sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

RELEMBRAR

            MEMÓRIAS DO CARNAVAL - Por Chico Manuel
Sempre gostei do Carnaval,
Não porque fosse um danado brincalhão, mas sim por ver que nesses dias as pessoas eram felizes, divertidas, deixavam as tristezas à porta e com mais ou menos sacrifícios nunca faltavam “os fritos” (azevias, filhós, nógados, borrachos) e o respectivo arroz doce.
No meu tempo de menino minha mãe fazia sempre questão de arranjar uma fatiota para eu me mascarar. Emprestada claro. Confesso que era “coisa” que não me agradava (não só pelo desconforto, como pelo cheiro a naftalina que se entranhava nas narinas e comentários que sempre surgiam em termos comparativos.
Adorava isso sim acompanhar a Banda tocando coisas alegres (felizmente hábito que ainda hoje se mantém), as contradanças vindas das Freguesias e à noite ir aos bailaricos em especial a casa da Teonila, onde o Carnaval sempre se comemorava.
Guardo na memória a saída dos foliões sempre da oficina do Mestre Manuel Luís com o “Forma das Caraças” a comandar a troupe. Era lá que também se iniciava na quarta-feira de Cinzas o Enterro do Entrudo, que percorrendo as Ruas da Vila era acompanhado por elementos da Banda.
Contava-se, que numa dessas folias, foram todos presos, porque tiveram a ousadia de acompanhar o morto Entrudo tocando a Marcha Fúnebre, ensaiada para ser estreada na Procissão do Senhor Morto, que se efetuava sexta feira de cinzas.
Já na mocidade relembro os bailes nas respectivas Sociedades: Artística, e Musica. Iniciavam-se Sábado de Carnaval e prolongavam – se pelos quatro dias, com ambas sempre a abarrotar de gente. As matines, mais na Sociedade da Musica, duravam até à hora de começar o baile.
Os tempos entretanto mudaram. As Sociedades desapareceram e com elas os bailes tradicionais.
Com a fundação da Associação dos Bombeiros Voluntários e no intuito de se angariar algum capital os bailaricos de Carnaval voltaram a ser uma realidade no Alandroal.
No casão que servia para albergar as viaturas, foram na altura realizados grandes bailes. Com a casa sempre à cunha, e a preços de entrada simbólicos a função tornava-se divertida, por vezes até em excesso, pelo hábito de usar farinha para esfregar na cara de cada um (enfarinhar).
Felizmente, e nas noites de Sábado e Segunda-feira, com bailes, e Domingos com Matine a tradição continua a cumprir-se.
Recordo no entanto outros Carnavais passados noutras localidades e que me permitiram muitas horas de alegria e francas gargalhadas.
Na Póvoa de Santa Iria, onde vivi os 18/19 anos não esqueço o Enterro do Chouriço, onde a multidão acompanhava o funeral do Entrudo com padre e sacristão (mascarados) que faziam declamação de versos alusivos aos “escândalos locais” parando à porta dos visados, que ainda por cima os obsequiavam.
Também em Reguengos os bailes das Sociedades eram grandiosos, com muitos mascarados e onde num certo Carnaval me vi a contas com a Justiça, pois à falta de melhor serviu-me de máscara a Bandeira Nacional, ao que a G-N.R. não achou muita graça,
Mais recentemente já aqui em Montemor nunca perco as brincadeiras proporcionadas pelos foliões das agremiações recreativas.
Umas vezes os Bombeiros, com alegres divertimentos, outras a Sociedade Carlista, adaptando situações politicas, programas de televisão, situações vividas pela população, satirizam ou na Serração da Velha ou em Mini Peças de Teatro, momentos de verdadeira alegria e onde o riso nos acompanha desde o inicio.
Vejamos este ano o que nos proporciona a “Casa dos Enredos”.
Uma coisa é certa: muitos vão ser os que vão ficar com “as orelhas a arder” – mas é Carnaval ninguém leva a mal.
Tenham então um bom Carnaval e divirtam-se. Vamos pelo menos por três dias esquecer que vivemos num Portugal tristonho e sombrio.


Chico Manuel

1 comentário:

Anónimo disse...


Agradeço a Autenticidade, a Fidelidade e a Sensibilidade do seu texto!

Mais teria a acrescentar, mas por agora, fico por aqui...