Baseado em Textos do Dr. Alexandre Laboreiro.
Aprender a Ser
(Arquitecto, escritor e
inventor norte-americano)
Tem constituído, ao longo da História do ser humano, uma
constante - ligada, é certo, à Inteligência superior que
ilumina o Pensamento, a Acção, o Sentimento, a Inspiração nas relações do Homem
com o Meio e com o Tempo - a preocupação de imprimir ao curso da sua
vida, uma evolução no sentido do Progresso (abrindo caminho ao desenvolvimento
da Técnica, da Ciência, da Arte, das Letras): preocupações, contudo, instiladas
por um cuidado de construir um Saber que faça do Homem, alguém sensibilizado
por um constante desejo de aprender a ser (enquanto intenção de permanente enriquecimento
como Pessoa).
E, não há dúvida, o processo, por excelência (através dos
tempos) na formação do Homem, tem sido a Educação.
Ora, in “A
Educação Que Ainda é Possível”, diz-nos o Professor Espanhol José Gimeno
Sacristán que a educação que conhecemos pode manter-se como agora funciona,
burocratizando-se progressivamente, defendendo-se e regressando a posturas do
passado, reduzindo o seu papel de motor cultural e de agente de integração.
Pode encobrir as suas contradições e a sua incapacidade de universalizar o
direito de todos a educar-se por igual servindo e segregando segmentos da
população, “descentralizando” o sistema educativo à medida de cada classe e
grupo social e cultural. Pelo contrário, pode reconstruir-se a partir das suas
próprias e melhores tradições. Sabemos que as instituições escolares não estão
sós na tarefa de educar e ensinar, pelo que se costuma pedir às famílias, meios
de comunicação, etc., que colaborem com as escolas e com os professores. Sem
negar a importância deste pedido, deveríamos extrair todas as consequências
desse facto, hoje mais visível. Se as instituições escolares não estão
sozinhas, não queiramos que funcionem como se o estivessem, e que tudo o mais
se cole ao estabelecido por ela, restituindo-lhe a sua centralidade na
educação. Devemos, pelo contrário, fazê-las funcionar doutro modo. As
instituições que servem a escolarização, não se propõem “agarrar” o monopólio
da informação e, igualmente, não se intitulam o único meio de transmiti-la,
satisfazendo interesses ou gerando-os. Porém, a escola constitui - em
certa medida - “uma varanda sobre o mundo”: podendo contudo
ser aproveitada a variedade cultural dos seus alunos e encarregados de
educação - quer no enriquecimento da actividade em sala
de aula, quer como participantes preponderantes em palestras sobre temas
educativos, ou na preparação de exposições culturais em redor da temática da
educação, ou mesmo como colaboradores ou organizadores do Jornal de Escola
(enquanto órgão de relevância pedagógica na abordagem da importância da
Escola -
nas suas múltiplas facetas de análise)
- pretendendo, não fazer do jornal
escolar um exemplo de jornalismo de excelência, mas sim um elo de ligação
Escola-Família, ou mesmo Escola-Região.
Por sua vez, a obra de divulgação didáctica “Educação - um
Tesouro a descobrir” (editada pela UNESCO) diz-nos em determinada altura: «Para
dar à educação o lugar central que lhe cabe na dinâmica social, convém, em
primeiro lugar, salvaguardar a sua função de cadinho, combatendo todas as
formas de exclusão. Há que conduzir, ou reconduzir, para o sistema educativo,
todos os que dele andam afastados, ou que o abandonaram, porque o ensino
prestado não se adapta ao seu caso. Isto supõe a colaboração dos pais na
definição do percurso escolar dos filhos e a ajuda às famílias mais pobres para
que não considerem a escolarização dos seus filhos como um caso impossível de
suportar».
Numa antologia de Ensaios (“Aprender a Ser”), escritos pelo
ensaísta francês Edgar Faure, diz-nos ele
- a determinado passo - o
seguinte: «Toda a educação, a começar pela educação familiar, tem uma função de
socialização a cumprir para com a criança
e o adolescente. A escola continua e continuará a entregar-se a um papel
de formação cívica, nomeadamente nos países que recentemente conquistaram ou
recuperaram a sua identidade nacional, e de formação ideológica nos países onde
uma revolução julga ser seu dever conquistar os espíritos e lutar, em todas as
frentes, contra os bastiões do passado. O essencial não é saber qual o lugar
que este género de instrução ocupa no ensino, mas para que fins tende,
implicitamente pelo menos: favorecer o aparecimento de indivíduos tendo a sua
maneira própria de conceber judiciosamente as suas relações com o mundo, ou
condicionar os indivíduos submetidos a modelos impostos e fácil de governar?
Estimular a formação de espíritos apaixonados pela liberdade e dotados de senso
crítico, ou consagrar as hierarquias? O facto é que, em muitas circunstâncias,
é preciso para a criança e para o adolescente forças fora do comum ou
capacidades excepcionais de evasão, ou ainda uma sólida impermeabilidade, para
guardar intactos a curiosidade e o sentido inventivo, que são faculdades
primordiais do espírito humano».
É que - como inicia o livrinho “Para onde vai a
Educação?” - escrito pelo psicólogo Jean Piaget -
somos defrontados com a seguinte constatação: «O desenvolvimento do ser
humano está subordinado a dois grupos de factores: os factores da
hereditariedade e adaptação biológica, dos quais depende a evolução do sistema
nervoso e dos mecanismos psíquicos elementares, e os factores de transmissão ou
de intervenção sociais, que intervêm desde o berço e desempenham um papel de
progressiva importância, durante todo o crescimento, na constituição dos
comportamentos e da vida mental. Falar de um direito à educação é, pois, em
primeiro lugar, reconhecer o papel indispensável dos factores sociais na
própria função do indivíduo».
Abrindo um breve parêntesis no léxico que vimos
apresentando, não resisto a registar um pequeno comentário que Fernando Rosas
nos oferece sobre o lugar da Cultura na sociedade portuguesa, no âmbito do
Estado Novo. Diz-nos ele in “Salazar
e o Poder”: «A Cultura que, a este respeito o Estado Novo, subliminarmente,
sempre inculcará entre a população, é a de que ela, para sua própria segurança,
se devia afastar da política - “a minha política é o trabalho” - e
deixar as decisões sobre a governação do país a quem estava pela ordem natural
das coisas, hierarquicamente destinado a esses altos desígnios»: visando, como
se depreende, fazer concluir como a política salazarista pretendia afastar o
povo da Cultura, e dos aspectos culturais: perseguindo os intelectuais
(escritores, poetas, pintores, escultores, professores, arquitectos, jornalistas) - que
determinantemente não seguiam as linhas culturais do Estado Novo. Daí, serem
grandes os números de intelectuais presos, perseguidos, demitidos dos empregos -
vendo as suas obras literárias proibidas. Prevalecia a vontade sua, do
que era a verdade - pela repressão.
Bartolomeu Valente, in
“Educar para o Provir”, ajuda-nos a explicar aqueles momentos de Fé, num tempo
e espaço redentores - que iluminam o espírito de crença em
“porvires” de cultura, justiça, liberdade.
Diz-nos ele: «O alcance transformador de uma potente
liberdade interior servida por uma consciência muito lúcida gera rumos de tal
modo inesperados e prenhes de potencialidades que provocam o espanto. Em geral,
conseguem, suscitar processos libertadores de enorme vastidão no espaço e no
tempo. Mas aqui também não são as novas condições criadas que são libertadoras;
antes a exemplaridade do génio que as promove, o fascínio dele que solicita os demais sujeitos a
assumirem-se e desdobrarem o processo encetado indefinidamente. E só porque
estes aderem, e tomam deles próprios o ideal proposto e desmultiplicam
consequentemente as transformações em curso, é que isto é libertador».
José Alexandre Laboreiro
In Folha de Montemor .
Outubro 2016
Transcrição autorizada
pelo Autor
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