segunda-feira, 20 de março de 2017

MEMÓRIAS DO PASSADO

                                              OS BAILES DA PINHA
Na sequência de tudo o que temos escrito sobre tradições, usos e costumes da nossa terra, lembramo-nos que era por esta altura que nas Sociedades (Artística e da Musica) se organizavam os Bailes da Pinha.
Que me seja dado saber esta tradição ainda se mantem em várias Freguesias do nosso Concelho (até à data apenas o Rosário nos enviou programa). Daqui o nosso aplauso para quem teima em manter vivos os nossos usos e costumes.
Mas afinal o que era o Baile da Pinha? Um baile como outro qualquer, mas com a particularidade de ser organizado por uma comissão de mancebos solteiros, sempre com a vontade de chegar a calça à saia.
Ao centro da sala de baile era pendurado um receptáculo de grande dimensões simulando uma pinha, em cujo interior se colocavam vários objectos que passavam a ser pertença do par que “abria” a pinha, pomposamente designados de Rei e Rainha.
Objecos tais como: uma gravata, um lenço, guloseimas, perfumes, garrafas de bebidas finas, peças de toilette. Após a consumação da abertura da “Pinha” era de bom-tom os Reis percorrerem o salão do baile ofertando à assistência uma bebida (escarchado ou vinho do Porto acompanhados de uma bolachinha, bombons ou bolinho). Há ainda que fazer referência a um casal de pombos que era encerrado na pinha e que mal esta se abria, perante os aplausos dos presentes esvoaçavam pela sala, até encontrar poiso para assistirem ao resto do baile. Suponho que o ritual do casal de pombos serviria para incentivar os Reis a declarem o seu amor e dai nascer um futuro namoro que muitas das vezes dava em casamento.
Conforme já assinalado o Baile da Pinha era organizado por um grupo se associados, correndo por sua conta e risco quer os lucros quer os prejuízos. Cabia aos mesmos contratar o “toque”, comprar os objectos para o interior da pinha e toda a logística necessária para o bom andamento do evento. O objecto pendurado no tecto, conforme já assinalámos tinha o formato de uma pinha, constituída por vários “gomos”, e só depois de aberta era possível aceder ao conteúdo previamente introduzido na mesma. Era todo um ritual o fecho da “Pinha”, e um segredo religiosamente guardado por quem tinha tal missão, no meu tempo, o Senhor Luís Tátá , mais tarde substituído pelo filho Manuel (Néi).
Era a mesma coberta por garridas fitas de seda, e apenas uma, por artes mágicas tinha o condão de abrir a pinha.
Cada mancebo adquiria previamente a sua fita, mediante o pagamento estipulado, e se algumas sobrassem eram as mesmas leiloadas com a frase chamariz “dedicada à menina tal”, dado que era de bom-tom não recusar ir puxar a fita com quem mostrou tal admiração. Mas muitas vezes sucedia ter que oferecer a fita a um amigo, por recusa de ser par. Assim como a mesma donzela ter o privilégio de ter vários pares.
Á hora estipulada os pares colocavam-se em círculo à volta da Pinha, e sempre dançando eram chamados pelo Mestre-de-cerimónias pelo número da fita adquirida, e continuando a dançar puxavam uma qualquer fita, ate que algum par acertasse com a fita que abria a Pinha. Eram consagrados os Reis, e durante a semana na Vila não se falava noutra coisa.
A propósito e a talhe de foice vou-lhes confidenciar que há uns anos atrás, e por insistência da minha prima Lina, organizamos um Baile da Pinha (familiar) no Monte da Fonte Santa. Devido às boas relações que mantinha com os Corpos Directivos da Sociedade Carlista de Montemor, encarreguei-me de pedir emprestada uma “pinha”, que outrora era utilizada nos referidos bailes. Só que não estava à espera do tamanho avultado da mesma. De grandes dimensões era a mesma coberta no exterior por embalagens de ovos, eletrificada por um sistema que ao abrir dava azo a um interior deslumbrante.
Por azar meu São Pedro não esteve de acordo com esta festa e desde que fui buscar a pinha à Colectividade e durante todo o fim-de-semana foi chover a cântaros. No caminho até ao automóvel, eu e a Fátima não só ficamos completamente encharcados, como fomos perdendo a cobertura exterior, agravado ainda pela dificuldade acrescida de acomodar a dita no banco traseiro do carro
O certo é que o baile realizou-se e com mais ou menos dificuldade o objecto foi composto e a alegria própria de transmitir aos descendentes os nossos usos e costumes, proporcionou-nos uma agradável noite, em que pela primeira vez num ambiente rural se realizou um BAILE DA PINHA.
Mas o pior estava para vir: se nas vésperas a chuva foi ininterrupta, a mesma agravou-se no dia seguinte e não só tornou penoso o regresso, como a devolução da pinha. Grande molha e chegada à Carlista com pouco mais que o esqueleto daquilo que outrora foi um objecto que por certo muito tinha contribuído para pomposos bailes no Salão de Festas da Carlista.
Mais uma vez prevaleceram as excelentes relações com os Corpos Sociais, que compreenderam tudo o que nos havia sucedido.

Bem…. BAILE DA PINHA….já não….Mas quem sabe talvez o do BACALHAU!
Chico Manuel

Março 2017

1ª e 2ª foto - Net
3ª e 4ª - Chico Manel

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