SÍNDROME DO SACO-DE-PLÁSTICO
Todos sabemos já que o plástico
é uma substância que resulta do progresso tecnológico. Também sabemos que a
tecnologia, graças à investigação científica e à inteligência humana, tende a
evoluir e a aperfeiçoar os seus produtos. Por isto é necessário esclarecer
desde já que o tema desta crónica, ao falar de plástico e sacos-de-plásticos
tem o seu quê de regresso ao passado. É que o que digo refere-se ao tempo em
que pululavam aqueles sacos-plásticos barulhentos, tanto mais barulhentos
quanto mais espesso era o plástico, o que se por um lado lhes reforçava a
resistência, já que os fininhos dificilmente chegavam do supermercado a casa
inteiros, por outro lado feriam como lâminas as mãos de quem os transportava.
Importa também esclarecer que se define síndrome como um conjunto
de manifestações ou condições clínicas de uma ou várias doenças. Uma síndrome
pode, por isso, revelar vários problemas e não apenas um específico a quem dela
padeça. Também me parece que a investigação e terapêutica das síndromes são
cada vez mais, o que também faz, felizmente, com que muitas delas passem
despercebidas ao olhar comum nas sociedades saudavelmente diversas e
integradoras.
Mas a síndrome de que falo hoje é de sentido mais figurado do que
a do campo da medicina, e refere-se a sintomas ou sinais de comportamentos em
sociedade, o que pode ser interessante ter em conta quando nos interessamos por
questões de Cidadania ou Política, dois níveis de uma mesma matéria. Neste
sentido figurado, a síndrome surge como uma situação crítica e causadora de
receio ou insegurança. Infelizmente, mais do que episódios agudos, há síndromes
destas que parecem tornar-se cada vez mais crónicas.
Ora a principal característica desta que chamo “síndrome do
saco-de-plástico” manifesta-se em seres humanos que, numa definição curta e
bastante grosseira mas também certeira, fazem muito barulho mas não prestam
para nada. De acrescentar que o muito barulho pode estender-se para lá do mundo
dos decibéis e resultar em marcas físicas mais evidentes da violência. Podemos
falar de bullies, de fanfarrões, de
provocadores, o que até acaba por ser um diagnóstico muito mais rotulador do
que a ligeira classificação de sofrer da “síndrome do saco-de-plástico”.
De qualquer modo, fica o alerta para o caso de o caro
ouvinte/leitor se cruzar com quem pretende mudar e melhorar o mundo, ou pelo
menos aquele mundo em que vive, e o que até é muito de louvar, mas o faz
esbracejando e gritando muito, prometendo alterações profundas, que normalmente
não explica de forma cabal como, caso estivesse nas suas mãos mudar o estado
das coisas. Parece-se muito e só aparentemente com uma cidadania activa, mas é
apenas uma táctica para convencer todos de que se irá continuar a caminho do
caos se não forem elas ou eles próprios a tomar conta da situação. O problema é
que, vai-se a ver, quando passam para o lado de meter mãos-à-obra esse vento de
mudança sai do saco de fininho e deixa tudo na mesma, se não for pior.
Curiosamente, a língua inglesa tem no seu ousado e rude dicionário
de calão urbano uma expressão que talvez se possa aplicar a casos muito graves
de quem demonstra ter certos sinais desta síndrome, e que também usa o saco
como metáfora. São os chamados douchebag, que eu não vou
traduzir mas que os interessados encontrarão se procurarem num qualquer motor
de busca da Internet, está bem? Até para a semana.
Cláudia Sousa PEreira
Sem comentários:
Enviar um comentário