OS BAILES DA PINHA
Na sequência de tudo o que temos escrito sobre tradições,
usos e costumes da nossa terra, lembramo-nos que era por esta altura que nas
Sociedades (Artística e da Musica) se organizavam os Bailes da Pinha.
Que me seja dado saber esta tradição ainda se mantem em
várias Freguesias do nosso Concelho (até à data apenas o Rosário nos enviou
programa). Daqui o nosso aplauso para quem teima em manter vivos os nossos usos
e costumes.
Mas afinal o que era o Baile da Pinha? Um baile como outro
qualquer, mas com a particularidade de ser organizado por uma comissão de
mancebos solteiros, sempre com a vontade de chegar a calça à saia.
Ao centro da sala de baile era pendurado um receptáculo de
grande dimensões simulando uma pinha, em cujo interior se colocavam vários
objectos que passavam a ser pertença do par que “abria” a pinha, pomposamente
designados de Rei e Rainha.
Objecos tais como: uma gravata, um lenço,
guloseimas, perfumes, garrafas de bebidas finas, peças de toilette. Após a consumação
da abertura da “Pinha” era de bom-tom os Reis percorrerem o salão do baile
ofertando à assistência uma bebida (escarchado ou vinho do Porto acompanhados
de uma bolachinha, bombons ou bolinho). Há ainda que fazer referência a um
casal de pombos que era encerrado na pinha e que mal esta se abria, perante os
aplausos dos presentes esvoaçavam pela sala, até encontrar poiso para
assistirem ao resto do baile. Suponho que o ritual do casal de pombos serviria
para incentivar os Reis a declarem o seu amor e dai nascer um futuro namoro que
muitas das vezes dava em casamento.
Conforme já assinalado o Baile da Pinha era organizado por
um grupo se associados, correndo por sua conta e risco quer os lucros quer os
prejuízos. Cabia aos mesmos contratar o “toque”, comprar os objectos para o
interior da pinha e toda a logística necessária para o bom andamento do evento.
O objecto pendurado no tecto, conforme já assinalámos tinha o formato de uma pinha,
constituída por vários “gomos”, e só depois de aberta era possível aceder ao
conteúdo previamente introduzido na mesma. Era todo um ritual o fecho da
“Pinha”, e um segredo religiosamente guardado por quem tinha tal missão, no meu
tempo, o Senhor Luís Tátá , mais tarde substituído pelo filho Manuel (Néi).
Era a mesma coberta por garridas fitas de seda, e apenas uma,
por artes mágicas tinha o condão de abrir a pinha.
Cada mancebo adquiria previamente a sua fita, mediante o
pagamento estipulado, e se algumas sobrassem eram as mesmas leiloadas com a
frase chamariz “dedicada à menina tal”, dado que era de bom-tom não recusar ir
puxar a fita com quem mostrou tal admiração. Mas muitas vezes sucedia ter que
oferecer a fita a um amigo, por recusa de ser par. Assim como a mesma donzela
ter o privilégio de ter vários pares.
Á hora estipulada os pares colocavam-se em círculo à volta
da Pinha, e sempre dançando eram chamados pelo Mestre-de-cerimónias pelo número
da fita adquirida, e continuando a dançar puxavam uma qualquer fita, ate que
algum par acertasse com a fita que abria a Pinha. Eram consagrados os Reis, e
durante a semana na Vila não se falava noutra coisa.
A propósito e a talhe de foice vou-lhes confidenciar que há
uns anos atrás, e por insistência da minha prima Lina, organizamos um Baile da
Pinha (familiar) no Monte da Fonte Santa. Devido às boas relações que mantinha
com os Corpos Directivos da Sociedade Carlista de Montemor, encarreguei-me de
pedir emprestada uma “pinha”, que outrora era utilizada nos referidos bailes.
Só que não estava à espera do tamanho avultado da mesma. De grandes dimensões
era a mesma coberta no exterior por embalagens de ovos, eletrificada por um
sistema que ao abrir dava azo a um interior deslumbrante.
Por azar meu São Pedro não esteve de acordo com esta festa e
desde que fui buscar a pinha à Colectividade e durante todo o fim-de-semana foi
chover a cântaros. No caminho até ao automóvel, eu e a Fátima não só ficamos
completamente encharcados, como fomos perdendo a cobertura exterior, agravado
ainda pela dificuldade acrescida de acomodar a dita no banco traseiro do carro
O certo é que o baile realizou-se e com mais ou menos
dificuldade o objecto foi composto e a alegria própria de transmitir aos descendentes
os nossos usos e costumes, proporcionou-nos uma agradável noite, em que pela
primeira vez num ambiente rural se realizou um BAILE DA PINHA.
Mas o pior estava para vir: se nas vésperas a chuva foi ininterrupta,
a mesma agravou-se no dia seguinte e não só tornou penoso o regresso, como a
devolução da pinha. Grande molha e chegada à Carlista com pouco mais que o
esqueleto daquilo que outrora foi um objecto que por certo muito tinha
contribuído para pomposos bailes no Salão de Festas da Carlista.
Mais uma vez prevaleceram as excelentes relações com os
Corpos Sociais, que compreenderam tudo o que nos havia sucedido.
Bem…. BAILE DA PINHA….já não….Mas quem sabe talvez o do
BACALHAU!
Chico Manuel
Março 2017
1ª e 2ª foto - Net
3ª e 4ª - Chico Manel
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