiago Salgueiro

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