domingo, 5 de fevereiro de 2017

DESPORTO - RESULTADOS

                                                                            FUTEBOL
                                                    INATel - Campeonato Distrital
Pardais 0 – Alandroal United 2 
Santiago Maior – Bencatel 
Barbus 2  – Foros F. Seca 1
Montoito 0 – Orada 2 
Bairrense 0 – Stº Amaro 0
                                                Distrital Associação Futebol de Évora
                                                                   Divisão de Elite
Canaviais 5 – Arraiolense 0
Perolivense 3 – Alcaçovense 3
Escouralense 0 – Redondense 3
Vendas Novas 2 – Juventude 0
Lusitano 0 – Lavre 0
Oriola 0 – União de Montemor 1
Monte Trigo 1 - Reguengos 2
                                                                    Divisão de Honra
Giesteira 1 – Santana d Campo 0
Cabrela 2 - Arcoense 2
Estremoz 0 – Corval 1
Cortiço 0 - Portel 2
                                                                         RugbY 
                                                             DIVISÃO DE HONRA
Agronomia 59 - R.C.M. 7

                FALAR E ESCREVER SOBRE  FUTEBOL TAMBEM                                             É (ERA)* CULTURA
                                          Futebol e literatura

«A snobeira é apenas uma outra forma de vulgaridade»
Maria Filomena Mónica (in “Publico)


Desmond Morris (in “A Tribo do Futebol”) constata que “de todos os acontecimentos da história humana, aquele que atraiu maior audiência não foi um grande momento político nem a celebração especial de um feito extraordinário nas artes e nas ciências, mas um simples jogo da bola – um desafio de futebol” – interrogando-se por eu motivo milhares de pessoas praticam esta actividade, e por que motivo milhões de outras pessoas assistem à sua prática – observando que cada clube de futebol estava organizado como uma pequena tribo, com território tribal: admitindo chefes, feiticeiros, heróis, sequazes e outros elementos característicos (referindo, contudo, que – na refrega entre “holigangs” para defender a honra do seu clube – poderá haver ameaças, rituais, insultos, expedições punitivas para expulsar rivais do seu território sagrado ou perto dele, mas raramente se envolvem em luta).
Sabemos que os jogos se ganham com talento, experiência, aptidão – a que se junta a ética, a determinação, a confiança, o desejo, a vontade, a motivação: de onde poderá emergir uma obra humana esteticamente construída na beleza do delinear estético das jogadas, no rasgo de talento dos atletas na posse de bola, ou na “chama” da solução que a miscigenação de inteligência/ habilidade imprimiu, para fazer entrar a bola na baliza contrária: “painel” humano enquadrado pelas emoções, exaltação de sentimentos, agitar de símbolos, palavras de ordem, vozes de vitória e de conformismo ( que faz do fenómeno do Futebol, para além de um tema sociológico, também uma matéria de cultura).
Há opiniões que lamentam o facto de – enquanto os artistas, em geral, e os escritores e poetas, em particular, descem do pódio dos consagrados pelos povos – uma nuvem de vedetas, tantas vezes eivadas de uma mediocridade boçal e paralisante, vestir o fausto dos mitos – entronizada pela persistência dos meios de informação na flacidez cultural das populações: entendendo nós, porém, que essas opiniões pretendem insinuar que o Futebol – afinal, o bode expiatório da não canalização de verbas, boas-vontades e justiça social para uma política de reformas educativas e culturais das sociedades – constitui um fenómeno social abrangente, enquanto mal que governos e ditaduras políticas e do dinheiro persistem em continuar – reconhecendo porém Alberto Mangel,
, que “há uma perseguição aos leitores nos pátios das escolas, como nas repartições governamentais e nas prisões; reconhece-se algo de sábio e frutuoso na relação entre leitor e o livro, mas que também é vista como desdenhosamente exclusiva e exclusivista” (in “Uma História de Leitura”).
Ora, seria então (para essas correntes de opinião) o Futebol o causador dessa perversão de valores sociais? – Perguntamos nós. Se nos lembrarmos que, em tempos não muito recuados, para os escravos, aprender a ler não representava um passaporte para a liberdade, mas antes uma forma de obter acesso a um dos instrumentos mais poderosos dos seus opressores: o livro, teremos a explicação da censura à cultura nos regimes totalitários – na medida em que – “é mais fácil governar um povo obscurecido, que um povo culto”.
Assim Baptista Bastos, numa das suas crónicas lembra-nos que “gritar nos estádios era das poucas coisas que não nos estavam interditas, nesses anos terríveis, em Portugal.
E os dias de futebol eram os dias feriados para sonhar. Os dias em que o futebol nos proporcionava, por duas ou três horas a ilusão esfuziante de que éramos livres.”
Não há conflito entre Futebol e Cultura: o futebol cede matéria temática à criação estética, e alguns dos mais famosos autores contemporâneos amavam (e amam) o jogo, mais do que muitos dos adeptos e muito mais do que os comentadores que, nas secções desportivas, assinam crónicas sobre Futebol: o caso de Carlos de Oliveira, Alexandre o´Neil, João Gaspar Simões, Baptista Bastos, Carlos Pinhão, José Fernandes Fafe, Artur Jorge, José Cardoso Pires, ou Manuel Alegre entre muitos outros; para não falar de cronistas desportivos, que, num nível literário de alto gabarito, elevavam os jornais onde colaboravam (e colaboram) – face ao alto grau de prosa – a um escalão literário que constituía um respeito pela inteligência dos seus leitores: como Neves de Sousa, Aurélio Márcio, Carlos Miranda, Cândido de Oliveira ou Victor Santos.
Cândido Oliveira – sabendo que a apertada censura a que se sujeitava a Imprensa Portuguesa – iludia a Ditadura (como Homem de Esquerda que era), escrevendo belas crónicas na “Bola”, onde – aproveitando a competição de equipas portuguesas em países da Europa desenvolvida – descrevia, em prosa inesquecível, o alto nível de vida, os primores da democracia, o desenvolvimento económico, o cuidado com o património histórico e cultura desses países deixando no ar, a pairar sobre os corações dos Portugueses, a comparação com a nossa “apagada e vil tristeza”).
Alguns dos nossos escritores escreveram mesmo crónicas em jornais desportivos: o caso de Carlos de Oliveira, João Gaspar Simões, Carlos Pinhão, Artur Jorge ou Baptista Bastos.
Ao falar sobre Carlos de Oliveira, Baptista Bastos diz-nos que, entre as suas leituras compulsivas (por deleite e felicidade), contava-se a “Bola” (onde ele apreciava a forma narrativa, o estilo, os temas de Victor Santos, Aurélio Márcio, Carlos Pinhão ou Carlos Miranda).
Por outro lado a força do fenómeno Futebol, não deixou também de transpor para a literatura, matéria do mundo futebolístico: como constatamos na Fotobiografia de Eusébio, na análise da psicologia da vontade imprimida aos atletas do “Varzim”, pelo treinador Meirim, no estudo da preocupação meticulosa (qual condutor de Homens num âmbito empresarial) por parte de José Mourinho na condução do Futebol Clube do Porto e do Chelsea – sem esquecer, entre outros, os poemas (sobre o fascínio estético das trajectórias da bola. À mercê da beleza/habilidade, inspiração, motivação e inteligência nos traçados das jogadas por parte dos atletas do Futebol, dentro das quatro linhas dos estádios – escritos por Manuel Alegre), ou as Memórias de Bolonni em redor da sua passagem pelo Sporting.
A compatibilidade entre estas duas esferas sociais – Futebol e Literatura – advém do facto de ambas possuírem um conteúdo profundamente humano: mundos sociais que se transvazam mutuamente – num enriquecimento ético e cultural do fenómeno do futebol (por um lado), e na transposição temática do fenómeno futebolístico para a literatura, para o jornalismo e para a arte: tendo em mente a ética, a estética, e a felicidade do Homem, através da Cultura (numa promoção de Valores).

José Alexandre Laboreiro

* - Tem destinatário (Só eu sei porque "não te calas")
Chico Manel

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