sexta-feira, 21 de abril de 2017

RECORDAÇÕES DO HELDER

Um "bodo" aos pobres
                                             E, a tradição já não é o que era.
Não será, mas pode voltar nos escritos memoriais de quem não a esqueceu, nem a esquecerá, de quem a viveu, de quem não a renega e a ressuscita e, cuja intensidade com que a gravou no seu cérebro, lhe permite, ainda, vivenciá-la e partilhá-la com os amigos, sobretudo aqueles que não renegam as suas raízes, a sua maneira de ser e de pensar, a que poderemos chamar identidade.
Estamos no começo das FESTAS que irão popular por todo o País, nos lugares mais recôncavos e tristonhos, nos mais alegres e vistosos.
Por todos os povoados irão surgir festejos, aglutinadores de pessoas, que se dignam ir à Festa. Umas irão à festa pela festa, outras e aqui reside a maioria, normalmente, na Festa das aldeias ou das pequenas povoações, para visitarem a família.
É salutar este procedimento, louvável nos decorrentes tempos em que o individualismo e o esquecimento são elementos que se sobrepõem à solidariedade.
Quem não se lembra dos "jantarinhos de carne" ou dos "fritos"? - Que eram oferecidos a quem caísse na desgraça, ou sofresse um profundo desgosto. Era um meio de alívio à dor ou à desgraça, um ato caridoso, não tanto pelo envio, mas pelo afeto que o ato em si representava, uma ação solidária em dia de Festa.
Inesquecível.
O feriado do Concelho está próximo e com ele a Festa da Boa Nova, a Festa dos Prazeres e, quantos atos como os que acabei de descrever presenciei.
A família Camões, não a do maior poeta português, Luís Vaz de Camões, que, penso, não ficaria mal, nem destoaria do sentido deste texto, evocar o poema "Todo o mundo é composto de mudança", mas a família Camões, do monte de Bacelos, que na década de quarenta, cinquenta, ainda mantinha a tradição de oferendas.
Na igreja de Santo António, em Terena, na manhã de Domingo de Prazeres, aquela família em parceria com a família Neves, em mesa comprida, feita de propósito para o efeito, distribuíam alimentos pelas pessoas mais carenciadas, com as viúvas em primeiro lugar.
Naquele tempo em que o trabalho escasseava fora das épocas sazonais, vivendo-se muitas vezes do fiado e da esmola, qualquer oferta era considerada uma bênção, aqui acrescida e elevada por ser dia de Festa.
Talvez, e aqui fazendo uma analogia com a distribuição dos "Pãozinhos de Santo António" pelo Pároco do Concelho, no dia 13 de Junho, dia daquele Santo e o ato de distribuição de alimentos, outrora, Domingo de Prazeres pelas duas famílias Camões e Neves, não seja grande erro afirmar-se que a Tradição teima em não morrer.   

Hélder Salgado
21-04-2017.


1 comentário:

Anónimo disse...

5 estrelas para estas "lembranças" muito bem descritas pelo Hélder.