terça-feira, 2 de maio de 2017

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM É DE CLÁUDIA SOUSA PEREIRA

                            LER, VER VS FALAR, OLHAR
Nunca se leu tanto como agora. Tanto não quer dizer bem ou mal, quer dizer isso mesmo: muita gente que para comunicar tem de codificar e descodificar uma mensagem através do verbo ou palavra, neste caso a escrita que permite a presença à distância no espaço ou no tempo. Quando há umas décadas, na massificação do audiovisual pela televisão, as gerações mais velhas receavam o cataclismo da palavra escrita, foram-se esquecendo de aprender, para ensinar, a ler as imagens e outros sinais que, usando códigos, diferentes, requerem as mesmas características do verbo inicial: informação, sentidos, procura de reacções para fins diversos.
A mesma visão apocalíptica surge agora com os ainda renitentes à utilização das redes sociais, o que os afasta de conhecerem melhor o que é uma parte considerável da sociedade em que vivem todos os dias. Respeitando essas posições, reconhecendo que isso não transforma essas pessoas em indivíduos menos eruditos e interessantes, apenas o lamento pelo que, de certa forma, estão a perder e pelo que com a sua intervenção, erudita e interessante, poderemos estar a perder, nós “os digitalizados”. Seriam mais a contribuir para a “humanização do digital”.
Decorreu na semana passada em Copenhaga a Digital Media Europe 2017, uma conferência anual (ainda que não tenha descoberto desde quando se realiza) que trata dos negócios que se fazem através de plataformas digitais e onde o jornalismo teve um lugar de discussão importante, nomeadamente pelas circunstâncias a enfrentar que condicionam todas as plataformas que comunicam com as massas: a capacidade de vender e vender-se, termos feios para alguns, ainda líricos, mas acertados no incontornável capitalismo vigente em toda a parte, que não precisa de ser desenfreado se o conhecermos, estivermos atentos e tomarmos bem conta dele. O que passará sempre por um comportamento ético estabelecido, ou seja, pela educação.
Nessa conferência falou-se também da uniformização da experiência dos utilizadores nas redes sociais e como se tornou indiferente a marca por detrás do conteúdo. Assistimos a isso o tempo todo. Anunciam-se livros, carros, viagens, roupas, líderes, sentimentos, experiências, que partilhamos, não se percebendo a uma primeira incauta impressão, em muitos casos, se são para contagiar os outros ou querer elevar-se acima dos outros. Ficamos, vezes demais, sem perceber se alguns de nós, dos que nos expomos, por diversos motivos, com várias intenções e em círculos mais ou menos alargados, querem ser lidos e vistos ou se apenas que nos oiçamos falar enquanto olhamos para nós, eles e elas. Essa é a marca que podemos assumir e imprimir nos outros. E os outros devem, por isso, ler com atenção para perceberem se estão apenas perante algo que distrai ou chama a atenção. Ambas válidas, a distracção e a atenção, nos seus lugares próprios.
Vamos recomeçar a assistir, neste Verão eleitoral, a um aumento da venda de líderes pelas redes sociais. Assistiremos também a diversas paródias desses mesmos anúncios e a outras coisas que querendo ser sérias parecem paródias. As melhores serão as que fizerem com qualidade isso tudo. E aprenderemos certamente alguma coisa com elas. E até haverá quem lhe baste aparecer para já ter ganho, mesmo que quem assista a essa aparição não tenha, de facto, tido uma visão. O que como todos fomos percebendo, neste Maio de 2017, de há 100 anos para cá pode confundir-se, mas não é a mesma coisa.
Até para a semana.



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