PROTEGER A DEMOCRACIA
Estará a democracia em perigo? Considero que sim. Os elevados
níveis de abstenção, as frequentes expressões “os políticos são todos iguais”,
“votar num ou noutro dará no mesmo” ou “para mim não há diferença entre
esquerda e direita” são indicadores que algo corre muito mal na nossa
democracia.
Não, não acho que os políticos (não seremos todos nós políticos?)
e os partidos são todos iguais, mas alguns partidos e alguns políticos e
eleitos têm contribuído, em grande medida, para este perigoso afastamento entre
os cidadãos e as governações nacionais e locais. Cada vez que se desrespeitam
os programas que foram sufragados ou as promessas feitas dá-se um importante
contributo para uma morte lenta da democracia.
Vejamos o exemplo da governação autárquica em Évora. Em 2013, a
CDU ganhou a Câmara Municipal de Évora com maioria absoluta pondo fim a uma
gestão calamitosa do PS. Muita era a esperança dos eborenses depositada neste
novo ciclo. Os eleitos da CDU apresentavam-se com um programa arrojado e
próximo da população. Passaram quase quatro anos e, infelizmente, as promessas
ficaram na gaveta e a governação próxima tornou-se numa governação opaca e
distante que se traduz, naturalmente, em critérios de gestão muitas vezes
duvidosos.
Atentemos o caso da política para a cultura. A CDU dizia fazer
falta uma “nova gestão que redefinisse a cultura e a educação como vectores
estratégicos para a cidadania, para o desenvolvimento local, para a afirmação
da nossa identidade e para a diferenciação de Évora”, e tanta razão tinham.
Materializavam esta ideia em torno de um grande objectivo: a elaboração e
concretização de um Plano Estratégico Cultural que envolvesse a população e
todos os agentes culturais do concelho. Passados quase 4 anos, o que fica?
Nada, ou melhor fica alguma coisa, mas muito distante do prometido.
As reuniões tidas no início do mandato com todos os agentes
culturais rapidamente se esfumaram (há mais de dois anos que os agentes
culturais não reúnem com o município) e o plano estratégico ficou na gaveta.
Parece não ter sido feito nada, não é? Errado. Foi feito trabalho, trabalho
opaco e sempre com os mesmos agentes culturais. Foi sempre dito que não havia
possibilidade de apoio directo aos agentes culturais, dados os constrangimentos
financeiros, mas era prometida uma nova era, de trabalho conjunto e
participado. O trabalho nunca chegou a ser conjunto, nunca chegou a ser
participado, e passados quase 4 anos fica a clara ideia que a cultura funcionou
sempre em torno de alguns, deixando muitos outros de fora.
O caso do relacionamento financeiro entre o Município de Évora e o
CENDREV é paradigmático. E quero, antes de continuar, reconhecer total mérito
ao CENDREV pelo trabalho que tem desenvolvido no Concelho ao longo de décadas.
Mas o CENDREV não é estrutura única, como não são únicos outros agentes
culturais. Aliás, se atentarmos à maior parte dos agentes culturais do Concelho
veremos que a maior parte vive com a corda no pescoço, sem qualquer apoio
nacional ou local. E enquanto muitos tentam sobreviver, o município de Évora,
no espaço de dois anos, e tendo em conta apenas a informação pública, adjudicou
mais 160 mil euros em serviços ao CENDREV, ao mesmo tempo que dizia a outros
agentes culturais que lhes era impossível apoiá-los.
A política para a cultura, aliás, como a política em geral, não
pode ser a que favorece só alguns, que olha a cores ou amiguismos, que deita
fora promessas e programas de governação. Sim, sei da dureza destas palavras,
mas não chegam a ser tão duras quanto as acções que destroem, diariamente, os
valores da democracia.
Merecemos mais! Sem medo, de cabeça levantada, exijamos isso a
cada dia!
Até para a semana!
Bruno Martins
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